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A Feira das Religiões Onde Os Pagãos Também Cabem
2004-07-12 21:51:20

Pagãos dos Estados Unidos numa mostra de diferentes credos, expressões e associações religiosas? "Tomámos a palavra pagão do original latino, pagani, que significa os que viviam fora das cidades, nos campos", explica ao PÚBLICO Jerrie Hyldebrand, da associação Pagãos nos EUA. O stand desta organização é um dos que se pode ver na mostra do Parlamento das Religiões do Mundo, que decorre em Barcelona até terça-feira.

"Os pagãos eram pessoas da terra, honradas, que tinham uma relação livre com Deus. Mas a sua fé foi tomada como errada e, em nome de Deus, passaram a ser perseguidos", diz a directora da associação. A seu lado, Drake Spaeth, psicólogo e ministro ordenado do Santuário do Círculo - instituição internacional ligada à espiritualidade da natureza -, acrescenta que os pagãos actuais fazem questão de que cada pessoa mantenha a sua fé. Pode haver judeus pagãos, cristãos pagãos e por aí fora. Importante é essa relação primordial com a natureza. "Acreditamos em nós próprios, no divino, na experiência dos nossos ancestrais", afirma. A responsabilidade é pessoal, por isso não há qualquer governo central dos neo-pagãos, acrescenta o ministro desta associação com 30 anos, mas que reivindica inspiração remota.
Este autêntico supermercado religioso que se mostra junto do anfiteatro onde decorre o parlamento oferece muitas possibilidades de escolha. Há o Curso Internacional de Milagres e a Associação Internacional para a Liberdade Religiosa; o Museu das Religiões do Mundo e a associação dos Fazedores de Paz; também a Igreja Unida da Ciência Religiosa ou o Mundo Maya; o Centro Interconfessional de Oxford e a Federação das Associações Zoroastrianas.
No stand dos japoneses xintoístas Shinji Shumeikai, também se fala da presença de Deus na terra. A agricultura deste grupo é biológica, os produtos são manufacturados. Quatro visitantes estão sentados, de olhos fechados, à frente de outros tantos membros do grupo, que estendem as mãos sobre as cabeças dos visitantes, como que a abençoar, durante três minutos. Toshihiho Yakazi explica que estão a fazer uma cura.
Dá-se a volta e uma mulher do grupo Hare Krishna distribui saquinhos com paus de incenso a quem passa. O stand está logo ali, ao lado da Universidade Brahma para a Espiritualidade Mundial, do grupo hindu Vedanta, da Igreja Cristã Essénia, da Iniciativa Religiões Unidas ou do Centro Budista "Tara".
Também há algumas livrarias. Desde a Claret, uma das mais importantes editoras católicas espanholas, até às publicações The Light, que vieram da Turquia. Kubra Sari, jovem tradutora, diz que a editora nasceu a partir de um grupo ligado a Fethullah Gulen, um mestre espiritual do islão sunita turco. "As pessoas têm muitos preconceitos sobre o islão. O islão e o Alcorão são únicos, mas podem viver-se de muitos modos", diz Kubra, fato branco com uma discreta risca cinzenta clara e, na cabeça, um lenço branco de bolas pretas. O mestre e escritor Gulen procura mostrar como, a partir do texto sagrado e dos "hadit" do profeta, se pode viver o islão da melhor maneira. Aceitando a tolerância e o diálogo inter-religioso. "A nossa preocupação é mostrar que tudo se pode resolver pelo diálogo", diz Kubra.


Devem os meios de comunicação ter um papel activo na promoção do diálogo inter-religioso? A questão esteve em debate num dos painéis do Parlamento das Religiões do Mundo, depois de um dos participantes na sessão plenária a ter formulado em forma de lamento: os media, dizia, não dão notícia das iniciativas de encontro entre crentes de diferentes religiões, apenas contam atentados e violências. Jean-Paul Guétny, director de "Le Monde des Religions" - co-propriedade do grupo "Monde" e de uma editora católica - caracterizava a situação francesa como "paradoxal". Quando o país era dominantemente católico, o noticiário religioso quase não existia; com a secularização, passou a haver uma "cobertura exaustiva do facto religioso". Guétny afirmou que a imagem do islão em França é plural, mesmo se muita gente se aproxima do fenómeno religioso a partir de factos como os atentados cometidos em nome dessa fé. Mas neste caso concreto, diz o jornalista francês, há um "sub-tratamento do islão enquanto fé e um sobre-tratamento" do mesmo enquanto fenómeno violento. Citando o académico suíço Tariq Ramadan, um dos principais vultos do islão europeu, Guétny dizia ser necessário os crentes conhecerem-se "uns aos outros". "As religiões são um mundo complexo e a tarefa [dos jornalistas] é dar a compreender ao mundo essa complexidade", defendeu. Jean-François Mayer, professor na Universidade de Friburgo e responsável da página Religioscope na internet, começou por referir um episódio frequente no parlamento das religiões: "Onde havia véus, turbantes, túnicas de monges, aí havia muitos jornalistas". E acrescentou que "os media querem, por vezes, dizer às pessoas o que elas devem pensar sobre o fenómeno religioso", caminho que não considera correcto. Já em Espanha, Juan Bedoya, responsável pela informação religiosa no "El País", diz que actualmente se verifica "mais diálogo do Estado com as religiões que das religiões entre si".

Fonte Público

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