paroquias.org
 

Notícias






Igreja critica o poder público
2001-03-13 21:29:12

"O Estado assume-se como dono da sociedade civil e apenas tolera que outros também a possam servir. Este esquema já não é mais sustentável". Esta é a opinião do bispo de Vila Real, D. Joaquim Gonçalves, em declarações prestadas ontem ao DN, quando participava numas jornadas promovidas pela Faculdade de Teologia que decorrem na cidade do Porto, alusivas ao tema: "O cristianismo no limiar dos novos tempos."

Instigado pelo jornalista a comentar as últimas iniciativas do Governo e da Assembleia da República, que directa ou indirectamente afectam a Igreja, nomeadamente o corte do subsídio à Universidade Católica, revisão curricular, alteração do protocolo de Estado, e outras, o prelado transmontano foi peremptório em afirmar: "O modo de agir a que assistimos obedece a um esquema cultural que está a rebentar pelas costuras."

Em seu entender, trata-se de um "esquema cultural estatizante" cujo método, segundo as suas palavras, "não cabe na actual cultura democrática". D. Joaquim Gonçalves gostaria, pois, de ver um poder mais aberto à participação da sociedade civil, sem a atitude de se julgar "dono dos dinheiros públicos" para repartir apenas "as migalhas que entende". Neste sentido, adiantou: "O que me dói é que as estruturas do poder político parecem não querer descer da sua arrogância." E sublinhou: "Essa arrogância do Estado não é correcta."

Estas declarações surgem num contexto de umas jornadas de reflexão, que decorrem no Centro Regional do Porto da Universidade Católica, em que também participou o cardeal-patriarca de Lisboa, D. José Policarpo, tendo, no dia anterior, deixado no ar a pergunta: os serviços prestados pela Igreja na sociedade devem ser vistos apenas como supletivos ao Estado? De acordo com D. José Policarpo, há muita gente que assim compreende a participação da Igreja nas estruturas sociais.

Mas, em sua opinião, os defensores desta tese são apenas os laicistas ditadores que atribuem ao Estado um papel açambarcador de toda acção social, sem espaço para a participação da sociedade civil.

Segundo o cardeal, Estado e sociedade não são a mesma coisa, sendo o único objectivo do primeiro servir, tendo sempre como referência a segunda. Por outras palavras, isto significa que é a sociedade que define o Estado, e não o contrário.

De acordo com as suas palavras, a sociedade tem o direito de ser servida pelo Estado que mais lhe convém. Preocupante, para D. José, é o facto de, na sociedade portuguesa, estarem actualmente a recuperar termos como "ética republicana", querendo com isso dizer que laicidade é sinónimo de ausência de valores.

Para o patriarca de Lisboa, a neutralidade do Estado é um factor positivo, mas não lhe é permitido relegar para segundo plano os valores que inspiram a sociedade.

Fonte DN

voltar

Enviar a um amigo

Imprimir notícia