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Beatificação da Irmã Alexandrina Promete Encher Balazar de Peregrinos
2003-12-28 11:22:47

A promulgação, pelo Papa, de um decreto que reconhece a ocorrência de um milagre por intercessão da Irmã Alexandrina abre caminho à beatificação de Alexandrina Maria da Costa, por quem muitos católicos nortenhos nutrem uma profunda veneração.

A beatificação deverá ocorrer no primeiro trimestre do próximo ano, numa cerimónia em que estará presente o topo da hierarquia da arquidiocese, nomeadamente o arcebispo-primaz de Braga, D. Jorge Ortiga. Este garante que, por essa altura, será preparada uma jornada de informação e sensibilização da comunidade católica, nomeadamente com a organização de uma peregrinação a Roma.

Devido a uma falha protocolar, D. Jorge Ortiga esteve ausente da sessão de promulgação do decreto ocorrida, no passado dia 19, no Vaticano, com a presença do Papa João Paulo II.

Domingos Araújo, arcipreste da Póvoa de Varzim e Vila do Conde, crê que a arquidiocese vai "mobilizar-se em força", mas o próprio arciprestado pretende "movimentar" as respectivas comunidades.

"Uma das ideias que tenho é realizar uma semana cultural onde sejam dados a conhecer estudos sobre a Irmã Alexandrina, de que muitos falam mas poucos conhecem quem foi e o seu significado", revelou.

A notícia do reconhecimento do "milagre" foi recebida com "grande alegria" em Balazar, Póvoa de Varzim, a terra onde nasceu a Irmã Alexandrina. Em declarações ao PÚBLICO, o presidente da junta de freguesia, Lino Araújo, qualifica de "um dia histórico" a promulgação de decreto pelo Vaticano e antevê um aumento de peregrinações à sua terra.

"Desde que a Irmã Alexandrina foi declarada venerável [1996] verificou-se um aumento de peregrinos e estou convencido que a afluência vai disparar", prognostica o autarca, que, por esse motivo, pretende reunir-se com a arquidiocese e com a câmara municipal para acertarem obras na freguesia.

Novos acessos, um santuário

Lino Araújo frisa que Balazar necessita de parques de estacionamento, zonas de lazer e novas acessibilidades, nomeadamente a criação de um nó no lanço da auto-estrada Póvoa-Famalicão (A7). Esse nó não está previsto no projecto da A7, apesar de um conjunto de freguesias vizinhas, da câmara e Assembleia Municipal da Póvoa de Varzim já terem protestado junto do Ministério das Obras Públicas. "É mais um motivo para aumentarmos a pressão. O nó será essencial para corresponder ao fluxo de peregrinos", refere.

Da mesma forma, Domingos Araújo considera que em Balazar faltam "apoios logísticos da Igreja e estruturas civis" para acolher a afluência das pessoas, que terá "maior incidência". "O processo é irreversível e só foi pena essas estruturas não terem sido já postas em marcha", defendeu o arcipreste.

De facto, todos os fins-de-semana são muitos os fiéis que se deslocam a Balazar de autocarro ou, como está intrincado na fé da comunidade piscatória da Póvoa e Vila do Conde, a pé, percorrendo, ao longo de 12 quilómetros (distância entre a sede do concelho e a freguesia), a margem da estrada nacional 206 (Póvoa-Famalicão).Vão à procura da concessão de graças ou cumprindo promessas e persignam-se, junto ao túmulo da "irmã Alexandrina", ou a "crucificada de Balazar", que repousa na igreja local, perto do sacrário.

Contactado pelo PÚBLICO, o presidente da câmara da Póvoa de Varzim frisou que a autarquia já previa a possibilidade de ocorrer um acréscimo de visitantes a Balazar e, por causa disso, reservou no Plano Director Municipal a possibilidade de ser alargada a área destinada ao culto, na proximidade da igreja.

"Com o tempo vai surgir ali um santuário", prevê Macedo Vieira, que pretende candidatar a requalificação urbanística do centro de Balazar a verbas da zona de jogo a que a autarquia tem direito e que são geridas pelo Instituto do Fomento do Turismo. "O turismo religioso vai ser uma realidade e agora [com a promulgação do decreto] a candidatura às verbas ganha mais força", disse.

Quem é a Irmã Alexandrina?

Alexandrina Maria da Costa nasceu em 30 de Março de 1904 e, com 14 anos de idade, lançou-se de uma janela tentando escapar de uma potencial violação por um homem que se tinha introduzido na sua residência. Essa queda de uma altura de quatro metros causou-lhe mazelas e, depois de anos de tratamentos, acabou por ficar paralisada quando tinha 19 anos. Nunca mais deixaria o leito e aos 30 anos principiou - como "provação do amor a Cristo" - um jejum completo que duraria até à hora da morte (1955), apenas se alimentando da "hóstia consagrada".

Esta falta de nutrição levantou dúvidas na comunidade científica e, em 1943, chegou a estar vigiada, 24h por dia, no Refúgio de Paralisia Infantil, na Foz do Douro, no Porto, mas os médicos concluíram, ao fim de 40 dias de "absoluta abstinência de sólidos e de líquidos", que ela mantinha "o peso, temperatura, respirações, tensões, pulso, sangue e faculdades mentais, sensivelmente normais, constantes e lúcidas".

Alexandrina, segundo os seus próprios relatos, teve, sob a forma de "êxtases", mais de um milhar de contactos com Jesus Cristo, normalmente às sexta-feiras ou nos primeiros sábados de cada mês, através dos quais obteve o paradigma para o resto dos seus dias: "Sofrer, amar, reparar."

A sua situação tornou-se famosa junto da comunidade católica e muitos fiéis visitaram-na no pequeno quarto onde permanecia imóvel e transmitia palavras de conforto e de exaltação à devoção. Segundo documentos da época, em 1953 chegou a receber seis mil pessoas num só dia e, quando morreu, a romagem à sua casa, segundo relatou o "Comércio do Porto", atingiu proporções gigantescas: "Desde as treze horas de ontem até às nove da manhã de hoje desfilou sucessivamente na câmara ardente uma compacta multidão", descrevia o diário.

O pároco da freguesia de Balazar, Francisco Azevedo, mostrou-se radiante pela decisão do Vaticano, já que, nos últimos 47 anos, defendeu a "colocação da Irmã Alexandrina nos altares". É que, de acordo com os cânones católicos, a beatificação permite a colocação da sua imagem nos altares, mas a Irmã Alexandrina só será declarada santa se houver a confirmação de mais milagres para além do que, no passado sábado, foi reconhecido no decreto papal. Este milagre terá beneficiado uma mulher com 58 anos, residente em Vila Nova de Famalicão, que durante anos sofreu a doença de Parkinson e, em 1996, terá sido curada por intercessão da Irmã Alexandrina.

Fonte Público

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