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Teólogo Condenado pelo Vaticano Fala em Lisboa pela "Democratização Radical" da Igreja
2003-11-30 16:54:14

A "democratização radical da organização eclesiástica" é um dos desafios que, hoje à tarde, o teólogo Juan José Tamayo-Acosta, lançará durante uma conferência no Centro Nacional de Cultura (CNC), em Lisboa.

Tamayo foi condenado em Janeiro pela Congregação para a Doutrina da Fé (CDF), do Vaticano, organismo presidido pelo cardeal Joseph Ratzinger. A partir das 17h00, o teólogo, que é também secretário-geral da Associação de Teólogos João XXIII, falará sobre "O futuro da Igreja Católica - perspectivas e expectativas".
Em declarações ao PÚBLICO, Tamayo defende que, "quarenta anos depois do Concílio [Vaticano II], torna-se necessário o início de um processo conciliar em que participe todo o povo de Deus e se analisem os grandes desafios que o cristianismo hoje enfrenta". Entre esses desafios, afirma, estão "a reforma da Igreja e a democratização radical da organização eclesiástica". Também a inclusão das mulheres em "funções directivas, no exercício dos ministérios eclesiais" e na "elaboração da moral em todos os campos" são outras questões que o teólogo espanhol, nascido em 1946, considera importantes.

Convidado pelo CNC, movimento Nós Somos Igreja e editora Multinova, Tamayo defende que esse processo deveria desembocar num "grande concílio", com a participação não só de "notáveis do clero, dos bispos e da Cúria Romana, mas de representantes do povo de Deus com capacidade de decisão, e não apenas de consulta". Considerando que a reforma da Igreja "é possível e é necessária", o teólogo diz que a instituição deve "mudar o seu rumo, se quer caminhar ao ritmo da história".

No centro da condenação do teólogo pelo Vaticano, está um livro de Juan Tamayo, "Dios y Jesus", publicado há três anos pela Editorial Trotta, de Espanha. Numa nota da comissão dos bispos espanhóis para a Doutrina da Fé, que sintetizava o conteúdo do documento da CDF e foi entregue ao próprio em Janeiro, afirmava-se que as ideias de Tamayo são "uma versão renovada do antigo erro ariano: negação da divindade de Jesus Cristo, a apresentação de Jesus como um mero homem, negação do carácter histórico e real da ressurreição, e desta como dado fundamental da fé cristã".

A nota não esquece toda a restante actividade do teólogo, que tem 35 livros publicados, além de centenas de textos dispersos. O aparecimento regular de textos ou entrevistas de Tamayo nos meios de comunicação - escreve regularmente no diário espanhol "El País", por exemplo - leva a hierarquia a dizer que "é necessário informar que, na actualidade, o autor carece de missão canónica para ensinar teologia e não exerce a docência em nenhum centro superior da Igreja".

Os argumentos do Vaticano são rejeitados por Tamayo. Numa carta enviada ao secretário da Conferência Episcopal Espanhola, o bispo auxiliar de Toledo, Juan José Asenjo Pelegrina, o teólogo condenado contesta o facto de os seus escritos terem sido investigados durante três anos pelo Vaticano, sem nunca ter sido ouvido. "Em nenhuma das páginas do meu livro nego ou questiono a divindade de Jesus Cristo nem da ressurreição." As conclusões retiradas pelo Vaticano são fruto de uma leitura "incorrecta e enviezada", que conduz a "acusações graves" contra o seu pensamento. Essas acusações é que parecem, considera Tamayo, "contrárias ao espírito evangélico e ao rigor científico e estão causando" ao próprio "graves danos que requerem reparação".

Fonte Público

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