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CARDEAL RATZINGER APONTA MALES DA EUROPA
2001-03-06 20:29:23

O cardeal Joseph Ratzinger defendeu ontem, no Porto, que a Europa não é nenhum continente geograficamente evidente, mas trata-se de um conceito cultural e histórico. Referindo-se longamente à influência histórica dos valores cristãos no conceito de Europa, o cardeal alertou para alguns problemas que ameaçam hoje a identidade europeia.

O Prefeito da Sagrada Congregação da Doutrina da Fé, que discursou na abertura das Jornadas de Teologia da Faculdade de Teologia da Universidade Católica, a decorrer durante três dias, historiou as raízes e valores cristãos que contribuíram para a "formação" da Europa. Detendo-se na análise da Carta dos Direitos Fundamentais da União, apontou-lhe insuficiências na defesa da Família e do Matrimónio. Igualmente se referiu aos fenómenos das manipulações genéticas, aprovisionamento e utilização de órgãos humanos, área em que, em seu entender, existe "um enfraquecimento silencioso da dignidade humana". E também a exigência "das comunidades de vida homossexuais" foram objecto das suas apreciações. Sobre a Carta dos direitos Fundamentais, assinada em Outubro de 2000 pelos chefes de Estado e de Governo da União, o cardeal da Santa Sé afirmou que ela pode ser "um primeiro passo na busca consciente da alma da Europa", não deixando contudo de anotar insuficiências quer no que se refere à protecção especial jurídica ou moral para a família e o matrimónio, quer à insuficiência quanto ao "respeito para aquilo que para o outro é sagrado, e sobretudo o respeito pelo sagrado, por Deus, respeito esse muito razoável mesmo para aquele que não está preparado para acreditar em Deus". Fazendo o ponto de situação actual ("Onde estamos hoje?" - perguntou), Ratzinger referiu-se a diversos fenómenos, designadamente às manipulações genéticas, à utilização de fetos e aprovisionamento de órgãos que a seu ver "redundam no enfraquecimento silencioso da dignidade humana" e "em novas formas de escravatura". O cardeal da Santa Sé disse que "actualmente quase ninguém desmente directamente a precedência da dignidade humana e dos direitos humanos fundamentais face às decisões políticas - os horrores do nazismo e os seus ensinamentos estão ainda muito vivos. Mas, no campo concreto dos assim chamados progressos da medicina, deparamos com ameaças reais a estes valores." Sobre a clonagem e o aprovisionamento de fetos humanos para fins de pesquisa e de doação de órgãos, afirmou: "Surge em grau crescente o comércio humano, novas formas de escravatura e o tráfico de órgãos humanos para fins de transplantes. São sempre apresentadas boas intenções para justificar aquilo que é injustificável. Nestes sectores existem algumas afirmações felizes na Carta dos Direitos Fundamentais, mas em pontos importantes permanece demasiado vaga, pois exactamente aqui trata-se da emergência do próprio princípio".

Família e matrimónio

Ainda sobre a Família e o Matrimónio, disse o cardeal que "a Europa não seria mais Europa se estas células básicas desaparecessem do seu sistema social ou fossem alteradas na sua essência" e por isso "sabemos todos como o matrimónio e a família são postos em perigo - por um lado pelo escavamento da sua indissolubilidade através da ligeireza das novas formas de separação, por outro lado através de comportamentos cada vez mais em voga, a vida em comum de homem e mulher sem a devida forma jurídica do matrimónio". Foi neste contexto que Ratzinguer se referiu "às exigências de comunidades de vida homossexual que paradoxalmente exigem uma forma jurídica que mais ou menos se assemelha à família". Comentou que "com esta tendência retiramo-nos de todo o conjunto da história moral da humanidade, a qual, apesar das diferentes formas legais do casamento, sempre soube que a sua essência sempre residiu na vida conjunta entre homem e mulher, vida essa que se abre aos filhos e assim às famílias". E finalizou: "Aqui não se trata de discriminação, mas de saber o que é que a pessoa é como homem e mulher e como é que o convívio entre um homem e uma mulher pode ser formado de maneira justa" "Quando por um lado a vida em comum prescinde de formas legítimas, e quando as comunidades homossexuais são equiparadas à própria família, estamos diante de uma dissolução da imagem da pessoa humana, cujas consequências não podem deixar de ser gravosas", apontou Ratzinguer, que considera haver sobre isto a falta de "uma clara palavra na Carta".

Fonte CM

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