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Limitar a tolerância para a preservar
2001-03-06 20:26:07

Cardeal Ratzinger alertou, no Porto, para o silencioso enfraquecimento da dignidade humana.

Considera o cardeal Joseph Ratzinger, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, que "a tolerância não deve ir ao ponto de permitir o seu próprio aniquilamento". Diz isso reportando-se aos princípios de liberdade religiosa que emanam da Carta Europeia dos Direitos Fundamentais, salientando que os limites da tolerância são encontrados "quando a liberdade conduz à destruição da liberdade, alimentada por inimigos da liberdade e ideologias inumanas".
Ratzinger esteve no Porto para colaborar na abertura das Jornadas de Teologia da Universidade Católica Portuguesa, que se estendem até amanhã. Escolheu como tema para a sua palestra "Europa, os seus fundamentos espirituais ontem, hoje e amanhã".
Europa é algo que, expô-lo Ratzinger metodicamente, cresceu com base em movimentos religiosos. E entrou, considera, num rumo que leva à extinção dos seus valores de base: "Será a cultura europeia o triunfo a nível mundial da civilização da técnica e do comércio? Ou não será ela, em vez disso, pós-europeia, tendo nascido após o fim das antigas culturas europeias?".
O cardeal apelida de "verdadeira catástrofe" a herança dos sistemas comunistas, por constituir, a seu ver, a "devastação dos espíritos" e a destruição da consciência moral": "Estes são ainda e sempre os nossos problemas e podem conduzir à autodestruição da Europa".

Família em perigo
Foi a análise à Carta dos Direitos Fundamentais, aprovada no ano passado pelos chefes de Estado e de Governo da União Europeia, que constituiu o fulcro da prelecção de Joseph Ratzinger, no sentido de o documento estar, ou não, apto a "dar às instituições económicas da Europa também um meio espiritual".
"Importante é o facto de estar afirmada como valor a absoluta incondicionalidade da dignidade e dos direitos da humanidade", sublinha o cardeal, para quem faz sentido não haver referência explícita a Deus, no sentido de não ser o Estado a ditar "um qualquer convencimento religioso", mas segundo o qual há um conceito que deveria ter sido tido em conta: "O respeito por aquilo que para o outro é sagrado, por Deus, respeito esse muito razoável mesmo para aquele que não está preparado para acreditar em Deus".

Ameaças reais
Há, ainda, aspectos em que Ratzinger considera a Carta "demasiado vaga". Reporta-se ao que diz serem "ameaças reais" aos valores da dignidade humana: "Se pensarmos na clonagem, no aprovisionamento de fetos para fins de pesquisa e de doação de órgãos, em todos os domínios da manipulação genética, não passa despercebido a ninguém o enfraquecimento silencioso da dignidade humana".
Ratzinger mostrou-se também crítico em relação à forma como é encarada a família. "Sabemos todos como o matrimónio e a família são postos em perigo _ por um lado pelo escavamento da sua indissolubilidade, através da ligeireza de novas formas de separação, por outro lado, através de comportamentos cada vez mais em voga, a vida em comum de homem e mulher sem a devida forma jurídica do matrimónio", diz Ratzinger, que aponta também o dedo às "exigências de comunidades de vida homossexual, que, paradoxalmente, exigem uma forma jurídica que mais ou menos se assemelha à família".
"Com esta tendência _ opina Ratzinger _, retiramo-nos de todo o conjunto da história moral da humanidade". E nota que falta na Carta uma palavra sobre a equiparação crescente das "comunidades homossexuais" à família, quando essas são, para ele, "uma dissolução da imagem da pessoa humana, cujas consequências não podem deixar de ser extremamente gravosas".


Fonte JN

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