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A MADRE TERESA SOUBE AMAR E DIZÊ-LO COM A SUA VIDA
2003-10-21 14:04:13

A opinião do Irmão Roger de Taizé sobre a Madre Teresa

Vivemos num mundo onde coexistem a luz e as trevas. Através da sua vida Madre Teresa convidava a escolher a luz. Ela abriu deste modo um caminho de santidade para muitas outras pessoas. Por isso seremos muitos na Praça de São Pedro, hoje, dia 19 de Outubro, a alegrarmo-nos que o Papa João Paulo II, ao beatificá-la, proponha o seu exemplo aos cristãos.
Madre Teresa tomou acessíveis estas palavras que Santo Agostinho escreveu, quatro séculos depois de Cristo: "Ama e di-lo com a tua vida."Antes de mais, é quando a confiança em Deus é vivida que ela se torna credível e se comunica.
Tive várias vezes a oportunidade de conversar com Madre Teresa. Era possível, com frequência, discernir nela reflexos da santidade de Cristo.
No Verão de.1976 Madre Teresa visitou Taizé. A nossa colina estava cheia de jovens, vindos dos mais diversos países. Escrevemos juntos uma oração: "Ó Deus, Pai de cada ser humano, tu pedes a todos nós que levemos o amor aonde os pobres são humilhados, a reconciliação aonde os homens estão dilacerados, a alegria aonde a Igreja é abalada... Tu abres-nos este caminho para que sejamos fermentos de comunhão em toda a família humana."
No mesmo ano, fui viver durante algum tempo, com alguns dos meus irmãos, entre os mais pobres de Calcutá. Ficámos instalados perto da casa de Madre Teresa, num bairro pobre, barulhento, repleto de crianças, em que a: maioria da população era muçulmana. Fomos acolhidos por uma família cristã, cuja casa se encontrava numa encruzilhada de ruelas, pequenas lojas e modestas oficinas!
A Madre Teresa vinha frequentemente rezar connosco. À tarde; por vezes, pedia-me para a acompanhar nas visitas aos leprosos, que já só esperavam a morte. Ela procurava apaziguar as suas quietudes.
Por vezes, Madre Teresa tomava iniciativas muito espontâneas. Um dia, quando regressávamos de uma visita aos leprosos, disse-me no carro: "Tenho um pedido a fazer-lhe. Diga-me que sim!"Antes de lhe responder tentei saber do que se tratava, mas ela repetia: "Diga-me que sim!"Por fim explicou: "Diga-me que doravante trará o hábito branco durante todo o dia. É um sinal necessário nas situações do nosso tempo." Eu respondi: "Está bem. Vou falar com os meus irmãos e sempre que possível porei o hábito. Então pediu às suas irmãs para me fazerem um hábito branco e ela própria quis coser uma parte.
Madre Teresa tinha uma atenção especial pelas crianças. Sugeriu-me que fosse todas as manhãs a uma casa para crianças que não tinham esperança de sobreviver, comum dos meus irmãos que é médico, para tratarmos das que estavam mais doentes, Desde o primeiro dia, reparei numa menina de quatro meses. Disseram-me que ela não teria forças para resistir aos vírus do Inverno. E Madre Teresa disse-me: "Leve-a para Taizé. Lá ela poderá receber o tratamento de que precisa."
No avião, durante a viagem de regresso a França, a criança, chamada Marie, não estava nada bem: Quando chegámos a Taizé, pela primeira vez ela começou a tagarelar como uma criança feliz. Nas primeiras semanas, dormia muitas vezes ao meu colo enquanto eu trabalhava. Depois, pouco a pouco, foi recuperando as forças; Foi então viver numa casa próxima da nossa. A minha irmã Geneviêve, que anos antes tinha acolhido outras crianças em Taizé como se fossem seus filhos; recebeu-a em sua casa. Sou o seu padrinho de baptismo e tenho por ela um amor de pai;
Alguns anos mais tarde, Madre Teresa voltou a Taizé num domingo de Outono. Durante uma oração, expressámos juntos uma preocupação que hoje permanece actual: "Em Calcutá há sítios visíveis onde as pessoas morrem, mas, em numerosos países, há muitos jovens que se encontram em sítios invisíveis onde as pessoas também morrem. Estão marcados por fracturas, por rupturas afectivas ou pela inquietação em relação ao seu futuro. Neles a inocência da infância ou da adolescência foi ferida por situações de ruptura; A1guns deles, desanimados, questionam-se: Para quê viver? A vida ainda terá sentido?"
Em 1984, eu e Madre Teresa fomos convidados pela Santa Sé para a abertura das primeiras Jornadas Mundiais da Juventude, em Roma. Devíamos falar no Coliseu, alternadamente. A pequena Marie, na altura com oito anos, também lá estava. O vento do início da Primavera soprava tão forte que eu tinha que a manter bem protegida pela sua capa, para que não apanhasse frio. Com o seu espírito, vivo e atento, também ela nos queria ouvir.
Mais tarde, fomos novamente convidados para animarmos juntos uma oração nas Jornadas Mundiais da Juventude, desta vez nos Estados Unidos, em Denver. Porém a Madre Teresa já estava doente. Quando lá cheguei soube que ela tinha tido que anular a sua viagem. Enviou-me então uma carta onde dizia: Escrevamos juntos um quarto livro!"
Com dois dos meus irmãos, fui a Calcutá para participar nas suas exéquias. Queríamos dar graças a Deus pela sua vida oferecida e cantar com as suas irmãs, em espírito de louvor junto do seu corpo, lembrava-me que tínhamos em comum esta certeza: a comunhão com Deus estimula a aliviar o sofrimento humano. Sim, quando ajudamos as outras pessoas nas suas provações é Cristo que encontramos. Não é ele que nos diz: "O que fizerdes aos mais pequeninos é a mim, Cristo, que o fazeis"?

O IRMÃO ROGER É O FUNDADOR DA COMUNIDADE MONÁSTICA DE TAIZÉ (FRANÇA), QUE REÚNE MONGES CATÓLICOS E DE DIVERSAS ORIGENS PROTESTANTES.

Fonte Público

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