paroquias.org
 

Notícias






Apelo de Paz dos participantes no Encontro "Guerra e Paz, religiões e culturas encontram-se"
2003-09-11 20:46:33

No início deste milénio, marcado pela esperança e pelo medo, nós, homens e mulheres de diferentes religiões vindos de tantas partes do mundo, juntámo-nos em Aachen para invocar o grande dom da paz de Deus: a paz que a humanidade, tantas vezes, não consegue oferecer a si própria.

No coração da Europa olhámos para as esperanças de paz e justiça do mundo, questionámo-nos sobre as nossas responsabilidades. Fomos confrontados com o sofrimento do Sul do mundo e das guerras esquecidas, das vítimas do terror e do medo que causa violência, de um planeta empobrecido e violado por uma exploração que consome tudo, mesmo o nosso futuro comum.
Os apelos dos prisioneiros e daqueles que conheceram apenas a violência e as guerras sem fim desde a sua infância chegaram até nós. Experimentámos o profundo pessimismo que surge das raízes deste novo século.
As vozes e choros tantas vezes silenciados de milhões de pessoas pobres que não têm medicamentos, segurança, liberdade, terra, água, direitos humanos fundamentais, essas vozes e choros vieram até nós.

Concentrámo-nos deliberadamente nas nossas tradições religiosas, nos nossos livros sagrados, escutando Deus. Ele fala de paz. Nós meditámos e rezámos, sentimos a necessidade de sermos melhores, encontrando a paz connosco mesmo.
Para os crentes a paz não é apenas um compromisso com o mundo, mas também um dom que se procura nos nossos corações. A paz está no interior das nossas tradições religiosas, a paz é o nome de Deus.
Procurámos ouvir não só a nossa dor, mas também a dor do outro. É por isso que hoje, sem desanimar, escolhemos resolutamente renovar o difícil caminho do diálogo num mundo que parece preferir o conflito.

O diálogo leva à paz. O diálogo é uma arte que nós afasta do pessimismo com vistas curtas dos que dizem ser impossível viver juntos, declarando que os males que sofremos nos condenam a um ódio sem fim. O diálogo é caminho que pode salvar o mundo da guerra.
Redescobrimos o orgulho do diálogo. E o diálogo é uma arte que devem cultivar as religiões, as culturas, quem tem mais força e poder no mundo.
O diálogo não é a opção dos que têm medo, dos que têm medo de combater. Não debilita a identidade de ninguém. Leva cada homem e mulher a ver o melhor e a dar o melhor de si.
O diálogo é um remédio que cura as feridas e que abre ao único destino possível, para os povos e para as religiões. Viver juntos neste planeta que devemos defender e fazer mais digno que hoje para as gerações futuras.

A quem crê que o choque de civilizações é inevitável dizemos: libertai-vos deste pessimismo opressor, que cria um mundo de muros e de inimigos, onde se faz impossível viver seguros e em paz. A arte do diálogo esvazia, com o passar do tempo, inclusive as razões do terror e ganha terreno diante da injustiça, que cria ressentimentos e violência.
A quem crê que o nome de Deus pode ser usado para odiar e fazer a guerra, dizemo-lhe que o nome de Deus é paz. As religiões não justificam nunca o ódio e a violência. O fundamentalismo é a enfermidade de todas as religiões e culturas, porque nos converte em prisioneiros de uma cultura do inimigo, separa dos demais e valoriza mais a violência que a paz.
A quem continua matando e semeia o terrorismo ou faz a guerra em nome de Deus, repetimos: «Detenha-se! A violência é um fracasso para todos! Discutamos e Deus nos iluminará!».

Em Aachen, sentimos a necessidade de uma Europa capaz de ser mais aberta ao Espírito. Sentimos a necessidade de uma Europa capaz de viver com o sul do mundo, de ser expressão de uma democracia atenta aos direitos humanos, para oferecer a sua contribuição decisiva no Terceiro Milénio.

Desde Aachen dirigimos a Deus uma oração profunda e pela paz. Que Deus conceda a todos os homens e a todas as mulheres, a todos os governantes, a paciência do diálogo, de amplas visões e ao mesmo tempo realista: que liberte cada um da ilusão da guerra purificadora. Deus é mais forte do que aquele que quer a guerra, mais forte do que aquele que cultiva o ódio, mais forte do que aquele que vive de violência.

Que Deus conceda finalmente ao nosso século o dom da paz.

Aachen, 9 de setembro de 2003

Fonte Ecclesia

voltar

Enviar a um amigo

Imprimir notícia