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Mestre dos Dominicanos Confirma Aposta no Diálogo Inter-religioso
2003-09-09 20:18:34

Bem disposto, brincalhão - é capaz de imitar vozes conhecidas, como a do Papa João Paulo II -, o mestre da Ordem dos Pregadores, ou Dominicanos, regressa hoje a Roma, depois de alguns dias de visita canónica à província portuguesa dos padres pregadores, uma das 55 em que se dividem os 6500 frades da ordem fundada por São Domingos de Gusmão há oito séculos.

Em Portugal, frei Carlos confirmou as intenções dos seus confrades investirem mais nas áreas do diálogo inter-religioso, da catequese de adultos e da promoção da justiça e paz. Mas tem "pena" que não se construa em Lisboa a nova igreja e o centro cultural de São Domingos, previstos no projecto inicial do convento, e cujos atrasos, queixam-se os dominicanos portugueses, se ficarão a dever à burocracia camarária.

Em conversa com jornalistas, frei Carlos Azpiroz Costa, 47 anos, argentino, falou do modo como vê a ordem que dirige desde Julho de 2001, quando foi eleito para suceder ao inglês Timothy Radcliffe. "Tenho esperança, porque vejo muita vontade de viver como São Domingos." Envolvidos em actividades que vão desde a catequese e a pregação até à investigação bíblica, cultura, defesa dos direitos humanos ou meios de comunicação, os dominicanos vivem muitas experiências que já deixaram Carlos Costa impressionado, nas 47 visitas que efectuou desde que foi eleito.

O mestre (título do superior da ordem) dos pregadores cita três exemplos: no Iraque, os seis frades que ali vivem (além de 250 religiosas, 95 por cento das quais iraquianas), renovaram o convento há dois anos, quando a tensão internacional já aumentara. "Manifestamos que queremos ficar aqui e não estamos de passagem", respondiam a quem perguntava para quê construir um edifício que poderia ser destruído.

Na Colômbia, há uma comunidade de frades que vive numa zona disputada pela guerrilha, militares e paramilitares. "Estão entre a vida e a morte, às vezes limitam-se a recolher cadáveres, mas sujeitam-se, com isso, a ser mortos também." É que quem pega num cadáver é identificado com as ideias do morto... E em Angola, conta ainda, os dominicanos dinamizaram o Centro Mosaico que, durante a guerra civil, "apostava na defesa da paz" e investigava o "porquê e as causas da guerra".

Oriundo da América Latina, é inevitável saber o que pensa da situação actual da Igreja Católica no continente, depois da teologia da libertação e das pressões do Vaticano para que essa linha fosse abandonada. "Há um tempo para tudo", responde, citando a Bíblia, e a teologia da libertação "cumpriu a sua função". E recordou Gustavo Gutiérrez, o "pai" dessa corrente teológica, que se tornou dominicano há pouco tempo.

Democracia do século XIII

A Ordem dos Pregadores, fundada por Domingos de Gusmão em 1216 - quase há 800 anos - funciona em democracia desde o século XIII, diz frei Carlos Azpiroz Costa, actual mestre dos dominicanos. Dividida em 55 províncias, presente em 103 países, com 6500 frades (dos quais 25 por cento estão em formação e 10 por cento não são padres), a ordem abrange ainda 3200 monjas de vida contemplativa, e relaciona-se com as 42 mil freiras de várias congregações dedicadas a trabalho social e com cem mil "leigos dominicanos" - cristãos que vivem sob a inspiração da espiritualidade dominicana.

As vocações estão em crescimento, afirma o mestre dominicano. Como exemplo, cita os Estados Unidos onde, há dois anos, havia 38 noviços na ordem. Em Agosto passado, "apesar da crise que vive a Igreja Católica" no país, passaram a ser 50. Mas frei Carlos não se angustia com o problema: "Houve momentos de muitas vocações na ordem, que não foram de alta qualidade."

As decisões mais importantes da ordem são tomadas pelo capítulo geral, que se realiza de três em três anos, mas nunca reúne os mesmos participantes: os provinciais (superiores das províncias) alternam com delegados eleitos propositadamente e com outros frades. "O sistema de governo é uma espiritualidade", resume frei Carlos Costa.

Nascido em 1956 em Buenos Aires (Argentina) em 30 de Outubro - "o mesmo dia de Diego Maradona" - Carlos Azpiroz Costa é o oitavo de 14 irmãos (13 homens - o mais novo dos quais padre jesuíta - e uma mulher), e tem 31 sobrinhos. Ingressou na ordem em 1980, sete anos depois foi ordenado padre, tendo desempenhado diversos cargos como professor de teologia e responsável de vários serviços eclesiásticos. Antes de ser eleito mestre, tinha sido nomeado procurador (administrador) da ordem em 1997.

Fonte Público

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