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Faculdade de Teologia: uma escola para a sociedade
2003-08-28 23:42:49

A institucionalização em Portugal do estudo da Teologia ao nível universitário está ligada à criação e desenvolvimento da Universidade Católica. Por outro lado, se a principal função do estudo da Teologia é a formação de novos sacerdotes, ela assume-se cada vez mais como componente da formação do fiéis cristãos.

É neste contexto que, ao terminar um ano lectivo e ao preparar o início de outro, propusemos ao Director Adjunto da Faculdade de Teologia da Universidade Católica no Porto, o Professor e Cónego Jorge Teixeira da Cunha (JTC), nosso estimado colaborador, uma reflexão sobre a história, o sentido e as expectativas da Faculdade de Teologia. Claro que falamos do caso portuense, mais as reflexões devem alargar-se a outros centros universitários e às dimensões da Igreja portuguesa.



Um pouco de história
VP – Quer recordar brevemente o aparecimento da Faculdade de Teologia no Porto?

JTC - A Faculdade de Teologia (FT) da Universidade Católica Portuguesa foi fundada, no Porto, em 1987. Integrou alunos e professores do Instituto de Ciências Humanas e Teológicas. Começou então a leccionar a licenciatura em teologia, sobretudo para candidatos ao sacerdócio e para algumas outras pessoas interessadas. Passados dois anos abriu a licenciatura em Ciências Religiosas, em regime pós-laboral, com o objectivo de formar leigos e docentes de Educação Moral e Religiosa Católica (EMRC). Nos inícios da década de noventa, deu início aos cursos de segundo grau, nomeadamente o mestrado em teologia sistemática. Posteriormente, estes cursos de pós-graduação conheceram um grande incremento, tendo em conta as exigências de formação profissional e o próprio caminho que os estudos universitários têm conhecido.

Corpo docente e discente
VP - Como se organiza actualmente a acção docente na FT?
JTC - A FT tem um corpo docente de cerca de quarenta pessoas, não só de teologia propriamente dita, mas também de filosofia e de ciências humanas. Uma boa percentagem são leigos, sendo várias as senhoras a leccionar. Temos um corpo docente próprio, com uma carreira estabelecida, que queremos valorizar sempre mais, não só pelo progresso em termos de graus, mas sobretudo pela qualidade da produção de ideias.
O corpo discente anda entre os duzentos e trezentos, uma vezes mais próximo do nível alto, outras vezes do mais baixo. Entre os seus alunos, contam-se os candidatos ao sacerdócio de diversas dioceses (Porto, Vila real, Bragança) e de Congregações Religiosas. Um bom número de Irmãs Religiosas frequenta também algum dos nossos cursos. O curso de Ciências Religiosas é frequentado essencialmente por leigos que adquirem habilitação apara a docência de Educação Moral e Religiosa Católica. Algumas outras pessoas, de todas as idades, procuram a FT como forma de prolongar o gosto pessoal pelas ciências teológicas.

Importância da FT

VP - Como considera a importância de dispormos em Portugal do estudo universitário da Teologia?
JTC - Há quem diga que a UCP foi a realização mais importante da Igreja em Portugal desde o Concílio Vaticano II. Ora a criação de uma Faculdade de Teologia é bem sinal da importância desse dinamismo da Igreja. Desde a extinção da Faculdade de Teologia da Universidade de Coimbra (1911), ao fim de um processo de decadência, que a reflexão teológica tinha ficado sempre mais pobre. Mesmo assim, esta reflexão é importantíssima dentro da missão da Igreja. Se a existência das outras Faculdades corresponde à promoção de um saber guiado pela mundividência cristã, a existência da FT é de primordial importância para a própria identidade da missão da Igreja nas circunstâncias da cultura hodierna.

Principais preocupações da FT, no Porto
VP - Que avaliação faz da acção da Faculdade de Teologia no Porto, de que
é actual Director?
JTC - Além da docência dos seus cursos de todos os graus, a FT tem algumas preocupações que lhe dão uma identidade própria dentro do contexto geral da UCP.
Primeiramente, a preocupação por um diálogo com a cultura. Com efeito, e ao contrário de outros ambientes nacionais, a cultura portuense mantém-se aberta à dimensão da transcendência, sobretudo o pensamento filosófico muito rico que emergiu na passagem do séc. XIX para o séc. XX. A nossa faculdade tem dialogado com essa matriz o que tem sido unanimente considerado como um dos filões mais importantes da sua existência.
Em segundo lugar, estamos empenhados num desenvolvimento da investigação, paralelo à docência, que mostra a importância da teologia para o conjunto do saber. Até agora, os nossos docentes têm vivido muito ocupados com a docência, mas esta é uma preocupação para a qual temos de garantir sempre mais meios e disponibilidade.
Em terceiro lugar, estamos empenhados na formação de pessoas competentes para a missão da Igreja. Entre essas, padres muito bem formados na teologia, nas ciências humanas e na pastoral; professores de EMRC que tenham uma consciência aguda da importância da sua missão no processo educativo ministrado nas escolas públicas; outras agentes do trabalho pastoral para os quais esperamos que vai haver sempre mais lugar, a tempo cheio, nas nossas paróquias e outros serviçoes eclesiais. Uma palavra especial para a formação contínua, de uns e dos outros, mas sobretudo do clero das nossas dioceses, para a formação permanente do qual, temos competência e capacidade.
Em quarto lugar, queremos ser uma presença muito especial dentro da UCP do Porto. A FT tem uma lugar especial, pela especificidade da sua missão. Aquilo a que nos dedicamos tem a ver de forma muito imediata com necessidades profundas das pessoas. Com efeito, numa sociedade dita desenvolvida, surgem cada vez mais necessidades ligadas ao esclarecimento do sentido da vida, à contemplação, à questão de Deus, à questão do homem, ao sentido do mundo. Nós temos obrigação de ter uma palavra nesse âmbito e de estar em condições de o ministrar de várias maneiras, tanto no contexto académico estrito, como em contextos mais amplos.

Oportunidades de formação

VP - Para além do trabalho especificamente escolar, que outras oportunidades de formação propõe a FT?

JTC - Há muitas oportunidades de frequentar a FT. Primeiro, frequentando os cursos de licenciatura e de mestrado ou pós-gradução. Os cursos podem ser frequentados de forma ordinária ou extraordinária, quer dizer, seguindo apenas o que interessa imediatamente e não o curso todo. Temos um grande número de possibilidades que esperamos correspondam aos anseios de muitas pessoas.
Temos, seguidamente, as Semanas Teológicas, uma vez cada ano, aí por Fevereiro/Março que costumam ser frequentadas por um grande número de pessoas.
Temos os Simpósios sobre pensadores portugueses, mais raramente, mas que têm dado excelentes frutos. Os mais recentes foram dedicados ao pensamento portuense no seu conjunto e ao pensador António Sérgio.
Queremos incrementar novas formas de frequência, dedicadas a públicos mais especiais, como pessoas em regime de aposentação que queiram estudar aspectos do pensamento cristão, da sua história, da sua arte, da sua ética.

Propostas de interesse imediato: mestrados

VP – Existirão ainda outras valências profissionais propostas pela Faculdade?

JTC - Com um interesse imediato, existem os mestrados a iniciar no começo do próximo ano lectivo. Entre esses, o mestrado “Fé e psicopterapia” que, esperamos seja um importante momento de diálogo entre teologia e psicologia do profundo; o mestrado em “Família, origem da pessoa e escola de humanismo”, em colaboração com o Instituto de Ciências da Família da UCP; o mestrado em “gestão e administração escolar”, em colaboração com o Instituto de Educação da UCP; o mestrado em “Educação ética escolar” e o mestrado em antropologia teológica. Há ainda uma pós-graduação em Direito Matrimonial Canónico, dirigida sobretudo o advogados que querem patrocinar causas de nulidade do casamento em tribunais eclesiásticos.
Todos reflectem esta preocupação do diálogo da teologia com as ciências e pretendem intervir sobre a questão do sentido da vida, numa acepção imediata, quer dizer, dizendo respeito às preocupações reais dos homens e mulheres de hoje.


Como se pode aceder ao contacto com a FT?

Através da Internet (www.porto.ucp.pt), E.mail: marrifana@porto.ucp.pt, ou através das publicações (livros e Revistas “Humanística e Teologia” e “Sigum” (dos alunos).

In Voz Portucalense

Fonte Ecclesia

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