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Homilia de D. Daniel Labille na Peregrinação Internacional Aniversária de Agosto
2003-08-15 09:55:00

Somos muitos os que hoje viemos, de perto e de longe, a este santuário, rezar a Nossa Senhora do Rosário de Fátima. Trouxemos certamente o coração carregado de intenções. Mas permiti-me que vos convide a rezar especialmente por duas:
A primeira seria por todos os homens e mulheres que, por causa duma vida melhor, como é o caso de muitos de entre vós, tiveram de deixar as suas famílias e as suas terras e se aventuraram a recomeçar a vida noutros países. Por tudo quanto conheço da vossa história, vós, Portugueses, sois um povo aventureiro.


A segunda seria por todos os homens e mulheres que tiveram igualmente de deixar as suas famílias e terras, não propriamente por causa de procurar trabalho, mas para fugir à guerra, à perseguição religiosa, à perseguição política de certos regimes totalitários.

Ouvimos, há instantes, uma passagem do evangelho de S. João. Lá no calvário, do alto da cruz, Jesus disse à sua Mãe: «Senhora, eis o teu filho». A seguir, disse ao discípulo: «Eis a tua Mãe». Estas palavras de Jesus aqui em Fátima soam aos nossos ouvidos duma maneira muito especial. Nesta manhã de treze de Agosto de dois mil e três, Jesus diz a cada um de nós a mesma palavra dita a S. João: «Eis a tua Mãe». Perante esta palavra de Jesus certamente que todos nós vamos acolher nas nossas vidas Maria, a Mãe de Jesus, a Mãe da Igreja, a Mãe de todos nós. Por sua vez, Maria responde ao pedido de Jesus acolhendo-nos como filhos no seu Coração Imaculado.

Aqui, na Cova da Iria, Maria repetiu por outras palavras, esta mesma mensagem quando, há oitenta e seis anos, apareceu à Lúcia, e à Jacinta e ao Francisco, hoje Bem-aventurados. Várias vezes, Maria repetiu:
Convertei-vos; não vos afasteis de Deus, vosso Pai; cortar relações com Deus é perder a verdadeira vida; o pecado afasta-nos de Deus.
Se nós abandonamos Deus, se nos recusamos a amá-Lo, se nos recusamos a amar os outros, então a nossa vida torna-se um autêntico inferno.

Maria pediu também que não se ofendesse mais a Deus. O pecado, meus irmãos, parece que hoje não preocupa mais as pessoas. E contudo o pecado destrói-nos a nós próprios e destrói as nossas relações de uns com os outros.
A passagem do Livro do Génesis que ouvimos como primeira leitura, descreve esta experiência dos efeitos maléficos do pecado. Pelo pecado da desobediência, Adão e Eva separam-se de Deus e as suas relações foram profundamente perturbadas. A mentira falseou a boa relação que existia no casal. Antes, confiavam absolutamente um no outro mas, depois do pecado, a desconfiança e a dúvida instalaram-se nos seus corações. Os germes da divisão e do ciúme perturbaram a sua relação com Deus e com a criação. Ao amor limpo que os unia, misturou-se o desejo de prazer e da dominação.

Maria, como mão atenta que se preocupa com o bem dos seus filhos, veio, de novo, prevenir-nos do mal que acarretam o pecado e o afastamento de Deus. Mal pomos o pé neste santuário, parece que todas as pedras nos murmuram as palavras de Maria aqui ditas nas aparições: fazei penitência; rezai o terço; vivei unidos a mim; procurai viver com os mesmos sentimentos com que eu acompanhei a vida e a paixão de Jesus; abrigai-vos no meu Coração Imaculado para evitar a guerra, a desgraça e a apostasia ganhem o mundo inteiro; oferecei com amor os vossos sofrimentos; pelos vossos sofrimentos unidos aos de Jesus na cruz vós participareis na redenção dos homens.

Porque é que Jesus nos confiou à sua Mãe? Porque todos nós somos frágeis. Porque todos nós temos necessidade de viver unidos, muito próximos de Jesus, muito próximos de Maria. Precisamos de viver unidos como membros de uma família unida.
A passagem dos Actos dos Apóstolos que ouvimos na segunda leitura, descreve assim a vida dos primeiros cristãos: «Eles eram fiéis aos ensinamentos dos Apóstolos, à Eucaristia e à oração, e viviam em comunhão fraterna. Foi assim que os primeiros cristãos puderam ultrapassar as dificuldades e tentações do mundo pagão.

Deve ser também essa a nossa preocupação de hoje: vivermos unidos em família, vivermos unidos em Igreja sob a protecção de Maria. Quando os pais viram emigrar os filhos para França, para a Alemanha, para a América, a sua primeira preocupação foi de conservar os laços familiares. Apesar de afastados das famílias, os filhos deviam continuar fiéis à fé cristã para que não se deixassem seduzir pelo mal. Como vós sois felizes, caríssimos emigrantes, de vos encontrardes em família durante as férias. E como são felizes de vos acolherem as vossas famílias. A vinda à terra natal, nas férias de Verão, é para muitos de vós, a ocasião de recuperar e armazenar forças para mais um ano de trabalho. Vós sabeis, bem melhor do que eu, que a vida dum emigrante não é nenhum mar de rosas.

Viver unidos em Igreja é a mensagem que o Papa João Paulo II nos enviou para a octogésima nona Jornada Mundial das Migrações. Nós somos uma única família humana porque temos o mesmo Pai e porque Jesus nos confiou a Maria, sua Mãe. Qualquer que seja o país para onde emigramos, pertencemos de pleno direito à comunidade católica desse país. Diz assim o Papa: «A pertença à comunidade católica não é determinada pela nacionalidade ou origem social, mas essencialmente pela Fé em Jesus Cristo». Esta palavra do Papa convida a uma abertura recíproca entre a população emigrada e a população do país que acolhe. «Esta abertura – diz ainda o Papa – contribui para a construção de comunidades dinâmicas através dos dons trazidos pelos migrantes vindos de outras culturas».

Como Bispo da diocese de Créteil, o célebre noventa e quatro, sou testemunha do dinamismo eclesial incrementado pelas numerosas comunidades migrantes. Na diocese de Créteil, há gente de oitenta e seis nacionalidades. Dessa grande diversidade de povos fazem parte cento e cinquenta mil portugueses.
De há uns anos a esta data, começaram a integrar-se nas paróquias e a ocupar o seu lugar de pleno direito participando nos vários movimentos de apostolado e nos diversos serviços da Igreja diocesana.
Esta mistura de raças, culturas e tradições cristãs é uma fonte de vitalidade incomparável e de muitas alegrias comuns. Mas este espírito de partilha não é inato: «Ele exige – recorda o Papa – um treino constante e a fuga à tentação de se fechar sobre si mesmo. O amor fraterno é, na verdade, o sinal pelo qual são reconhecidos os discípulos de Jesus: «O sinal por que todos vos hão-de reconhecer como meus discípulos é terdes amor uns aos outros». Jo 13, 35

Para evitar a Jesus o massacre dos inocentes de Belém, Maria e José tiveram de deixar precipitadamente o seu país e exilar-se no Egipto. Também a Sagrada Família de Nazaré viveu a condição de migrante. Nas dificuldades, obstáculos e tentações de todos os dias, que Maria nos proteja e nos guarde fiéis ao Pai, em comunhão com Seu Filho Jesus, abertos aos apelos do Espírito Santo.

Nossa Senhora do Rosário de Fátima, rogai por nós.

+ DANIEL LABILLE
BISPO DE CRETEIL

Fonte Ecclesia

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