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Ensino da religião na escola: o modelo francês e o espanhol
2003-07-19 11:06:47

Sem dúvida, “du nouveau", na pátria do laicismo!
Autor duma relação que propunha um ensino "dos factos religiosos na Escola pública” que recebeu a aprovação do ministro socialista Jack Lang, no anterior governo, actualmente do filósofo Luc Ferry, Régis Debray que acaba de publicar Le Feu sacré (Fayard), avança agora num terreno que, no passado, dividiu os franceses em clericais e laicos.


Acaba de criar,o antigo conselheiro de Allende e amigo de Che Guevara, em Paris, o Instituto Europeu de Ciências Religiosas, com o apoio de quatro Ministérios: Educação, Estrangeiros, Cultura e Interior.
A iniciativa representa um progresso na vivência colectiva do povo francês, se nos lembrarmos que, há cem anos, do ensino da Religião na Escola Pública apenas ficou um pequeno núcleo na Escola Prática de Altos Estudos, onde, se bem me lembro, se procurava sempre uma pessoa prestigiada, mas aconfessional.

O novo Instituto terá a sua sede na mesma prestigiada "Grande Escola", mas num clima diferente. De resto, o grande Mestre do grande Oriente de França figura no seu comité director, ao lado de grandes especialistas da matéria, com o encorajamento prudente do Cardeal Lustiger e da Direcção nacional do ensino católico, o qual, como se sabe, é financiado pelo Estado, segundo legislação aprovada em tempos do Presidente, ele mesmo formado em escolas católicas, François Mitterrand.

A novidade deste Instituto está sobretudo em dar formação aos Institutos de formação de Professores nas Universidades, dando-lhes bagagem para ensinarem a matéria das religiões na Escola, fora quer de considerações apologéticas, quer de considerações laicistas. Está quanto a nós próxima do que hoje se chama no mundo académico, a cadeira. de Fenomenologia da Religião (inexistente nas Universidades Portuguesas, quanto julgo saber).

O horizonte desta nova abordagem da Religião parece consistir em dar aos alunos a capacidade de ler o mundo, numa cultura aberta ao religioso.

O modelo espanhol não vem dum diálogo com o Laicismo, mas daquilo que poderíamos chamar as raízes cristãs da identidade nacional, ou se quisermos europeia.

Efectivamente, segundo despacho do Ministro espanhol da Educação, a Senhora Pilar del Castillo, depois de décadas de indefinição, a nova formulação consiste fundamentalmente no seguinte: os alunos terão desde o começo da primária até ao 12.º ano, uma cadeira de Religião, avaliada como as outras, que para os não católicos terá uma alternativa também obrigatória, a saber, História das Religiões.

A proposta foi bem acolhida pelo Episcopado espanhol, mas a Oposição socialista, ainda laicista, protestou, afirmando que o diploma era inconstitucional.
Dois contextos diferentes, sem dívida.

Todavia, para quem analise a querela religiosa na Modernidade, aí está o retorno do religioso, em ligação directa com o cultural, numa direcção que o melhor Iluminismo nunca desencorajou.

Porque o melhor Iluminismo, como afirma Debray, autoriza perfeitamente "a passagem de uma laicidade da incompetência a uma laicidade da Inteligência", ou seja da negação pura e simples do fenómeno religioso ou seu combate activo, a uma compreensão integrada e integradora do mesmo.

Arnaldo Pinho
In Voz Portucalense

Fonte Ecclesia

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