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MENSAGEM DO CARDEAL PATRIARCA PARA A QUARESMA 2003
2003-03-04 08:56:46

1. Aproxima-se, mais uma vez, a celebração anual da Páscoa, que faz sacramentalmente memória daquela Páscoa em que Nosso Senhor Jesus Cristo se oferece pela redenção do mundo, conduzindo à plenitude de sentido tudo o que tinha sido anunciado na páscoa judaica. A celebração da Páscoa é o grande encontro dos crentes, em Igreja, com Nosso Senhor Jesus Cristo, morto e ressuscitado. A maneira de celebrar a Páscoa dá-nos a medida da seriedade e da radicalidade da nossa vida cristã.

A celebração da Páscoa é mais do que um acto litúrgico; é uma longa liturgia, prolongada no tempo, aquele tempo simbólico de Deus representado nos 40 dias. "Tempo forte de oração, de jejum e de compromisso", lembra-nos o Santo Padre. Havemos de abrir o nosso coração e deixar que a Palavra de Deus, meditada em assembleia e escutada na intimidade do segredo do nosso coração, revele em nós o dom de Deus e a Sua vontade a nosso respeito, ponha a claro as nossas infidelidades e os nossos pecados, para mais profundamente nos abrirmos ao dom do perdão. É por isso que o Santo Padre nos diz que a quaresma deste ano deve ser tempo de "um sério discernimento da própria vida, confrontando-nos com a Palavra de Deus que ilumina o itinerário quotidiano dos crentes". Que cada um de nós refresque a pureza original da vocação a que foi chamado, enfrente, na verdade, o itinerário da sua fidelidade e alimente o desejo de uma resposta definitiva ao Senhor que nos chama.

2. Esta Páscoa tem, para mim e para vós, um sentido muito particular. Quis a Diocese dar forma visível à celebração do meu Jubileu Episcopal. Há 25 anos fui ordenado Bispo, para vós, Igreja de Lisboa e hoje sou, por desígnio de Deus, o vosso Bispo. Celebrar um Jubileu é ocasião de acção de graças, mas, também, de exigência de confrontar toda a nossa vida com o dom de Deus. Eu quero celebrar este Jubileu, com toda a exigência espiritual que ele encerra; mas sinto que ele será incompleto se o não celebrardes comigo, pois o Bispo nunca é compreensível sem a sua Igreja. Desde o princípio afirmei que a única coisa que espero de vós, durante este ano, é que rezeis comigo, aceitando fazer, como Igreja, uma revisão de vida da nossa fidelidade ao Senhor.

O Santo Padre, na sua Mensagem, indica-nos a ideia mobilizadora: "Este ano, como guia da reflexão quaresmal, queria propor a frase dos Actos dos Apóstolos: "A felicidade está mais em dar do que em receber" (Act. 20,35). A vida concebida como dom é algo impresso no mais fundo do nosso coração, é a semente mesma do amor, tantas vezes abafada pelas nossas ganâncias e egoísmos. A radicalidade do dom, expressa na renúncia à própria vida por amor, é a verdade máxima da atitude sacerdotal de Cristo, que redime a dureza do nosso coração e nos resgata para a gratuidade do dom.

Celebrar um Jubileu Episcopal só tem sentido à luz desta radicalidade de Jesus Cristo, pois o sacerdócio apostólico é, na Igreja, a presença perene da generosidade de Jesus Cristo. É, assim, ocasião de refrescarmos no sacerdócio de Jesus Cristo, principal riqueza da Igreja, a generosidade da vocação de cada um de nós. Todos nós fomos, um dia, chamados e a radicalidade da própria vida feita dom de amor é o traço comum a toda a vocação cristã. Vamos todos, cada um na sua própria vocação específica, refrescar a autenticidade do chamamento original e aceitar, no momento que passa, os desafios de fidelidade e de conversão.

3. Convido-vos, pois, a fazer a nossa caminhada pascal contemplando Cristo sacerdote, pois é nessa qualidade que Ele se nos revela como Filho do eterno Pai, e nosso Irmão. Só sendo homem como nós, Ele podia ser Sacerdote, pois o sacerdote é alguém destacado entre os homens, que se apresenta junto do trono de Deus; só tendo a pureza e a radicalidade de amor do próprio Filho, Ele podia ser o Sacerdote de que a humanidade precisava, para voltar à comunhão de amor com Deus, Trindade Santíssima. No Sacerdócio de Cristo, continuamente vivo na Igreja, expressa-se toda a esperança da nossa redenção.

Escolhemos o Sacerdócio como tema das nossas já habituais "Catequeses Quaresmais", na Igreja Catedral. O tema geral será "Cristo Redentor, Cristo Sacerdote", desdobrado nos seguintes sub-temas:

1º Domingo (09-03-03) - "Sacerdócio e redenção: a encarnação do Verbo e o Sacerdócio definitivo"

2º Domingo (16-03-03) - "Cristo Sacerdote: a plenitude da oferta e a plenitude do dom"

3º Domingo (23-03-03) - "A Igreja, Povo Sacerdotal"

4º Domingo (30-03-03) - "O Sacerdócio Apostólico: o Sacerdócio de Cristo sacramentalmente perpetuado"

5º Domingo (06-04-03) - "Tende em vós os mesmos sentimentos que havia em Jesus Cristo" (Fil. 2,5)

6º Domingo (Ramos) (13-04-03) - "O Sacerdócio na Igreja de hoje: mistério e ministério"



4. Quis que também o destino da nossa renúncia quaresmal, expressa na partilha de bens, tivesse uma relação directa ao ministério episcopal. Tive a alegria de conhecer, recentemente, num encontro dos Episcopados das Igrejas Lusófonas, realizado em Cabo-Verde, o Senhor D. Pedro Zilli, jovem Bispo da recém criada Diocese de Bafata, na Guiné-Bissau. Fez-me bem a sua alegria e confiança, de quem sente que, na simplicidade e na pobreza, está a nascer uma Igreja.

Em Bafatá falta tudo para implantar uma Diocese. Não há Catedral - uma antiga Igreja das missões, restaurada e ampliada, poderá servir; não há residência, não há instalações mínimas para os Serviços Diocesanos. O Senhor D. Pedro tem um projecto que contempla estas três necessidades mais urgentes e que custará, aproximadamente, um milhão de euros. Nós podemos ajudá-lo, a Santa Sé também ajudará. Ajudemos a nascer uma Igreja, partilhando do que Deus nos deu; não deixemos fugir a alegria da generosidade.

Propositadamente quero terminar esta Mensagem com as mesmas palavras com que o Santo Padre termina a sua: "desejo vivamente que Quaresma seja para os crentes um período propício para propagar e testemunhar o Evangelho da caridade em todo o lugar, pois a vocação à caridade constitui o âmago de toda a autêntica evangelização. Isto mesmo confio à intercessão de Maria, Mãe da Igreja. Seja Ela quem nos acompanhe no itinerário quaresmal".

Desejo a todos uma Páscoa em santidade.

Lisboa, 2 de Fevereiro de 2003, Solenidade da Apresentação do Senhor no Templo.

†JOSÉ, Cardeal-Patriarca


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