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A caminho da Páscoa com as disposições da Quaresma
2003-03-03 21:56:38

O tempo da Quaresma faz-nos dois convites insistentes: o primeiro, em ordem à interiorização do caminho; o segundo, em direcção ao próximo.

A interiorização do caminho: é preciso recolher os sentidos, para chegar mais além...Doutro modo, o essencial fica disperso ou confundido no meio do secundário, e o alento esgota-se mais depressa. Foi assim que Jesus fez, ao longo da via-sacra.


E foi assim que o viram as pessoas mais atentas. Enquanto os outros condenados reparavam no sofrimento, na vingança dos algozes, na multidão enraivecida. Jesus pousava a sua confiança na misericórdia divina e pensava na salvação de todos, mesmo dos que se distraíam com Ele. Daí, a coragem de abraçar a cruz e de dizer do alto dela: Pai, perdoai-lhes, porque não sabem o que fazem. Com efeito, uma coisa é o essencial da vida, que dá pelo nome de ideal; outra, o que atrai sem consistência ou distrai sem confiança. E, ao longo da Quaresma, o essencial da vida vê-se menos com os olhos e mais com o coração. Por isso, interiorizar o caminho é olhar para dentro das coisas (do seu valor) e optar pelas que mais contam. E, neste esforço, o maior lucro obtém-se com a fé.

Em direcção ao próximo: parece proveitoso olhar, de novo, para Jesus e adivinhar a direcção do Seu discurso e dos Seus passos. De nome Emanuel (Deus-connosco), Jesus preocupa-se com o projecto que lhe fora confiado: revelar o rosto do Pai e anunciar o Reino! E uma e outra coisa em direcção ao homem, porque o homem é o caminho de Deus e precisa de resgate. De facto, ninguém pode encontrar Deus noutra direcção: do egoísmo, não, porque disfarça a relação fraterna e coloca-se no centro das atenções; da vaidade, também não, porque altera as proporções a seu favor, com detrimento para os outros; da ganância, menos, porque dá mais importância ao ter do que ao ser...; e só o homem, como próximo, refaz o caminho ao encontro de Deus. Por isso, vale a pena ser altruísta, e pela fé ser generoso, para criar empatia com Deus e com o homem. Vale a pena criar comunhão entre os homens e com Deus, levedando os ambientes de relação fraterna. Vale a pena sugerir e construir a paz, em vez de semear a suspeição. Vale a pena...ser irmão e, como baptizado, ter consciência de filho de Deus. É este o caminho da revelação e do paraíso.

Antes dar, do que receber: um dia, Jesus falou assim: que importa ao homem ganhar o mundo inteiro se, por fim, perder a sua alma? E, de facto, a felicidade não consiste em começar bem, mas em ser fiel até ao fim. Ora, o mundo do consumismo, que vemos e respiramos cada dia, sugere o contrário: receber é melhor e a reivindicação é um direito. Por isso, a noção do dever fica esbatida, até ao ponto de vingar quem tem mais força ou grita mais. E o que por aí vai, como exemplo! Vou sublinhar a ideia de felicidade, com alguns exemplos do Evangelho. Começo por Zaqueu: era cobrador de impostos e tinha os seus complexos de ser pequeno de estatura e de desagradar ao povo. E Jesus adivinhou nele a vontade de se libertar. Por isso, ofereceu-se para ir a sua casa, distinguindo-o com a Sua presença. Depois de O ouvir, Zaqueu foi espontâneo: vou dar metade dos meus bens aos pobres; e se defraudei alguém, dou-lhe quatro vezes mais. Isto é: saiu para fora de si mesmo, foi ao encontro dos outros e sentiu-se feliz. Agora, o gesto da Viúva (tão pobre que nem nome tem): foi ao Templo e deitou duas pequeninas moedas na caixa das esmolas; e recebeu de Jesus este elogio: - deu mais do que todos os outros, porque deu com o coração. Para ela, bastava-lhe que Deus visse. Finalmente, o bom Samaritano: vinha de viagem e viu um homem caído na valeta e mal tratado. Em vez de discutir as razões, aproximou-se dele e curou-lhe as feridas. Depois, entregou-o numa estalagem e disse ao dono: cuida dele e, quando eu voltar, pagar-te-ei tudo. A alegria de ser bom e de ser útil, compensou-o sobejamente.

A caminho da Páscoa: vamos de viagem, com as disposições da Quaresma. E quais são? -a esperança de chegar, sem desalento; - a alegria de ver, com esperança; - o gosto de conviver, com generosidade; - a felicidade de partilhar, com amor fraterno; - a paz da reconciliação, depois de confessados os pecados. Será este o nosso programa! De permeio, porém, não esqueçamos o lugar da oração e o conforto, se possível, dum retiro espiritual. Mas sempre na direcção do outro (o próximo), para que Deus caminhe connosco e nos confirme como irmãos. Na verdade, o caminho da Quaresma pede solidariedade e confiança. Pede, ao fim e ao cabo, um coração disponível para que o outro seja irmão e reze connosco o Pai-nosso. E Maria Madalena? Vem a seguir... Com efeito, o esforço da Quaresma supõe a visão da Páscoa. Preparemo-nos, então, para ouvir o seu anúncio festivo!

Portalegre, 5 de Março (Cinzas) de 2003
+ Augusto César

Fonte Ecclesia

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