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É importante retomar a dinâmica das peregrinações à Terra Santa
2003-01-12 12:32:10

O Pe. António Pereira da Silva, do comissariado franciscano da Terra Santa, passou a época natalícia em Belém e testemunhou o sofrimento e os anseios de paz de um povo sofredor.

Agência ECCLESIA - Como foram estes dias na Terra Santa?
Pe. António Pereira da Silva - Cheguei a Jerusalém no dia 22 e sai de lá no dia 7 de Janeiro. Apesar da aparente normalidade, nota-se a animosidade no ar, porque os dois povos ainda não aprenderam a coexistir, já que não querem conviver, e a permitir a todos os outros que visitem aquela terra, que é património da humanidade.
Vivi o Natal em Belém, nos dias 24 e 25, em que o estado de sítio foi levantado. A Igreja estava cheia, numa celebração que se prolongou até às 02h30 da manhã na noite de Natal. Os controlos israelitas terão desmotivado alguns cristãos, ainda assim, de irem às celebrações e o exército impede mesmo muita gente de entrar na cidade.
Em todos estes dias foi consolador ver o número de peregrinações, mais de mil peregrinos. Nós os comissários da Terra Santa temos vindo a defender que não só por devoção, mas por solidariedade com os nossos irmãos cristãos deve-se continuar a peregrinar. Há lá uma carência de ver e conviver com os cristãos de todo o mundo, e as peregrinações acabam por trazer um pouco de esperança aos habitantes, mesmo os palestinianos, que encontram assim oportunidades para o negócio.

AE – A ajuda material que levou consigo era muito significativa?
APS – No conjunto do ano conseguimos 500.000 Euros, o que é muito importante. A custódia da Terra Santa tem a seu cargo a manutenção dos santuários e das comunidades que se formam à volta deles, pelo que a gratidão para com a generosidade portuguesa foi imensa.
Outro aspecto importante é o dar-se trabalho a muita gente, com os hotéis franciscanos, através do dinamismo das peregrinações, sobretudo nas festas mais importantes do cristianismo. Além disso, no dia 6 de Janeiro, foi lançada a primeira de um novo núcleo de habitação para as famílias cristãs de Belém. Temos já seis aldeamentos a funcionar e é importante que os cristãos vivam junto aos lugares santos, para que o seu testemunho seja mais visível. É para tudo isto que serve a nossa solidariedade.

AE – Quais as carências mais visíveis em Belém?
APS – Em Belém não há trabalho, logo não há salários. A custódia franciscana tem mantido os seus trabalhadores a receber 75% dos salários, embora não estejam a trabalhar, mas a maior parte da população, palestiniana, não tem meios de subsistência.
Em Belém nota-se um decréscimo do comércio, as empresas faliram, as pessoas emigram, porque nas situações de fome surgem ameaças para os que possuem alguns bens. Tudo isto representa um empobrecimento muito grande da presença cristã, mas não podemos condenar que as pessoas saiam quando não há meios para sobreviver nesta situação de opressão e de fome.
A opressão leva a soluções desesperadas e é isso que origina a violência com que toda a gente sofre: quando se chega ao ponto de não nos podermos aproximar das janelas de casa sem correr o risco de levar um tiro...

AE- O cenário é, portanto, pouco animador?
APS – Apesar de todas as dificuldades, venho esperançado de que seja possível retomar a dinâmica da peregrinação à Terra Santa, que é uma ajuda importantíssima para os nossos irmãos aí presentes. É evidente que eu não posso dar a certeza de que não acontecerá nenhum problema, mas eu viajei à vontade em todos os lugares de peregrinação e vi a alegria dos peregrinos e das populações locais por estarmos lá.
Por razões de Fé e solidariedade nós podemos ir, podemos caminhar, podemos peregrinar como vi fazer a mais de mil peregrinos nestes dias em que lá estive!

Fonte Ecclesia

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