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Natal de crise ou de mais verdade?
2002-12-09 22:20:09

Após um certo desafogo económico-financeiro e alguma prosperidade social, estamos a viver a denominada «crise», seja económica, seja social ou mesmo moral. Em consequência deste clima de dificuldades sente-se que o rebuliço da época natalícia está em baixa: sentimo-lo nas grandes superfícies comerciais, nas ruas, nas estradas; vemo-lo nos rostos tristes e pesados de tantos transeuntes; captamo-lo nas conversas de rua, nos desabafos de circunstâncias ou nos discursos políticos-governativos ou autárquicos de contenção; percebemo-lo na baixa de receptividade de iniciativas de partilha e de esmoler.

Parece que já não há lugar para o esbanjamento e o espectro realista – diga-se que agora é mesmo mais a sério! – da dificuldade está a vender bem: há promoções e saldos a desoras; há descontos e facilidades a tudo quanto seja apelativo para comprar; há formas diversificadas de campanhas publicitárias e de fazer atrair compradores fiéis ou potenciais!
Parece que caiu a máscara de sucesso com que tantas vezes se tentou enfeitar o Natal: o material(ismo) estava a corroer o verdadeiro espírito natalício, pois muitas pessoas se afirmavam mais pelo que ostentavam (roupas, comida/bebida, prendas/presentes, favores gratificados, benesses traduzidas em fartos embrulhos de papel luzidio!) do que pelo que eram(são), criando-se mesmo um ambiente de fachadismo muito bem orquestrado e com estatuto de novo-riquismo auto-promovido em certa comunicação social e sectores mais ‘in’!
Mesmo que apelidado de «festa da família», o Natal estava a ser pouco mais do um momento de nostalgia, onde o dito carácter «familiar» se travestia de um epíteto mais ou menos retórico. E as força de índole espiritual (Igrejas, associações culturais ou de beneficiência) nem sempre têm sido capazes de captar as linhas de desfasamento das suas propostas mais ou menos tradicionais. Tem faltado mesmo ousadia em apresentar novas formas de viver o Natal, tanto ao nível pessoal, como familiar e colectivo (paroquial, diocesano ou social)!
Soube-se (melhor) no início de Dezembro que há no mundo três mil milhões de pessoas que vivem com menos de dois euros por dia. Diante da frieza destes números não será uma psicose à portuguesa, de natureza egoísta e hipocondria social, a dita ‘greve geral’ de meados do mesmo mês? Não estaremos a pagar o descontrole de contas (pessoais, familiares e colectivas) com que se enfeitiçou tanta gente com dinheiro barato, juros fictícios e facilidades desmedidas? Até quando haverá medo de dizer a verdade e de vivê-la com realismo?
Que a simplicidade do Natal, este ano, reavive a nossa condição de pequeno país numa grande Nação em busca da força da fé na vida!

A. Sílvio Couto

Fonte Ecclesia

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