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A História Religiosa afirma-se no contexto da historiografia portuguesa
2002-11-27 21:43:50

A Universidade Católica Portuguesa abriu as suas portas para uma sessão pública de avaliação do projecto editorial composto por sete volumes que dão a conhecer o fenómeno religioso no nosso país: “Dicionário de História Religiosa de Portugal”, em 4 volumes e “História Religiosa de Portugal”, em 3 volumes.

Esta sessão decorreu ontem, dia 26 de Novembro, juntando historiadores, professores universitários e vários agentes da vida católica, no Auditório Cardeal Medeiros, em Lisboa.
A abertura do encontro ficou a cargo do reitor da UCP, Manuel Braga da Cruz, e do presidente do Círculo de Leitores, João Alvim, que falaram de uma “colaboração de sucesso” sobre um “tema inultrapassável” da história de Portugal.
O coordenador geral da obra, Carlos Moreira Azevedo, referiu-se a esta sessão como uma festa, justificada pela “alegria do fim de uma aventura que gravou na memória histórias para contar um dia, quando o passado ocupar a parte maior do percurso vital.”
Evidenciando a “necessidade de uma obra de síntese da história religiosa portuguesa, que tivesse em conta novas fontes, novos temas e problemas, novas abordagens metodológicas”, além de “um quadro de referência ética, porque em nome de uma religião cometem-se atrocidades”, esta intervenção destacou o papel do Centro de Estudos de História Religiosa (CEHR) da UCP para “exercer um serviço urgente à historiografia portuguesa”. O projecto editorial agora concluído contribui, segundo Carlos Azevedo, para a “afirmação de uma disciplina designada História Religiosa”. A ocasião foi ainda aproveitada para criticar o “atraso em Portugal do reconhecimento científico do estudo da religião e a enorme ignorância religiosa”, uma tónica que se viria a manter ao longo da sessão.
D. Manuel Clemente, Bispo auxiliar de Lisboa, encerrou a sessão na qualidade de director do CEHR da UCP. Na sua intervenção destacou a “grande tenacidade e árduo discernimento” que marcou este projecto de vários anos, começado em 1994 com a s primeiras reuniões exploratórias. O director do CEHR apresentou o projecto ontem avaliado como “terceiro momento” de um percurso começado com a primeira História da Igreja em Portugal, de Fortunato de Almeida (1912-1920), e continuado com a actividade do Centro de Estudos de História Eclesiástica, com início em 1956, que lançou a revista “Lusitania Sacra”. O último momento, este trabalho do CEHR, passou do “eclesiástico ao religioso”, um conceito que nos liga “ao próprio cerne das questões actuais na nossa sociedade e cultura.”

A História Religiosa de Portugal
O Volume I, referente à Idade Média, foi apresentado por Luís Miguel Duarte, da Faculdade de Letras do Porto, que começou por destacar o avanço na “informação positiva pura e dos dados factológicos: nomes, datas, sítios, carreiras e livros.”
Num olhar de síntese sobre o volume, este professor realçou a “divulgação de temas e nomes da história religiosa do Baixo Império e da Alta Idade Média”, “a solidez das páginas sobre o Judaísmo e o Islamismo”, “a utilidade das páginas sobre o espaço eclesiástico português” e “a excelência dos capítulos A religião dos clérigos e A religião no século.” Concluindo, Luís Miguel Duarte diz que estamos na presença de “muita novidade, muito trabalho, muitas sugestões e pistas.”
O Volume II, que aborda a história religiosa da Idade Moderna, foi avaliado por Pedro Cardim da Universidade Nova de Lisboa. Em primeiro lugar, foi destacada a “pluralidade das perspectivas abrangidas, que vão desde a mais doutrinal à história social da religião”, numa congregação dos “melhores especialistas neste campo”. O esforço por estabelecer “factologia básica” foi de novo realçado, assim como a incorporação na realidade religiosa da Europa do Sul, “sem deixar de ter uma identidade portuguesa”.
As três secções deste volume, “de uma erudição e saber impressionantes”, apresentam a religião, segundo Pedro Cardim, “como algo absolutamente presente na vida portuguesa” e procuram “definir os contornos complexos da identidade religiosa católica em Portugal”, evitando que se percam de vista alguns dos aspectos “mais substantivos da civilização.” A projecção noutros continentes da “experiência religiosa portuguesa” e a sua interacção com outras culturas é outro dos pontos fortes deste volume.
O último Volume desta História, relativo à Idade Contemporânea, recebeu um tratamento crítico da parte de Maria Manuel Tavares Ribeiro, da Universidade de Coimbra, que o catalogou de “verdadeiro trabalho de historiadores contemporâneos”.
Para esta professora, a reflexão presente neste volume coloca diante do leitor a “problemática permanente, de diálogo e confronto” da religião e secularização.
Num volume relativo a um período de “excepcional abertura política” é possível identificar, segundo Maria Manuela Tavares Ribeiro, “as mudanças de relação entre religião e sociedade”, que relata “as debilidades, a resistência e a criatividade do catolicismo”, temáticas de especial pertinência nos dias de hoje. O trabalho apresentado mostra que “as igrejas se encontram com um problema: a especificidade cultural da religião.” A apresentação da história religiosa desta época gira à volta de uma dupla dinâmica: “uma intensa reconstituição das suas forças e as suas múltiplas vicissitudes”.

Dicionário de História Religiosa de Portugal
Os “quatro extensos e atraentes” volumes que constituem esta obra foram analisados por Sérgio Campos Matos, da Universidade de Lisboa.
Numa abordagem muito directa, este professor realçou a “densa rede temática e problemática” que dá corpo a esta obra, oferecendo “um notável esforço de síntese”. A esta estrutura temática corresponde a “perspectiva dialéctica do religioso, como espaço de confronto”, que exprime, para Sérgio Matos, um notável esforço de “distanciação crítica e abertura à alteridade.”
A avaliação global destes volumes pode ser aplicada ao conjunto que forma com a História Religiosa de Portugal: “é uma ferramenta imprescindível para o investigador, bem como para o leitor comum interessado na problemática religiosa. Alargará horizontes do saber e contribuirá para aprofundar a consciência que os portugueses têm de si.”

Fonte Ecclesia

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