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Sociedade de pessoas ou de interesses?
2002-11-27 21:31:49

É cada vez mais complicado e difícil viver em sociedade. E não devia ser assim, porque as pessoas estão mais escolarizadas, há cada vez mais licenciados e doutores, o bem-estar material alargou-se a mais gente, as habitações melhoraram visivelmente, os cuidados com a saúde, os transportes e os meios de comunicação social generalizaram-se e são agora mais acessíveis, a segurança social é um direito de todos, as leis salvaguardam mais os direitos dos cidadãos, as possibilidades de escolha, em muitos campos, são reais... E podia continuar a lista das coisas positivas, mesmo que não o sejam ainda de modo total e não esquecendo que, em muitos aspectos, resta ainda muito caminho para andar.

Mas que é mais difícil viver em sociedade, parece não oferecer dúvidas. O que se vê? O egoísmo individualista de pessoas e de grupos exacerbou-se, a insegurança nas casas e nas ruas aumenta, a marginalidade social não pára, a política ameaça degradar a democracia, a agressividade entre pessoas e grupos espalha-se como o óleo, as falhas e os erros não se perdoam, os velhos têm cada vez menos lugar no seio da família, os novos andam no vento, aos direitos deixaram de corresponder deveres, a corrupção moral e material ultrapassa todas as barreiras, a linguagem suja e torpe invadiu a rua e a televisão, as leis incomodam cada vez mais, os afilhados de padrinhos privilegiados aumentam... Também aqui podia continuar, mesmo tendo em consideração que ainda não é assim cem por cento e que é preciso apoiar os resistentes que não se resignam, lutam e denunciam a mentira e a injustiça que enxameiam a convivência diária.
Em democracia e num estado de direito, a vida em sociedade está aberta à participação de todos, regulada para que ninguém esmague ninguém, o esforço de todos renda a favor de todos, a justiça seja lei, colaborar no bem comum um objectivo indiscutível de que ninguém se sinta dispensado, as contendas se resolvam por meios legítimos e pacíficos e as discriminações pessoais e sociais não tenham lugar.

Então o que falta? Que as pessoas se enriqueçam de valores morais que as levem a ver nos outros pessoas iguais, se dignifiquem a si próprias pelos seus sentimentos e comportamentos, entendam as leis e os direitos dos outros como preço indispensável de uma convivência sadia, sintam queimar-lhes por dentro o que não lhes pertence e é sangue e suor de outros, nunca absolutizem interesses ou ideias, defendam e promovam quem educa para os valores que de facto o são.

Uma sociedade sem Deus não respeita nem promove os valores morais indispensáveis à fraternidade e à convivência respeitosa e construtiva entre todos. Sem eles, o cinismo instala-se nas relações, o oportunismo nos interesses, o dogmatismo nas ideias, e a sociedade deixa de ser de pessoas.
Há que suster esta derrapagem. É preciso e ainda é possível.

D. António Marcelino
Bispo de Aveiro

Fonte Ecclesia

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