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Francisco Xavier, de "Grande Vaidoso" a Gigante das Missões Católicas
2002-11-06 12:23:36

Francisco Xavier, um dos introdutores do cristianismo no Japão, proclamado santo em 1622 e declarado padroeiro das missões católicas em 1904, só dois anos antes de morrer abandonou a sua estratégia "errada" de evangelizar à europeia e passou a entender que "não há outra maneira de missionar senão pela inculturação".

O "grande vaidoso" que Xavier era ainda no início da sua vida de jesuíta só deixa o "espírito de cruzada" que tinha quando entende que é preciso dialogar com a cultura japonesa. Estas ideias, defendidas por António Lopes, 75 anos, historiador e padre jesuíta, serão apresentadas amanhã, no decorrer de umas jornadas de estudo dedicadas aos 450 anos da morte de Francisco Xavier.

A V Semana de Estudos de Espiritualidade Inaciana (SEEI), promovida pela Companhia de Jesus, procura debater temas ligados aos jesuítas e ao seu fundador, Inácio de Loiola. Desta vez, com cerca de 300 participantes, será debatida a vida e a acção de uma das figuras maiores das missões católicas no Extremo Oriente.

Francisco Xavier evangeliza durante sete anos em várias regiões da Índia mas, diz o padre Lopes, esta acção "é marcada por uma estranha insensibilidade a esses mundos e a essas civilizações prodigiosas". Marcado ainda pelo aforismo de que "fora da Igreja não há salvação", Xavier "não tinha aprendido nada com os Exercícios Espirituais" do seu companheiro Inácio, refere António Lopes ao PÚBLICO. Tudo isto, admite, "dá uma ideia diferente do Xavier tradicional".

Nascido em 7 de Abril de 1506, em Xavier (Navarra, Espanha), Francisco morre em Sanchoão (China), a 3 de Dezembro de 1552 - faz 450 anos daqui a um mês. É um dos primeiros companheiros de Inácio de Loiola quando, em 1534 - poucos anos depois da Reforma protestante de Martinho Lutero -, um grupo de sete estudantes faz, em Paris, um voto. Prometem, em conjunto, viver a pobreza e a castidade e fazer uma viagem à Palestina, se tal se manifestar possível e desejável para a missionação.

A vida troca as voltas a Xavier e, depois de um convite do embaixador português em Roma, o companheiro de Inácio acaba por ir parar à Índia (ver caixa). Na missão, durante sete anos (1542-49), Xavier "ainda não parece jesuíta", diz António Lopes. Baptiza multidões de indianos, convencido que faria novos cristãos "à força de braços" estendidos e da água derramada sobre as pessoas. Em Goa, Xavier escreve ao rei D. João III a pedir o estabelecimento da Inquisição, ignorando que Inácio de Loiola já experimentara a prisão do tribunal político-eclesiástico, alterna períodos de euforia evangelizadora com "momentos de desânimo e de grandes depressões", admoesta o rei por só querer "possuir as riquezas temporais da Índia".

Apesar de tudo, o entusiasmo que Xavier coloca na sua acção e a sua dedicação às pessoas, aliados ao vigor físico e psicológico, dão nas vistas. Quando parte para o Japão, depois de pôr em causa a utilidade do trabalho na Índia, dá-se a "segunda conversão", como lhe chama António Lopes. A sua estratégia missionária já está em mudança: espanta-se com a cultura que encontra e estabelece com ela o diálogo que não fizera na Índia.

Cortesia, sobriedade, alfabetização, racionalidade e espiritualidade são características que nota e aprecia nos japões, como então são chamados os naturais do país. Xavier percebe que é preferível vestir uma túnica de seda que andar andrajoso, para poder ser respeitado, convence-se do valor da ciência e passa a recomendar, nas cartas, que os novos missionários sejam "bons filósofos, bem treinados no diálogo".

Do contacto com os japoneses, nasce o desejo intenso de ir à China. Em 1552, parte de Goa, onde regressara no ano anterior, para demandar as terras do Império do Meio. Morre na ilha Sanchoão, situada a poucos quilómetros do continente. Em 1554, o corpo é trasladado para Goa, onde é recebido por uma multidão de largas dezenas de milhares de pessoas.

Fonte Público

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