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Homilia de D. José Policarpo na Peregrinação das Famílias a Fátima
2002-10-13 17:34:40

“A Imagem da Igreja”

Homilia na celebração litúrgica da Virgem Maria, Imagem e Mãe da Igreja
Peregrinação Nacional das Famílias
Santuário de Fátima, 13 de Outubro de 2002


Queridos Peregrinos,

1. Neste dia em que as famílias portuguesas se fizeram peregrinas, estamos a celebrar a festa litúrgica da “Virgem Maria, Imagem e Mãe da Igreja”. Imagem viva da Igreja comunhão também a família cristã é chamada a sê-lo.

Estamos, assim, perante duas imagens da Igreja enquanto comunhão dos Santos: Maria, a filha predilecta do Pai, a esposa-mãe do Verbo e templo do Espírito Santo e, por isso mesmo, Mãe da Igreja comunhão, e a família, experiência de comunhão de amor, símbolo da aliança de Deus com o seu Povo e do amor de Cristo pela sua Igreja, sacramento de salvação como a própria Igreja o é, lugar privilegiado do amor e da adoração. Somos chamados a contemplar três expressões da encarnação do amor divino que é comunhão de pessoas: Maria, a Igreja, a Família.

Jesus anunciou este mistério de comunhão na promessa feita aos discípulos, a propósito da oração: “Também vos digo, se dois de vós, na terra, unem as suas vozes para pedir seja o que for, isso ser-lhes-á concedido por Meu Pai que está nos Céus. De facto se estiverem dois ou três reunidos em Meu nome, Eu estou no meio deles” (Mt. 18,19-20).

A leitura dos Actos dos Apóstolos narra-nos a primeira vez que os discípulos não se reuniram com Jesus fisicamente presente – Ele acabava de subir aos Céus – mas em nome d’Ele; e pela primeira vez Jesus cumpriu abundantemente a Sua promessa, tornando-se intensamente presente, através do dom do Espírito Santo. Essa reunião constitui a primeira imagem histórica da Igreja: os discípulos reunem-se em nome de Jesus, para rezarem a Deus Pai, movidos pelo dom do Espírito, que de todos eles faz um só, com a força da caridade. E Maria, qual semente do tempo novo, estava fisicamente presente nessa primeira concretização histórica da Igreja comunhão. Também ela congregada pelo Espírito, em nome de Jesus, aparece-nos como o ícone da própria Igreja, pois ninguém como ela é capaz da comunhão de amor. Estar ali, com os discípulos de Seu Filho, é fidelidade do seu amor maternal ao próprio Filho; a partir daquele momento, para ela, ser Mãe de Jesus é ser Mãe da Igreja. Jesus tinha-lhe anunciado esse desígnio, essa nova etapa da sua missão: “Mulher eis o teu filho” (Jo. 19,26).

Esta participação de Maria na primeira experiência de comunhão eclesial, selada com o dom do Espírito, ajudou a Igreja nascente a fazer dessa reunião em nome de Jesus, uma celebração da Sua Memória. É que estar reunido em Seu nome significa, necessariamente, estar com Ele no momento decisivo da Sua missão: a Páscoa. O Espírito Santo como força de Deus e Maria como ícone da Igreja, ajudam esta a centrar definitivamente a sua reunião na memória da Páscoa: “Fazei isto em Minha memória”. A Eucaristia reúne a Igreja, a Eucaristia faz a Igreja, a Eucaristia ajuda a Igreja peregrina a alegrar-se já com o banquete eterno.

2. Essa promessa de Jesus de estar no meio daqueles que se reúnem em Seu nome, encerra o mistério da família cristã e por isso ela é, como Maria, ícone da Igreja comunhão de amor.
Reunidos em nome de Jesus! A celebração do sacramento do matrimónio constitui uma etapa completamente nova na união de um homem e de uma mulher que começaram a amar-se com a força da “carne e do sangue” (cf. Jo. 1,13). Unidos a Cristo pelo baptismo, numa comunhão de fé e de amor, quando decidem unir-se um ao outro numa comunhão de vida e de amor, Cristo quer estar no meio deles, sempre e para sempre, e só não estará se O puserem fora ou não Lhe abrirem a porta. Por força do seu baptismo, a comunhão conjugal do homem e da mulher cristãos, tende a ser, por vontade de Jesus Cristo, uma comunhão a três, porque comunhão com Jesus Cristo. E o Senhor participa na especificidade do seu amor esponsal, pois também Ele ama a Igreja como uma esposa (cf. Efs. 5,25).

Que força esta comunhão de amor com Cristo pode trazer ao amor conjugal; é que só o amor esponsal de Cristo pela Igreja encaminhará os cônjuges cristãos na descoberta progressiva da riqueza e do sentido do seu amor esponsal. Desde aquele momento em que Cristo santificou o seu amor, os esposos cristãos são chamados sempre a reunir-se, para se unir, em nome de Jesus: a reunir-se na sua intimidade de ternura; a reunir-se para rezar, para apresentarem ao Pai, em nome de Jesus, as suas preces; a reunirem-se na refeição fraterna; a reunirem-se nos projectos e nas missões comuns, nas lutas da vida, na solicitude de pais, na vitória sobre as provações e os sofrimentos. Reunidos para estarem unidos, pois em todos esses momentos eles realizam o seu amor esponsal, sendo um em Cristo e com Cristo.
Reunidos em nome de Jesus, eles reúnem-se “em Sua memória”. A dimensão pascal do matrimónio, é a força do seu mistério escondido e a Eucaristia pode tornar-se a reunião decisiva da família, momento de renovação da sua aliança matrimonial ao ritmo da aliança de Deus com o seu Povo, festa das núpcias celebrada sempre de novo, aproximando-se em cada dia mais das núpcias eternas. A Eucaristia é o centro da família cristã, porque o é da Igreja; é que a família é imagem da Igreja, é a “Igreja doméstica”.

3. Mãe e Imagem da Igreja, Maria é o ícone da família cristã. Nova Eva, ela é a Mãe de todos os que renasceram em Cristo. Nela foi definitivamente vencida a maldição de Eva e restabelecida a dignidade da mulher. Segundo a primeira leitura, no Livro do Génesis, foi dito ao demónio: “Estabelecerei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a descendência dela” (Gen. 3,15). Maria é o anúncio jubiloso da dignidade da mulher na nova ordem da graça. Ela, a seduzida pelo demónio, vilipendiada pelo egoísmo e, tantas vezes, pela violência; ela, tantas vezes estigmatizada na sua fragilidade e considerada, injustamente, causa do pecado, aparece-nos triunfante, qual rainha saíndo do seu tálamo, ornada de virtudes, jubilosa na sua grandeza, terna na sua doçura. Ela a fraca, é agora o anjo protector; ela a sedutora, tornou-se na inspiração da generosidade, do sacrifício e do dom. Rainha da família, a mulher cristã é a mulher forte elogiada pelos livros sapienciais, a expressão da ternura, a afirmação da coragem, a defensora da comunhão. A mulher esposa e Mãe ocupa na família cristã o lugar que Maria ocupa na Igreja. Que Maria envolva hoje na ternura maternal do seu coração de mulher todas as famílias de Portugal e, de modo particular, as que se fizeram peregrinas do seu Santuário.

† JOSÉ, Cardeal-Patriarca

Fonte Ecclesia

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