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Fecharam-se as portas santas
2001-01-07 11:40:33

Jubileu do ano 2000 chegou ao fim. Durante todo o Ano Santo terão passado pela Basílica de S. Pedro mais de 25 milhões de pessoas, a uma média diária de 80 mil. Agora é tempo de balanço.

João Paulo II encerrou ontem a Porta Santa da Basílica de S. Pedro, no Vaticano, pondo assim termo ao Jubileu do ano 2000. Primeira constatação, em jeito de balanço: a resistência física do Papa surpreeendeu o mundo.
O Ano Santo teve o seu início na noite de Natal de 1999 e, desde então, o pontífice romano não faltou a nenhum dos eventos programados: esteve presente em três audiências gerais por semana, presidiu a 25 jubileus sectoriais - o primeiro foi a 2 de Janeiro, dedicado às crianças, e o último a 17 de Dezembro, para o mundo do espectáculo -, realizou três viagens - Egipto, Terra Santa e Fátima -, e cumpriu a profecia do primaz polaco, cardeal Stefan Wyszynski, pronunciada aquando da eleição de João Paulo II: "Conduzirás a barca de Pedro até ao terceiro milénio."

Pela Porta Santa da Basílica de S. Pedro terão passado mais de 25 milhões de pessoas, a uma média de 80 mil por dia durante o Ano Santo. Números astronómicos que seguramente fizeram muito jeito aos cofres quer da Santa Sé quer do município romano.

Os elementos contabilísticos, não são, no entanto, os mais relevantes. Enquanto acontecimento eclesial e, também, político, destacam-se alguns momentos que, sem dúvida, fizeram história, ficando, uns, gravados nas anais da reflexão universal, e, outros, nos equacionamentos da Igreja sobre si própria.

Quanto aos primeiros, terá sido com entusiasmo que alguns dos países mais pobres viram as suas dívidas externas parcialmente perdoadas, no seguimento dos apelos lançados pelo Papa. Segundo a organização britânica Jubileu 2000, tinham sido cancelados, até Novembro, 12 mil milhões de dólares de dívida a 12 países, esperando-se ainda chegar aos cem mil milhões, abrangendo 41 países. Em Moçambique, por exemplo, as despesas anuais com a dívida passaram de 127 milhões para 52 milhões de dólares.

Constituiu também uma marco importante a celebração em memória dos mártires do século XX, realizada no Coliseu de Roma a 5 de Maio. O Papa alertou as consciências para o facto de o século XX ter feito mais mártires do que a soma de todos os outros. Antes, a 12 de Março, pedira perdão a Deus pelos pecados dos filhos da Igreja contra a humanidade. Em Jerusalém, colocou um pergaminho no Muro das Lamentações, reiterando o pedido de perdão aos judeus. Aquela viagem ficou igualmente marcada pelo diálogo estabelecido com os religiosos judaicos e muçulmanos, apelando ao envolvimento na paz para o Médio Oriente. Gestos que a história universal registou e que, certamente, suscitaram novas reflexões sobre o modo como deve ser gerida a relação entre os povos e entre as religiões.

Quanto a acontecimentos voltados especificamente para a vida interna da Igreja, desde logo chamou à atenção os dois milhões de jovens que se reuniram com o Papa a 15 de Agosto, em Roma. Este evento ímpar demonstrou que, apesar do conservadorismo moral do pontífice romano, a Igreja consegue mobilizar a gente nova e, assim, a continuidade parece estar assegurada.

O documento Dominus Iesus, sobre a centralidade da salvação em Cristo por intermédio da Igreja, e a beatificação dos Papas Pio IX e João XIII suscitaram críticas e aplausos, trazendo ao de cima as divisões eclesiais internas. Ficou claramente demonstrado que o Papa cedeu a sectores antagónicos. Mas também é verdade que soube gerir muito bem as influências, conseguindo, no final, agradar a gregos e a troianos.

E foi precisamente o jogo de influências que permitiu aos observadores verificarem que a defesa do conservadorismo romano deixou de ter o seu eixo central apenas na Cúria da Santa Sé. De facto, o clericalismo hoje é mais laical do que clerical e são precisamente os movimentos laicais que maior número de vocações religiosas e sacerdotais estão a suscitar na Igreja, com gente que não reivindica direitos para os leigos. Por isso, o Papa, a certa altura, disse: "A hora é dos leigos." Este é, provavelmente, o sinal dos tempos a reter neste Jubileu.

Durante o Ano Santo também se falou muito sobre bioética e moral familiar, a par de grandes manifestações de massas. Só não se debateu a governação e a pastoral da Igreja. Ou, como alguém disse, "as portas dos templos não se fecharam para balanço". E ninguém acredita que se encerrem a partir de hoje, porque a mente dos movimentos laicais, e a dos que na Cúria trabalham, já está ocupada com uma pergunta urgente: "Quem vamos indicar para próximo Papa?"



Números

ROMEIROS. Visitaram Roma durante o Jubileu mais de 25 milhões de peregrinos e turistas, participando em cerca de 3400 eventos, entre celebrações religiosas e outras manifestações. Foram especialmente os visitantes oriundos dos Estados Unidos e do Japão que encheram os museus e igrejas de Itália.
VOLUNTÁRIOS. Foram cerca de 70 mil, havendo outros 32 mil em reserva para o caso de serem necessários.

TELEVISÃO. O Centro Televisivo do Vaticano criou o projecto TV Beyond 2000 para, com a colaboração de empresas de tecnologia de comunicações, transmitir ao mundo as celebrações do Ano Santo realizadas no Vaticano, disponibilizando gratuitamente o sinal televisivo.

GUINESS. Foi para onde entrou o encontro mundial de jovens realizado em Roma a 15 de Agosto. Foram mais de dois milhões que se encontraram com o Papa, constituindo o maior aglomerado de jovens a participar num mesmo acontecimento.

RESISTÊNCIA. João Paulo II, com os seus 80 anos, não faltou a nenhum dos 25 jubileus sectoriais realizados durante o Ano Santo, estando também presente em todas as audiências de quarta-feira, sábado e domingo, por onde passaram 4,5 milhões de participantes, batendo, assim, o recorde de presenças em público.

FILAS. Nos últimos dias do Jubileu as pessoas aguardavam entre três e quatro horas para conseguirem passar a porta santa da Basílica de São Pedro.

HOTÉIS. Registaram no ano 2000, 217 milhões de dormidas, um recorde absoluto.

CIFRÕES. As associações económicas italianas afirmam que nos cofres dos agentes económicos terão entrado durante o ano mais de cinco mil milhões de contos.


Fonte DN

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