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OU HÁ MORAL...
2002-09-30 21:57:11

O ministro da Educação está ‘debaixo de fogo’ por ter reintroduzido a disciplina de Religião e Moral no horário curricular do primeiro ciclo. Fomos falar com alunos adeptos e não adeptos da disciplina ...

Marta tem 25 anos e é católica convicta (embora "pouco praticante”). Quando se iniciou no ensino secundário — o que concidiu com a estreia numa escola pública — deparou-se com a opção da disciplina de Religião e Moral (RM). Tendo em conta que tinha vindo de um colégio religioso, a mãe decidiu inscrevê-la na disciplina por uma questão de coerência.

Doze anos depois, ela não se arrepende de ter frequentado as aulas de RM e diz que eram bastante úteis: “Debatiam-se muitos problemas da adolescência”, conta, acrescentando: Claro que à luz da moral. Mas não deixava de ser útil”.

A disciplina era facultativa e aparecia no final do horário escolar. Mas podia chumbar-se por faltas. Marta recorda-se da professora, uma licenciada em Teologia que, “embora sendo uma pessoa um pouco fechada sobre si própria, acabava por deixar os alunos expandirem-se” (e nessas idades, a provocação é um lema!).

Aversos à Religião e Moral, enquanto disciplina, eram os pais de Rui, 29 anos, na altura a frequentar uma escola do subúrbio da Capital.

Filho de pais “não crentes”, Rui conta que os seus progenitores estavam muito atentos à "armadilha" montada no questionário que dispensava a frequência da disciplina de RM.

“Havia claramente um truque na linguagem”, sublinha, explicando: “As opções eram ‘Prescindo’ e ‘Não prescindo’. Mas tendo em conta o nível de iliteracia que existe em Portugal, e o facto de uma das hipóteses ter um Não, é claro que muita gente escolhia a alínea do ‘Não Prescindo’, pensando estar a recusar a frequência da disciplina”.

Paula, hoje com 34 anos, foi das tais que se deixou “enganar” pela tal "armadilha". E por isso não se esquece das "famosas" aulas de Religião e Moral, no primeiro ano do ciclo, leccionadas por um padre “muito antipático e que dava umas aulas muito ‘chatas’".

A frequentar o liceu de uma vila pequena, recorda como a sala de aulas estava sempre cheia. “O meio era pequeno, parecia mal não ir”.

No futuro, quado tiver filhos, está segura de que não os vai mandar a essas aulas. Mas, curiosamente, até gostava que eles frequentassem a catequese. “Eles já têm um horário escolar pesado. A catequese é diferente; conhecemos a pessoa que dá as aulas e os miúdos não são obrigados a ir sempre".

Marta também não vê os seus futuros filhos nas aulas de Religião e Moral, mas diz que tentará colocá-los num colégio religioso até ao final do primeiro ciclo. “Considero que isso faz parte da formação mais elementar”, assegura, concluindo: “Mas a partir daí não vejo necessidade das aulas de Religião e Moral. Já é quase uma escolha deles”.

PS, PCP e Bloco de Esquerda estão “revoltados” com a reintrodução da disciplina de Religião e Moral no horário curricular do 1º ciclo do Ensino Básico. Mesmo sendo facultativa, a disciplina vai criar divisões dentro das turmas, colocando um problema aos pais que não inscrevam os seus filhos (já que não existe uma disciplina alternativa àquela).

A porta-voz do PS para a Educação e antiga secretária de Estado, Ana Benavente, afirmou ao "Expresso" que a medida “vai contra a Lei da Liberdade Religiosa e constitui um atentado à democracia, fazendo-nos regressar ao antes do 25 de Abril”. Salientando que “a escola pública é laica”, a responsável referiu ainda que os socialistas exigem o respeito pelas crianças que não participem nessas aulas, e que vão acabar por ser "excluídas" com esta medida.

Também a Fenprof (Federação Nacional dos Professores) e a Confederação Nacional das Associações de Pais manifestam o seu desagrado, aguardando com expectativa a sua promulgação pelo Presidente da República. As duas instituições falam em “discriminação” e em “confusão entre Estado e Igreja”.

A Juventude Socialista chama-lhe “tentativa de evangelização à força” e o PCP, mais radical, reclama que a disciplina nem sequer devia ser leccionada na escola pública.

Fonte CM

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