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Novos Caminhos para a informação religiosa
2002-09-17 21:02:21 Num mundo tão competitivo como o de hoje, também do ponto de vista religioso, temos de chegar antes dos outros e de uma forma mais convincente. Não estou a falar de concorrência desleal, de truques e ilusionismo, mas de uma Palavra que gerou vida e se fez carne e habitou entre nós, e que tem de continuar a ser proclamada e a gerar nova vida, semente de um mundo novo, em que Deus seja tudo em todos.
Neste planeta, feito aldeia global pelas técnicas da comunicação, Deus continua a ser um dos temas mais importantes. O problema é saber quem é Deus, o nosso Deus, num mundo com tantas expressões religiosas, muitas vezes a disputar a mesma clientela. Precisamos de purificar as nossas ideias religiosas com uma espécie de teologia negativa, à semelhança de Dionísio Areopagita, para chegarmos a expressões religiosas mais conformes com o verdadeiro rosto de Deus. Um cristão deverá estar convencido de que a expressão mais perfeita e mais sublime de Deus é a que encontramos em Jesus de Nazaré. E esta é uma Boa Nova para o mundo.
Boa Nova que passa através dos nossos gestos, das nossas técnicas, das nossas palavras. E... As palavras são boas. As palavras são más. As palavras ofendem. As palavras pedem desculpa. As palavras queimam. As palavras acariciam. As palavras são dadas, trocadas, oferecidas, vendidas e inventadas. As palavras estão ausentes. Algumas palavras sugam-nos, não nos largam: são como as carraças: vêm nos livros, nos jornais, nos slogans publicitários, nas legendas dos filmes, nas cartas e nos cartazes. (...)
Há também o silêncio. O silêncio, por definição, é o que não se ouve. O silêncio escuta, examina, observa, pesa e analisa. O silêncio é fecundo. O silêncio é a terra negra e fértil, o húmus do ser, a melodia caladasob a luz solar. Caem sobre ele as palavras. Todas as palavras. as palavras boas e as más. O trigo e o joio. Mas só o trigo dá pão. (José Saramago)
Em 1985, num livro que ensinava a realizar diaporamas, Francine Girard dizia que se uma imagem vale mil palavras, um diaporama vale bem um livro. Hoje o celulóide está a dar lugar ao digital, à apresentação multimédia, mas a técnica continua a ser a mesma: uma ideia visual é mais poderosa que uma ideia verbal. Esta formulação encontra-se num dos "sites" para levar o público a comprar os seus produtos gráficos.
Compreendemos facilmente que as técnicas se subordinam à mensagem, ao seu conteúdo, e neste caso à revelação cristã. A mensagem deveria sempre aparecer no seu estado mais puro, mas chegar ao coração e à mente das pessoas de uma forma atraente. As técnicas desempenham esta função. Pensam alguns que a mensagem depois de passar por uma série de efeitos técnicos mais ou menos elaborados deixa de ter seriedade. É como se de publicidade enganosa se tratasse e levasse a uma religião sem esforço e a um cristianismo de "de vez em quando", mais parecido com o ateísmo prático.
As novas e as velhas técnicas apenas servem para preparar o coração humano, para que acolha o trigo, a boa semente, e possa saborear e partilhar com os outros homens e mulheres, o Pão da Palavra, o Pão da Vida, Jesus Cristo.
E agora que estamos entendidos e deixámos o joio da desconfiança das técnicas na fogueira, vamos passar os olhos por algumas formas "modernas" de comunicação religiosa. Começamos pela Homilia, que, como dizem por aí, deve ter a força da mini-saia: alta, curta e provocante, e o poder inspirador do Espírito. Um scanner ou uma câmara digital e uma impressora a cores darão o brilho necessário aos cartazes da paróquia ou da instituição, para que ninguém fique do lado de fora, sem ler, sem ser atingido pela mensagem. Pelas mesmas razões e com técnicas cada vez mais refinadas, os jornais e as revistas continuarão a ser meios com futuro e a encher os olhos de muitas pessoas.
O computador, de que algumas pessoas ainda fogem, dar-nos-á em breve capacidade para estarmos todos "online" e com possibilidade de consultas em tempo real às bases de dados das várias dioceses e instituições religiosas de Portugal. É também uma forma de abrir mais janelas para o mundo e de arejar um pouco as intituições católicas e de dar lugar aos leigos, mais treinados nestas lides e nestas guerras. Trata-se de uma verdadeira guerra, para garantir segurança e fiabilidade aos dados obtidos e partilhados: documentos de baptismo, casamento e outros.
Com a banda larga (ADSL) a chegar à maioria dos lugares de Portugal, já sem a linha telefónica ocupada e os fiéis a queixarem-se que o padre está a navegar na net, e com custos fixos, sem os problemas de consciência ligados aos dinheiros e às muitas ligações à internet, seremos cada vez mais aqueles que acreditam no poder e nas funcionalidades da net. Temos um mundo à nossa frente. Cada qual vai pela sua estrada, faz os seus encontros. O mundo virtual também nos obriga a fazer escolhas, a separar o trigo do joio. Quantas portas se nos abrirão, quantas palavras poderemos "dizer", quantas vezes ouviremos as palavras de S. Paulo a ressoar dentro de nós: Ai de mim se não evangelizar!... Entre no site www.icq.com e experimente o poder do "chat". Quantas pessoas poderiam encontrar a palavra oportuna e no momento certo para orientar a sua vida?!
Já temos bastantes coisas para a liturgia, por exemplo, mas era interessante que quem quisesse aprender um cântico tivesse não apenas a letra mas também a melodia à distância de um clique. Na próxima jornada das comunicações sociais, talvez haja mais candidatos para celebrações interactivas. No próximo dia mundial das missões também em algumas paróquias se entrará, via telefone, em contacto com missionários e missionárias, durante a homilia. É tarefa das técnicas de comunicação ajudar a contruir um planeta mais humano e mais irmão.
A propósito do silêncio e da meditação, existe por aí, e bastante caro, um bom projector de vídeo que não chega a fazer o barulho de uma mosca e tem uma imagem muito boa. Os papéis fazem mais barulho. Um projector, um leitor de DVD e um portátil valerão por mil e um recortes de jornal ou fotocópias, na catequese e na liturgia.
A "técnica" mais difícil e mais frutuosa ficou para o fim: trata-se do testemunho de vida e da palavra profética que valem também por mil palavras e mil e uma técnicas. Ides receber uma força, a do Espírito Santo, que descerá sobre vós, e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, por toda a Judeia e Samaria e até aos confins do mundo. (Act 1,8)
Pe. Elísio Gama, SVD
(e.gama@verbodivino.pt)
Fonte Ecclesia
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