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Regresso às aulas
2002-09-13 22:22:01

Caderno em branco, lápis novo, são as imagens que nos ocorrem em cada Setembro. Frequentemente também, o retrato do João e da Maria, a “precisar de escola”. Depois do tempo de liberdade e, esperemos, convívio em família, observamos como o seu comportamento se modificou, o corpo deu “um salto”: o milagre do Verão é quase sempre um milagre de crescimento.

Se bem que há gerações reclamamos para o regresso às aulas novas oportunidades de desenvolvimento, aprendizagem, alguma ordem para disciplinar e muitas novidades para acabar com o aborrecimento do “não fazer nada” estival, nestes últimos tempos o que reivindicamos da escola é sobretudo que tome conta das crianças e adolescentes, cada vez mais cedo e mais tempo. Não escamoteando um problema grave para as famílias, o regresso às aulas é principalmente uma oportunidade de ter importantes experiências intelectuais e sociais, um instrumento de desenvolvimento pessoal e de grupo, uma ocasião de esforço, diversidade e alegria na descoberta.
Não há um regresso às aulas. Este retorno é sentido, perspectivado e vivido de formas muito diversas, de acordo com a idade e o momento de cada aluno.

A entrada no Jardim-de-infância constitui, muito frequentemente, para as crianças a primeira experiência de viver fora do âmbito familiar. E é uma outra família que a criança precisa encontrar nos adultos, assim como um grupo de pares que da mesma forma disputam atenção, cuidados e orientação. Primordial é aprender a conviver com pessoas que não “descem” até ela, antes a enfrentam com motivações e necessidades muito semelhantes, factor de socialização e descentração cognitiva de vital importância.

O ingresso no 1º ciclo constitui a porta da escolaridade formal. Aprender a lidar com os elementos da cultura oficial, mas também aprender a ser avaliado e certificado. É nos primeiros anos deste ciclo que a criança, ainda em busca de carinho e segurança, aprende a ser aluno, a estar na aula, a estudar, a participar nas actividades, a adquirir o comportamento de estudante e a desejar ser bem sucedida.

O 2º ciclo proporciona, através da pluri-docência, uma experiência fulcral de socialização. A escola não é um grupo, como a família, mas uma micro-sociedade, local de encontro entre diversidades e necessidades múltiplas. Ter muitos professores prepara para descobrir como as mesmas coisas podem ser feitas de variados modos, como no mesmo espaço se têm atitudes e fazem opções contrárias. Como saber negociar é essencial para defender as nossas escolhas. É a escola a recriar a sociedade.
No 3º ciclo já não é a escola que verdadeiramente faz propostas ao aluno, mas este que desafia a organização e a família. O início da adolescência é marcado por uma grande mudança física e psicológica e os alunos descobrem-se como alguém que quer coisas, que faz coisas, que tem poder para influenciar os acontecimentos.

Não se vai às aulas para aprender mas para estar com os amigos. Não se quer ouvir mas falar e discutir. As interrogações vocacionais estão a despertar, questionam-se colegas e adultos como quem fala ao espelho, procurando um traço capaz de mostrar algo “daquilo que sou”.
O interesse escolar regressa no Ensino Secundário, já há projectos de futuro em embrião, mas sente-se um poder muito grande dirigido para alterar das regras, para impor pontos de vista, para gerir a vida própria de forma independente. No entanto, ainda não se tem a segurança, o equilíbrio emocional nem a descentração intelectual suficientes para assumir todas as responsabilidades. Procuram-se modelos nos adultos, questionam-se os factos, reclamam-se oportunidades, treme-se perante as possibilidades de continuar a estudar ou encontrar um emprego satisfatório.

Finalmente, também se ingressa e regressa ao Ensino Superior. Depois de tanta batalha, valeu a pena? O regresso às aulas como caloiro é muito influenciado pelo desejo de gozar a vida que não se teve nos anos anteriores, inebriado pela liberdade de não se ser controlado, talvez de viver longe de casa. Pela opção de faltar às aulas, de adiar os exames, de fazer escolhas no currículo. Muito poucas vezes estes começos são sentidos como o início consciente de uma preparação profissional: o futuro do desemprego, da competição, ainda mora longe.
Seja como for, depois da família, a escola é o mais importante espaço de formação das mulheres e homens de amanhã. Há que lhes dar muitas oportunidades e grande atenção. É preciso compreender que cumpre igualmente uma função de ensino, e que deve ter tempo e espaço para aquilo que nenhuma outra agência social pode cumprir: dar aulas e ensinar matérias. Porque tudo isto é realmente importante, bom regresso às aulas!

Cristina de Sá Carvalho
Professora UCP


Fonte Ecclesia

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