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Um líder com fé
2002-08-24 10:42:29

O PAPA João Paulo II deixou claro, na recente deslocação à sua Polónia natal, que levará o pontificado até ao fim, afastando definitivamente os rumores acerca de uma eventual renúncia.

A posição do Sumo Pontífice da Igreja Católica Romana faz todo o sentido. Para os crentes - e são estes os que ele, em primeiro lugar, representa, em nome de quem age e fala -, o sucessor de Pedro é um líder espiritual que deve o seu lugar no Vaticano não a uma mera eleição de homens, mas sobretudo à intervenção divina do Espírito Santo no momento dessa eleição. Assim, uma renúncia por motivos de saúde, que faria sentido numa esfera racional e humana, perde qualquer significado no domínio espiritual. Como o Papa afirmou, existe um mistério da vida que só Deus conhece.


João Paulo II tem sido, aliás, um homem incómodo, como lhe compete. Se no campo estritamente político foi sempre favorável à liberdade - veja-se a sua acção no Leste ou em Cuba; se no campo do ecumenismo deu passos que nenhum outro Papa ousara dar, visitando sinagogas, igrejas ortodoxas e mesquitas, no plano ético e espiritual dedicou a sua vida a contrariar os sinais dos tempos. Viu milagres e canonizou santos numa época em que a espiritualidade e o transcendente pareciam ter chegado ao fim; opôs-se aos métodos contraceptivos quando eles pareciam tão vulgares e aceitáveis como beber um café; defendeu a castidade numa altura em que tal parecia ridículo... Numa palavra, defendeu a Igreja, procurando transformá-la num bastião inexpugnável (e por vezes inexplicável), ao pressentir que a cedência nestes e noutros pontos poderia acabar por destruir os fundamentos da própria religião de que ele é o primeiro sacerdote.

A resposta que teve nas suas inúmeras peregrinações indica que está a vencer a batalha.

Na Polónia, onde mais de dois milhões de pessoas estiveram com ele numa missa campal, esse sinal foi bem claro. Que coisa misteriosa pode, hoje, na Europa, levar um mar de gente a ouvir um velho de 82 anos, gravemente afectado pela doença de Parkinson, que nada lhes promete - nem empregos, nem escolas, nem hospitais, nem estradas, nem mais dinheiro ou mais saúde: apenas palavras, por vezes amáveis, por vezes duras, que integram a esperança de um mundo melhor, mais solidário, mais pacífico?

Talvez porque, num tempo de falta de lideranças, as pessoas precisem de um líder com fé.

Editorial do EXPRESSO - 24. 08. 2002

Fonte Expresso

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