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Destroços da fé num mar de lama
2002-08-23 21:18:27

Avançamos por uma das ruelas da Innere Altsdadt de Dresden (cidade velha), em direcção à Theaterplatz, e há uma caixa de plástico transparente, tipo urna de sufrágio eleitoral, que nos chama a atenção. O papel que lá colaram não pede votos, mas sim dinheiro, para comprar um órgão para a igreja. Está vazia. A caixa, pois a igreja está completamente cheia, de água e de lama.

A igreja não é, de forma alguma, um monumento. Chamam-le "kirch saal" (salão de igreja). Ao nível da rua onde puseram a caixa é como se fosse uma cave, mas do outro lado do edifício, o lado sobranceiro ao rio Elba, é o rés-do-chão. Tem várias portas, ainda parcialmente submersas, e uma boa quantidade de pessoas empenhadas em salvar o que já quase não tem salvação (falamos de coisas e não de almas, que não são para aqui chamadas).
São cerca de 600 os crentes que, habitualmente, frequentam este templo presbiteriano (o Catolicismo é coisa rara, e mesmo a belíssima Hofkirche é apresentada como "antiga igreja católica"). Entre eles está Irena Reichelt, de 27 anos, que fala connosco extenu
ada, à medida que vai retirando do interior inúteis sacos de areia. Inúteis e prejudiciais, explica: "Na segunda-feira, pusemos sacos de areia, na quarta pusemos mais sacos e na quinta já não havia nada a fazer. A água subiu muito depressa e, como tínhamos posto aqueles sacos todos, não conseguimos voltar a entrar para tentar salvar coisas".
"Deus não é para aqui chamado", diz Gerhard Kootz, também empenhado na missão de limpar a "casa". O problema, diz ele, é a "falta de prevenção e os trabalhos que se fizeram para a navegabilidade do Elba". "E a natureza", acrescenta, encolhendo os ombros, com
o o faz Klaus, empregado num café que fica no mesmo edifício, mas a um nível superior: "Aqui não foi muito mau, mas tivemos de andar com vassouras a afastara a água. 'The show must go on'...".

Em Dresden, a destruição é muita, mas há uma enorme vontade de recomeçar. Nos restaurantes, por exemplo, vão recuperando o mobiliário das esplanadas, lavam-no, põem-no ao sol a secar e, de imediato, puxam de verniz e trincha para o pôr operacional o mais depressa possível.
"Die Flutkatastrophe", isto é, a catástrofe das cheias, como aparece em todos os canais de televisão, segue para norte, vai afectando o estado da Saxónia-Anhalt e a sua capital (Magdeburgo) e é esperada em Hamburgo, perto da foz do Elba, com alguma descontracção.
Pensam eles que a intensidade da cheia se vai perdendo, à medida que os campos ficam alagados, mas há quem diga que estão enganados, e que nos próximos dias terão de se arrepender.

Fonte JN

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