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Património: Igreja da Merceana, uma jóia a salvar
2002-08-17 14:01:49

Alenquer tem nas igrejas de Nossa Senhora da Piedade da Merceana, de perfil mais erudito, e de Nossa Senhora dos Prazeres, de cariz mais popular, dois dos principais testemunhos do seu património sacro. Ambas constam do programa de intervenções que a DGEMN tem vindo a desenvolver na região e que gostaria de levar mais longe. Num dos casos, com carácter de urgência.

A Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais (DGEMN) está a envidar esforços no sentido de encontrar parcerias, nomeadamente via mecenato, que permitam intervir o mais rapidamente possível na Igreja de Nossa Senhora da Piedade da Merceana, um dos mais notáveis testemunhos do património sacro do concelho de Alenquer.

Classificada, há cinco anos, como Imóvel de Interesse Público, a igreja foi recentemente objecto de acções de recuperação exterior, entre 2000 e o ano em curso, mas continua a carecer de uma intervenção global nas alas interiores, de modo a travar aquele que é o seu mais grave problema - infiltrações de larga escala, em particular na capela-mor, derivadas da localização de parte do corpo da igreja.

"Fizemos um dreno exterior e verificou-se que o arco triunfal [uma das zonas de transição que, nestes casos, mais se ressente] continua com infiltrações por capilaridade", referiu ao DN Ana Rosa de Freitas, arquitecta da DGEMN. "A população fala da existência de uma "ribeira" no subsolo e tudo indica que, de facto, haverá aqui uma importante linha de água". O programa a seguir terá, naturalmente, que ter em conta o comportamento dos materiais. "Ideal seria ver em que ponto está o nível freático, mas as opções a tomar terão de ser muito bem ponderadas", lembra, "estando pedra e fundações habituadas há muito a este habitat".

Não há, no entanto, dúvidas de que uma intervenção global nos interiores se põe com carácter de urgência. "A capela-mor é absolutamente prioritária", lembra Ana Rosa de Freitas, "estando, como está, a perder-se pouco a pouco". O fragilizado estado de conservação dos tectos, em particular o da capela-mor, com camadas pictóricas já impossíveis de distinguir, diz bem das capacidades de deterioração associadas à água, de longe o mais agressivo de todos os agentes naturais.

Noutras alas já intervencionadas, nomeadamente nas paredes adjacentes ao acesso ao piso superior, o salitre cresce, camada a camada. Uma dessas paredes, recentemente tratada, está próxima da capela-mor, cuja riqueza decorativa, nomeadamente em talha e azulejo, não se compadece com o facto de muitas das peças e mecanismos do altar-mor estarem literalmente presos por fios. Um quadro de lento declínio que, apesar de tudo, não consegue ofuscar a extraordinária beleza desta igreja, de três naves e cariz erudito, maioritariamente barroco.

As últimas estimativas visando uma intervenção de fundo nos interiores do templo da Merceana apontam, no entanto, para verbas da ordem de um milhão de euros (200 mil contos), investimento que a DGEMN, sozinha, não pode neste momento suportar. As frentes de trabalho já concluídas - num custo da ordem dos 233 mil euros, comparticipados, em parte, pela paróquia - versaram, no essencial, a instalação de novas coberturas na nave, capela-mor e anexos, revisão geral de madeiramentos, tratamento da pedra e remodelação da instalação eléctrica. Seguir-se-iam trabalhos de conservação e restauro do tecto da sacristia, em caixotões de talha que ameaçavam ruir, e do altar-mor primitivo, aí instalado.

Dados os custos de uma intervenção global na Merceana, a necessidade de uma parceria põe-se, assim, com redobrada acuidade. De resto, e dada a coincidência de este ser o ano do 5.º centenário do nascimento de Damião de Góis, figura tutelar de Alenquer, esse seria um dos melhores tributos que se lhe poderiam prestar. Ao humanista e a essa mulher de excepção que foi D. Leonor, cujo empenho pessoal em prol das artes e da assistência aos outros fez dela mais que uma rainha. A Merceana foi fruto desse empenho.

Fonte DN

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