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VISITA SENTIMENTAL A CRACÓVIA
2002-08-17 14:25:23

Milhares de peregrinos inundaram ontem Cracóvia para receber o Papa João Paulo II, que aí chegou no final da tarde para dar início aos quatro dias da sua nona visita oficial à Polónia. Ao contrário de viagens anteriores, em que chegou a visitar 20 cidades numa só semana, esta visita, de carácter marcadamente sentimental, vai ter de confinar-se a Cracóvia e região circundante, onde Karol Wojtyla nasceu, passou a infância e ainda boa parte da sua vida adulta.

Cerca de 10 mil pessoas saudaram o Papa no aeroporto. Galvanizado pela recepção entusiástica e pela alegria do regresso a casa, João Paulo II desceu do avião sem qualquer auxílio, antes de subir para uma plataforma rolante a bordo da qual saudou a multidão com um sorriso de evidente alegria nos lábios.

O presidente Polaco, Aleksander Kwasniewski, saudou o Papa fazendo votos para que o amor dos polacos opere “uma cura milagrosa” , levando-o a superar os males que o afligem. Por seu lado, João Paulo II dirigiu as suas primeiras palavras ao povo polaco, a quem pediu “para deixar de ter medo”.

A euforia que rodeia a visita faz esquecer o facto de o país natal do Papa ser um dos destinos por ele repetidamente escolhidos desde que, em 1978, foi eleito para suceder a João Paulo I. Mas a verdade é que os polacos, 80% dos quais se dizem católicos praticantes, consideram Wojtyla um herói nacional; uma espécie de rei sem coroa. Não espanta por isso que sejam esperados em Cracóvia cerca de 4,5 milhões de peregrinos, na sua maioria polacos, tanto mais que, à semelhança do que aconteceu em 1999, data da última visita do Papa ao seu país natal, os observadores consideram que esta é, para o Papa, a despedida dos lugares onde passou a infância e a juventude.

O estado de saúde e a idade avançada de João Paulo II justificam esta análise, reforçada ainda pelo facto de a agenda da visita incluir romagens de saudade e nostalgia a lugares que marcaram a vida pessoal do Papa.

Cracóvia, antiga capital real polaca - que dista escassos 50 km de Wadovice, onde Karol Wojtyla nasceu em 18 de Maio de 1920 -, é a cidade onde fez os seus estudos de Filosofia, onde em 1940 vivia quando as bombas alemãs espalhavam destruição e morte, e onde preparou secretamente o sacerdócio, a partir de 1942, durante a ocupação nazi e as perseguições que se seguiram. É ainda a cidade da qual se tornou arcebispo aos 44 anos de idade.

Daí que a breve estada do Papa em Cracóvia tenha todos os ingredientes de um regresso às origens. Entre os locais da “peregrinação interior” de João Paulo II contam-se visitas à catedral de Wawel, onde foi ordenado em 1946, e ao cemitério de Rakowice, onde se encontram sepultados os seus pais. Além disso, e antes de, segunda-feira, regressar a Roma, um helicóptero vai levá-lo a sobrevoar a sua terra natal e as montanhas Tatra, que tantas vezes escalou na juventude.

Mas nem tudo na visita à Polónia é de carácter puramente sentimental. A agenda inclui, como ponto alto, uma missa campal a celebrar no domingo no parque Blonia, onde são aguardados cerca de três milhões de fiéis. Além disso, o Papa consagrará a nova basílica de Lagiewmiki, nos arredores de Cracóvia e beatificará quatro pessoas, entre elas o padre polaco Zygmunt Felinski, que no séc. XIX propagou o catolicismo pela Rússia.

Isso não evitou que o clima de nostalgia e despedida da visita tenha reacendido os rumores cíclicos sobre a renúncia de João Paulo II. Houve mesmo quem tenha falado de um provável retiro para um mosteiro de Czerna, que frequentou na juventude e onde gozaria os anos de “reforma”.
Tudo isto foi negado pelo Vaticano e desmentido na prática pela programação de novas viagens, caso da visita a Manila, Filipinas, prevista para Janeiro do próximo ano.

Fica, assim, reforçada a ideia de que, enquanto tiver forças, continuará, não só a presidir à Igreja Católica, como a cumprir o seu programa de abertura ao Mundo e apostolado da fé, da justiça e dos direitos humanos.

Fonte CM

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