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Mensagem de Natal do Patriarca de Lisboa
2001-01-03 22:29:41

MENSAGEM DE NATAL
DE SUA EMINÊNCIA REVERENDÍSSIMA
O SENHOR D. JOSÉ DA CRUZ POLICARPO
PATRIARCA DE LISBOA
Natal de 2000


1. É com imensa alegria que me dirijo a vós, nesta noite de Natal. Trago-vos a mensagem da Igreja. E esta só pode ser acerca de Jesus Cristo. Celebramos hoje os dois mil anos do Seu nascimento. E para o Povo onde nasceu, Ele era esperado como o sinal da proximidade de Deus. O homem precisa de sentir Deus próximo, a envolvê-lo com a sua ternura de Pai. Em Deus está escondido o segredo da felicidade do homem.
A mensagem de Jesus revelou-nos o horizonte da vida feliz, plenamente vivida. Ensinou-nos a tratar Deus como um Pai e todos os homens como irmãos. Falou-nos de paz, de justiça, de verdade, de liberdade. Revelou-nos que a alegria de viver se descobre na alegria de servir. Falou-nos da vida como coragem generosa, como ideal. Denunciou os egoístas, os avarentos, os prepotentes, os violentos e os impuros de coração e proclamou bem-aventurados os construtores da paz.
Nestes dois mil anos Ele foi generosamente seguido por homens e mulheres que se tornaram seus discípulos, que procuram viver, unidos a Ele pela fé e pela fidelidade, a sua mensagem. Esses, os cristãos, chamados a viver a sua mensagem, são por Ele enviados a proclamá-la, sempre de novo, como feliz notícia para uma humanidade que procura o seu rumo. Em Seu nome, esses discípulos continuam a dizer aos homens do nosso tempo: homens, sede plenamente homens.
Mas eu sei que a esta mensagem de Jesus são sensíveis todos os homens e mulheres de coração recto. Seja qual for a experiência religiosa de cada um, no íntimo do coração daqueles que não abdicaram da liberdade generosa, há um desejo de verdade, um anseio de paz e de justiça, há uma busca do absoluto. O Evangelho de Jesus Cristo trouxe ao mundo essa novidade: unir na beleza de uma mensagem, o que de mais belo há em todos os corações humanos, em todos os tempos, em todas as religiões e culturas.
O encontro “Religiões e culturas em diálogo”, recentemente realizado em Lisboa, fez-nos experimentar essa vivência maravilhosa. Para além das diferenças, que ninguém negou, encontrámo-nos no que de mais belo há no coração do homem. A nossa cidade inundou-se de luz e de esperança. E essa luz anunciou a alegria das iluminações de Natal, pois encontrámo-nos para celebrar o Jubileu dos 2000 anos do nascimento de Jesus Cristo.
Simbolicamente o Presépio, erigido em plena Lisboa, irradia a sua luz sobre a cidade. Que ninguém recuse a luz. Deixemos cair mágoas e preconceitos e deixemos que a mensagem de Jesus preencha, no nosso coração, o vazio de amor e de verdade que espera por ela.
Peço-vos a vós, irmãos e irmãs que acreditais em Jesus Cristo, que vos unais a mim numa saudação fraterna aos crentes de outras religiões: aos nossos irmãos Judeus, Povo que legou à humanidade a esperança messiânica e o próprio Jesus Cristo; aos nossos irmãos Muçulmanos, herdeiros da fé de Abraão num Deus Único e Omnipotente, fonte de bondade, de vida e de paz; a todos os outros crentes em Deus, que procuram no respeito pelo silêncio do mistério ou na dimensão transcendente do próprio universo; a todos os homens e mulheres que, sem terem o dom da fé, buscam o sentido nobre da vida, assente em valores de paz, de fraternidade e de justiça. A todos eu digo: Cristo nasceu para todos, morreu por todos, a todos ama e conhece. Como eu desejaria que a minha saudação de Natal tivesse o encanto da Sua ternura, o ardor do Seu amor, a clareza da Sua verdade.

2. Narra-nos o Evangelho que a família de Jesus estava deslocada no momento do Seu nascimento, tendo Maria dado à luz em situações precárias de emergência; e que pouco tempo depois, para fugir à perseguição, tiveram de emigrar para o Egipto. O drama dos deslocados atravessa a humanidade de todos os tempos; os perseguidos, que buscam noutros países a segurança por que anseiam; os pobres, que partem à procura dos meios necessários de subsistência. Quanto sofrimento se mistura à utopia do desejo.
O nosso país tem sido, nos últimos tempos, pátria de refúgio de milhares e milhares de deslocados que procuram, entre nós, uma vida melhor. Mas trazem consigo o drama do desenraizamento cultural e familiar, a insegurança da clandestinidade, a ameaça da exploração fácil e indefesa. Vêm de vários lados, do Sul e do Leste, representam raças, línguas e culturas diferentes, têm em comum a insegurança da precariedade e o anseio de uma vida mais digna. Para esses milhares de homens e mulheres nossos irmãos, vai nesta noite a minha saudação especial. A Igreja quer ajudar-vos, quer ser a casa acolhedora, a família que vos recorda a família que está lá longe, a comunidade onde vos sintais pessoas. Que este Natal, para muitos o primeiro passado na nossa terra, vos traga a alegria possível, alimentando em vós a esperança.
Portugal tornou-se importante terra de acolhimento: oxalá cada português vos acolha como irmãos, que os patrões vos tratem com justiça, que ninguém cometa o pecado de se aproveitar da vossa insegurança, e que o Estado, na complexidade dos problemas, possa encontrar caminhos inovadores de uma legislação justa, criativa, protectora das pessoas. Que a estrela do Natal vos possa anunciar a esperança.
Tantos portugueses viveram, na sua carne, essa deslocação em terra estranha. Hoje constituem comunidades que, sem perderem a sua identidade cultural, se sentem integrados nos países que os acolheram. Somos, também por isso, um povo preparado para acolher. Para todos esses portugueses, pelo mundo repartidos, vai a minha saudação nesta noite de Natal.
Que para todos vós seja Natal. Isso significa abrir os nossos corações à beleza que nos vem do alto, à alegria que nos vem dos outros, à esperança que renasce do nosso próprio sofrimento.


† JOSÉ, Patriarca de Lisboa

Fonte Ecclesia

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