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MAIS JOVENS NO SACERDÓCIO
2002-08-11 11:05:08

A opção pelo celibato está a aumentar entre os jovens portugueses e na década de 90 foram ordenados mais 160 padres do que na de 80, de acordo com as estatísticas oficiais da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP).

Não obstante a falta de padres ser uma realidade em quase todas as dioceses, o que traz preocupado o episcopado, na última década registaram--se 475 ordenações, contra 315 na década de 80 e 284 na de 70. A diocese de Lamego, por exemplo, acolheu ontem cinco novos presbíteros, o que é um sinal de esperança para a Igreja Católica Portuguesa, a braços com diversos indicadores negativos: as matrículas nos seminários estão a diminuir, as entradas nos institutos religiosos são cada vez menos e o aumento das ordenações não supera as baixas por óbito e aposentação.
"Temos procurado sensibilizar os vários sectores da pastoral e pedir à catequese, aos que trabalham com os jovens e às famílias para falarem na dimensão vocacional", disse ao Correio da Manhã o bispo D. Gilberto dos Reis, presidente da Comissão Episcopal para o Clero, Seminário e Vocações.
Na verdade, desde os anos 60 que o acesso ao presbitério não era tão procurado pelos jovens portugueses. Trata-se de um balão de oxigénio indispensável para uma Igreja que luta para adaptar-se a uma sociedade em mudança, onde o sucesso individual é privilegiado. Se os anos 70 marcaram a primeira ruptura, pela negativa, com 284 ordenações contra 453 nos últimos cinco anos da década anterior, os anos 90 representam, pela positiva, um regresso a índices semelhantes aos que se verificaram antes do 25 de Abril de 1974. Esta tendência de crescimento ocorre sobretudo a Norte do rio Tejo, pois no Sul a crise de vocações continua a ganhar terreno. A estatística dos últimos dois anos demonstra que no Norte e Centro surgiram 46 novos padres, contra apenas 14 a Sul. Em 1994 a mesma relação é de 32 para 6 e em 1998 de 29 para 8.
Aprofundando a análise, contudo, conclui-se que o total de presbíteros em todo o País é insuficiente e continua a cair, devido ao grande número de óbitos, existindo cada vez mais padres com várias paróquias a seu cargo. Na Diocese de Beja, por exemplo, há 117 paróquias e somente 43 sacerdotes diocesanos em serviço pastoral.
Para o bispo D. António Marcelino, vice-presidente da CEP, a explicação reside no enfraquecimento da fé e no abandono de determinados valores fundamentais. "Hoje as pessoas querem o imediato. Tudo o que implica um compromisso definitivo entrou em crise", argumenta. *Com Iolanda Vilar, em Lamego. A Diocese de Lamego surge como uma excepção à falta de vocações porque, em comparação com outras administrações eclesiásticas, tem ordenado um número considerável de sacerdotes. Ontem, foram ordenados cinco novos padres, numa cerimónia realizada na Sé Catedral de Lamego, presidida por D. Jacinto Botelho, Bispo da Diocese. O Bispo de Lamego considera que, tendo em conta a crise generalizada de vocações religiosas e missionárias, devido a uma série de factores que vão desde "a perda de valores" ao facto de haver cada vez menos nascimentos, as cinco ordenações deste ano, "são um número muito significativo e mais não é do que um importante sinal do nosso esforço". Os padres casados portugueses continuam à espera que a Santa Sé os autorize a presidir à consagração eucarística, sublinhando que o celibato não faz parte dos dogmas fundamentais da fé católica. A Associação de Padres Casados (APC), fundada há quatro anos, foi reconhecida pela Assembleia Episcopal Portuguesa em 2001 e conta já com mais de uma centena de membros. De acordo com o cónego Filipe Figueiredo, assistente espiritual da APC, "um ou outro já não pensa nisso, mas a maioria dos padres casados portugueses está disponível para celebrar missa", como fazia antes de optar pelo matrimónio". O cónego sublinha que se trata de homens que "estão dentro da Igreja, foram autorizados a casar", mantendo a fé que os levou a aceder ao presbitério. Embora não tenham qualquer exigência perante a Igreja Católica, os padres casados continuam à espera "da hora oportuna e da autorização da Santa Sé" para voltar a presidir às eucaristias. Segundo o assistente espiritual da APC, "em qualquer momento o Papa pode autorizar" a celebração da missa, pois esta é uma questão "de carácter jurídico", em que "não há fundamentação teológica".
Ao contrário dos sacerdotes celibatários, que têm vindo a diminuir, em Portugal os padres casados passaram de 43 em 1989 para mais de 100 em 2002, revelou Filipe Figueiredo.
Os indicadores que preocupam a hierarquia nacional da Igreja Católica são vastos e o próprio cardeal-patriarca, D. José Policarpo, já disse ser "urgente estruturar uma vasta pastoral das vocações".
Renovar as comunidades religiosas, adaptar o diálogo com os fiéis, aprofundar a iniciação cristã e apostar na divulgação do evangelho são as medidas que os bispos D. António Marcelino e D. Gilberto dos Reis preconizam, de modo a salvar a Igreja portuguesa de uma crise de vocações semelhante à dos anos 70.
O Papa João Paulo II considera a promoção das vocações sacerdotais e das vidas consagradas como uma preocupação prioritária que deve atravessar a Igreja Católica no Mundo. Na mensagem proferida por ocasião do Dia Mundial de Oração pelas Vocações, a 21 de Abril último, o Santo Padre apelou a "um renovado empenho ao serviço das vocações", que apelida de "bens preciosos". "Toda a vocação na Igreja está ao serviço da santidade. Todavia algumas, como a vocação ao ministério ordenado e à vida consagrada, fazem-no de modo singular. É para essas que eu convido todos a olhar com particular atenção", referiu. Sendo "dever primário da Igreja dar acompanhamento aos cristãos pelos caminhos da santidade", o Santo Padre sublinha que os bispos e os presbíteros são os primeiros a quem cabe dar testemunho da dimensão do celibato. João Paulo II considera que a descoberta de vocações é também "um papel decisivo" das famílias, em especial através da "participação na vida da comunidade cristã" e da "abertura para os outros, sobretudo os mais pobres".
"A escassez de candidatos ao sacerdócio e à vida consagrada, que se regista em alguns contextos actuais, deve impelir a uma maior atenção na selecção e na formação", afirma na mensagem de 21 de Abril sobre "um dos problemas cruciais da Igreja".

Fonte CM

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