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Escavações em Marco de Canaveses Descobrem Antiga Basílica
2002-07-21 13:53:02

A Igreja Paroquial do Freixo, no concelho de Marco de Canaveses, está transformada num autêntico reboliço. No seu interior decorrem escavações arqueológicas e uma dezena de jovens mexe-se cuidadosamente. Com as mãos e pequenos utensílios revolvem terras, pedras, paus e ossadas. Tudo é feito com muita atenção e cuidado.

E percebe-se porquê: há cerca de três semanas, foi descoberto neste templo um dos mais antigos e interessantes vestígios cristãos em território português.

As escavações arqueológicas estão a ser levadas a cabo no âmbito das obras de restauro da igreja do Freixo e são da responsabilidade do Instituto Português do Património Arquitectónico (Ippar), instituição responsável pela Estação Arqueológica do Freixo, um dos mais prestigiados núcleos arqueológicos do país, no interior do qual se situa o templo em causa. Nas últimas semanas, as escavações puseram a nu diversos painéis de mosaicos policromados decorados com a antiga simbologia cristã - a cruz grega - que provam a anterior existência de uma basílica paleo-cristã naquele local.

Dado o "valor excepcional" do achado, o Ippar decidiu já, em conjunto com a paróquia local, desenvolver nesta igreja um projecto de musealização. Para isso, as duas entidades preparam-se para acordar os termos de um protocolo com vista à construção de uma nova igreja para o culto religioso (ver caixa).

A descoberta dos vestígios cristãos veio dar novo alento às escavações arqueológicas que há cerca de duas décadas se desenvolvem na Área Arqueológica do Freixo, onde outrora se localizou uma importante cidade romana, então denominada por Tongobriga. Erguida no século I, esta cidade terá atingido a sua pujança máxima no século II.

Além de revelar a localização de uma antiga basílica cristã, a recente descoberta dá uma nova perspectiva histórica sobre toda área em investigação. "É uma peça determinante em Tongobriga", sublinha Lino Tavares Dias, responsável da Estação Arqueológica do Freixo e director regional do Porto do Ippar.

Antes desta descoberta, além de um documento escrito do século VI - o "Paroquial Suévico", um manuscrito que apresenta uma listagem da organização administrativa e eclesiástica dos primeiras paróquias do cristianismo em território português, que refere a existência da paróquia de Tongobriga - não havia nenhum vestígio arqueológico que permitisse provar a existência da ocupação de Tongobriga para além do século V. "Apesar de já terem sido encontrados materiais avulsos dos séculos VI e VII nas áreas habitacionais, não encontrámos nenhuma construção nova destes séculos. Tudo indicava assim que, no fim do império romano, a cidade entrou em declínio e deixou de ter capacidade de se renovar", explica António Lima, responsável pelas investigações arqueológicas.

Mas, com base no "Paroquial Suévico", a comunidade arqueológica nunca perdeu as esperanças de encontrar vestígios dessa paróquia cristã. Na sua tese de doutoramento apresentada em 1995, Lino Tavares Dias deixa bem clara a sua suspeita de que a actual igreja do Freixo pudesse estar sobreposta à primitiva igreja cristã.

E foi precisamente isso que agora foi possível comprovar. A surpresa foi total. Não tanto pela descoberta em si, mas pela qualidade dos vestígios encontrados. É que apesar dos inúmeros enterramentos que foram feitos na igreja do Freixo ao longo dos últimos 1000/1100 anos - até 1908, este templo foi o cemitério paroquial da aldeia -, bem como das sucessivas reconstruções de que foi objecto, foi possível encontrar diversos painéis com o pavimento da antiga basílica, fragmentados por um conjunto de sepulturas. Entre os fragmentos de mosaicos descobertos - em tons de branco, cinzento, amarelo e vermelho -, está uma faixa de cruzes que se estende ao longo de toda a nave que prova o culto cristão.

"Foi uma sorte isto ter-se preservado. Com tantas reconstruções e enterramentos era de suspeitar que não encontrássemos mais do que vestígios dos alicerces da basílica. Mas a verdade é que encontrámos pavimentos da antiga basílica e, embora estejam cortados por uma série de sepulturas, o que constitui um testemunho único e inédito é o facto de termos encontrado muitas partes preservadas!", sublinha António Lima.

A nova descoberta, acrescenta Lino Tavares Dias, confirma o "Paroquial Suévico" de uma "forma muito especial": "Mostra que a tecnologia de construção desta basílica era de qualidade", o que "põe em causa ou, pelo menos, atenua a ideia de crise profunda que se dizia do século VI". Ou seja: o valor "excepcional" dos painéis de mosaico encontrados em Tongobriga, construídos com tecnologia romana, mas com simbologia cristã, reside sobretudo no facto de estes não confirmarem a ideia generalizada de retrocesso do cristianismo.

Fonte Público

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