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UM RENOVADO COMPROMISSO DA VIDA CONSAGRADA: PARTIR DE CRISTO - IV e última parte
2002-06-29 09:37:07

TESTEMUNHAS DO AMOR

Reconhecer e servir a Cristo

33. Uma existência transfigurada pelos conselhos evangélicos torna-se testemunho profético e silencioso, mas, ao mesmo tempo, protesto eloqüente contra um mundo desumano. Ela compromete com a promoção da pessoa e desperta uma nova fantasia da caridade. Isso se vê nos santos fundadores. Manifesta-se não só na eficácia do serviço, mas sobretudo na capacidade de fazer-se de tal modo solidário com quem sofre, que o gesto de ajuda seja sentido como partilha fraterna. Esta forma de evangelização, realizada através do amor e da dedicação nas obras, assegura um inequívoco testemunho à caridade das palavras.105


A vida de comunhão representa, por sua vez, o primeiro anúncio da vida consagrada, porque é sinal eficaz e força persuasiva que leva a crer em Cristo. A comunhão, então, faz-se missão, ou melhor «a comunhão gera comunhão e reveste essencialmente a forma de comunhão missionária».106 As comunidades encontram-se desejosas de seguir a Cristo pelas estradas da história do homem,107 com um empenho apostólico e um testemunho de vida coerente com o próprio carisma.108«Quem verdadeiramente encontrou Cristo, não pode guardá-lo para si; tem de o anunciar. É preciso um novo ímpeto apostólico, vivido como compromisso diário das comunidades e grupos cristãos».109

34.Quando se parte de Cristo, a espiritualidade de comunhão se torna uma sólida e robusta espiritualidade da ação dos discípulos e apóstolos do seu Reino. Para a vida consagrada, isso significa empenhar-se no serviço aos irmãos nos quais se reconhece o rosto de Cristo. No exercício desta missão apostólica, ser e fazer são inseparáveis pois o mistério de Cristo constitui o fundamento absoluto de toda ação pastoral.110 A contribuição dos consagrados e das consagradas à evangelização «consiste, primariamente, no testemunho de uma vida totalmente entregue a Deus e aos irmãos, à imitação do Salvador que se fez servo, por amor do homem».111 Na participação na missão da Igreja, as pessoas consagradas não se limitam a dar uma parte de seu tempo, mas toda a sua vida.

Na Carta Novo millennio ineunte, parece que o Papa gostaria de impulsar ainda mais no sentido de um amor concreto aos pobres: «É de se esperar que o século e o milênio que estão a começar hão de ver a dedicação a que pode levar a caridade para com os mais pobres. Se verdadeiramente partimos da contemplação de Cristo, devemos saber vê-lo sobretudo no rosto daqueles com quem Ele mesmo se quis identificar: “Porque tive fome e destes-me de comer, tive sede e destes-me de beber; era peregrino e recolhestes-me; estava nu e destes-me de vestir; adoeci e visitastes-me; estive na prisão e fostes ter comigo” (Mt 25, 35-36). Esta página não é um mero convite à caridade, mas uma página de cristologia que projeta um feixe de luz sobre o mistério de Cristo. Nesta página, não menos do que o faz com a vertente da ortodoxia, a Igreja mede a sua fidelidade de Esposa de Cristo».112 O Papa oferece ainda uma direção concreta de espiritualidade quando convida a reconhecer na pessoa dos pobres uma presença especial de Cristo, que impõe à Igreja uma opção preferencial por eles. É através de uma tal opção que também os consagrados113 devem testemunhar «o estilo do amor de Deus, a sua providência e a sua misericórdia».114

35. O campo no qual o Santo Padre convida a trabalhar é vasto como o mundo. Abeirando-se deste cenário, a vida consagrada «deve aprender a fazer o seu ato de fé em Cristo, decifrando o apelo que Ele lança a partir deste mundo da pobreza».115 Harmonizar a inspiração universal de uma vocação missionária com a inserção concreta num contexto e numa Igreja particular será a exigência primária de toda atividade apostólica.

Às antigas formas de pobreza, acrescentaram-se novas: o desespero da falta de sentido, a insídia da droga, o abandono na idade avançada ou na doença, a marginalização ou a discriminação social.116 A missão, em suas formas antigas e novas, é antes de tudo um serviço à dignidade da pessoa numa sociedade desumana, porquanto a primeira e mais grave pobreza do nosso tempo é pisotear com indiferença os direitos da pessoa humana. Com o dinamismo da caridade, do perdão e da reconciliação, os consagrados se dedicam a construir na justiça um mundo que ofereça novas e melhores possibilidades à vida e ao desenvolvimento das pessoas. A fim de que uma tal intervenção seja eficaz, urge cultivar um espírito de pobre, purificado de interesses egoístas, disposto a executar um serviço de paz e de não-violência, numa atitude solidária e cheia de compaixão pelo sofrimento alheio. Um estilo de proclamar as palavras e de realizar as obras de Deus, inaugurado por Jesus (cfr. Lc 4, 15-21) e vivido pela Igreja primitiva, que não pode ser esquecido com o concluir-se do Jubileu ou a passagem de um milênio, mas que procura, com maior urgência, a realização na caridade de um diferente porvir. É preciso que se esteja preparado para pagar o preço da perseguição, pois, no nosso tempo, a causa mais freqüente do martírio é a luta pela justiça na fidelidade ao Evangelho. João Paulo II afirma que este testemunho, «também recentemente, conduziu ao martírio alguns de vossos irmãos e irmãs em várias partes do mundo».117

Na fantasia da caridade

36. Através dos séculos, a caridade sempre constituiu, para os consagrados, o âmbito onde se vive o Evangelho concretamente. Nela valorizaram a força profética dos seus carismas e a riqueza da sua espiritualidade na Igreja e no mundo.118 Reconheciam-se, com efeito, chamados a ser «epifania do amor de Deus».119É necessário que tal dinamismo continue a exercitar-se com fidelidade criativa, já que ele constitui uma fonte insubstituível no trabalho pastoral da Igreja. Na hora em que se invoca uma nova fantasia da caridade e uma autêntica afirmação e comprovação da caridade das palavras com a das obras,120 a vida consagrada observa com admiração a criatividade apostólica que fez florescer milhares de rostos da caridade e da santidade em formas específicas, não podendo, todavia, não sentir a urgência de continuar, com a criatividade do Espírito, a surpreender o mundo com novas formas de amor evangélico efetivo para as necessidades do nosso tempo.

A vida consagrada quer refletir sobre os próprios carismas e as próprias tradições, para pô-los a serviço das novas fronteiras da evangelização. Trata-se de avizinhar-se aos pobres, idosos, dependentes químicos, enfermos de Aids, exilados, pessoas, em geral, que padecem todo tipo de sofrimentos pela sua realidade particular. Com a atenção concentrada sobre a mudança de modelos, posto que não se considera mais suficiente a mera assistência, procura-se erradicar as causas das quais se origina a necessidade. A pobreza dos povos é causada pela ambição e pela indiferença de muitos e por estruturas de pecado que devem ser eliminadas, também com um compromisso sério no campo da educação.

Muitas fundações, antigas e recentes, levam os consagrados a lugares aonde outros habitualmente não podem ir. Nestes anos, consagrados e consagadas têm sido capazes de deixar a segurança do já conhecido para lançarem-se em direção a ambientes e ocupações até então desconhecidos para eles. Graças à sua total consagração, são livres de fato para intervir onde quer que haja situações críticas, como demonstram as fundações recentes nos novos Países que apresentam particulares desafios, envolvendo, ao mesmo tempo, mais de uma província religiosa e criando comunidades internacionais. Com olhos penetrantes e grande coração,121 recolheram o apelo de tantos sofrimentos numa concreta diaconia da caridade. Em toda a parte, constituem um laço entre a Igreja e os grupos marginalizados, não alcançados pela pastoral ordinária.

Até mesmo alguns carismas que pareciam responder a tempos já passados, adquirem um vigor renovado neste mundo que conhece o comércio de mulheres ou o tráfico de crianças escravas, enquanto a infância, vítima amiúde de abusos, corre os riscos do abandono ou até do alistamento nos exércitos.

Hoje se verifica uma maior liberdade no exercício do apostolado, uma irradiação mais consciente, uma solidariedade que se exprime com o saber estar ao lado das pessoas, assumindo-lhes os problemas para os responder, pois, com uma forte atenção aos sinais dos tempos e às suas exigências. Esta multiplicação de iniciativas demonstrou a importância que o planejamento reveste na missão, quando se quer realizá-la não improvisando, mas em forma orgânica e eficiente.

Anunciar o Evangelho

37. A primeira tarefa que se deve retomar com entusiasmo é o anúncio de Cristo aos povos. Ele depende sobretudo dos consagrados e das consagradas, empenhados em fazer chegar a mensagem do Evangelho à crescente multidão dos que a ignoram. Tal missão está ainda nos seus inícios e devemos empenhar-nos com todas as nossas forças para realizá-la.122 A ação confiante e empreendedora dos missionários e das missionárias deverá responder sempre melhor à exigência da inculturação, de tal modo que os valores específicos de cada povo não sejam renegados, mas purificados e levados à sua plenitude.123 Permanecendo na total fidelidade ao anúncio evangélico, o cristianismo do terceiro milênio será caracterizado também pelo rosto de tantas culturas e de tantos povos em cujo seio é acolhido e radicado.124

Servir a vida

38. Segundo uma gloriosa tradição, um grande número de pessoas consagradas, especialmente mulheres, exercem o apostolado nos ambientes sanitários, continuando o ministério da misericórdia de Cristo. Seguindo o seu exemplo de Divino Samaritano, fazem-se próximas a quem sofre para aliviar a dor. A sua competência profissional, vigilante na atenção por humanizar a medicina, abre um espaço para o Evangelho, iluminando com confiança e bondade até as mais difíceis experiências do viver e do morrer humano. Por isso os pacientes mais pobres e abandonados serão os preferidos na amorosa prestação dos seus cuidados.125

Para a eficácia do testemunho cristão, é importante, especialmente nalguns ambientes delicados e controvertidos, saber explicar os motivos da posição da Igreja, enfatizando sobretudo que não se trata de impor aos não crentes uma perspectiva de fé, mas de interpretar e defender os valores radicados no ser humano.126 A caridade faz-se então, especialmente nos consagrados que trabalham nestes âmbitos, um serviço à inteligência, a fim de que se respeitem, por todas as partes, os princípios fundamentais dos quais depende uma civilização digna do homem.

Difundir a verdade

39. Também o mundo da educação requer uma presença qualificada dos consagrados. No mistério da Encarnação, são postas as bases para uma antropologia que se pode direcionar, além dos próprios limites e incoerências, a Jesus, o «homem novo» (Ef 4, 24; cfr. Cl 3, 10). Porquanto o Filho de Deus fez-se verdadeiramente homem, o homem pode, nele e através dele, fazer-se realmente filho de Deus.127

Graças à peculiar experiência dos dons do Espírito, na escuta assídua da Palavra e no exercício do discernimento, e ao rico patrimônio de tradições educativas acumulado no tempo pelo próprio Instituto, os consagrados e as consagradas podem desenvolver uma ação particularmente incisiva. Este carisma pode dar vida a ambientes permeados pelo espírito evangélico da liberdade, da justiça e do amor, nos quais os jovens são ajudados a crescer em humanidade sob a guia do Espírito, propondo, ao mesmo tempo, a santidade como meta educativa para todos, docentes e alunos.128

É preciso promover, no seio da vida consagrada, um renovado compromisso cultural, que permita elevar o nível da preparação pessoal e prepare para o diálogo entre a mentalidade contemporânea e a fé, com o escopo de favorecer, inclusive através das mesmas instituições acadêmicas, uma evangelização da cultura entendida como serviço à verdade.129 Em tal perspectiva, faz-se ainda mais oportuna a presença nos meios de comunicação social.130 Encoraje-se todo e qualquer esforço neste campo apostólico novo e estratégico, de modo que as iniciativas no setor venham a ser melhor coordenadas e obtenham níveis superiores de qualidade e de eficácia.

A abertura aos grandes diálogos

40. Recomeçar de Cristo quer dizer, enfim, segui-lo até onde Ele se fez presente com a sua obra de salvação e viver na vastidão de horizontes por Ele aberta. A vida consagrada não se pode contentar com o viver na Igreja e para a Igreja. Ela se projeta com Cristo, em direção às outras Igrejas cristãs, às outras religiões e aos homens e mulheres que não professam convicção religiosa alguma.

A vida consagrada é chamada, portanto, a oferecer a própria contribuição específica em todos os grandes diálogos aos quais o Concílio Vaticano II abriu a Igreja inteira. «Empenhados no diálogo com todos» é o título significativo do último capítulo de Vita consecrata, qual conclusão lógica de toda a Exortação apostólica.

41. O documento lembra, ante tudo, como o Sínodo sobre a Vida Consagrada trouxe a lume a profunda ligação entre a vida consagrada e o ecumenismo. «Na verdade, se a alma do ecumenismo é a oração e a conversão, não há dúvida que os Institutos de vida consagrada e as Sociedades de vida apostólica têm uma particular obrigação de cultivar este empenho». Urge que, na vida das pessoas consagradas, espaços maiores venham a ser abertos à oração ecumênica e ao testemunho, para que, com a força do Espírito Santo, possam ser derrubados os muros das divisões e dos preconceitos.131 Nenhum Instituto de vida consagrada pode sentir-se dispensado de trabalhar para esta causa.

Tratando, em seguida, sobre as formas do diálogo ecumênico, Vita consecrata aponta, como particularmente adaptadas aos membros de comunidades religiosas, a partilha da lectio divina e a participação na oração comum, na qual o Senhor garante a sua presença (cfr. Mt 18, 20). A amizade, a caridade e a colaboração em iniciativas comuns de serviço e de testemunho farão que se viva a experiência de como é bom que vivam juntos os irmãos (cfr. Sl 133 [132]). Não menos importante é o conhecimento da história, da doutrina, da liturgia bem como da atividade caritativa e apostólica dos outros cristãos.132

42. Para o diálogo inter-religioso, Vita consecrata apresenta dois requisitos fundamentais: o testemunho evangélico e a liberdade de espírito. Sugere, depois, alguns instrumentos particulares, a saber, o conhecimento mútuo, o respeito recíproco, a amizade cordial e a recíproca sinceridade, em relação aos ambientes monásticos de outras religiões.133

Um âmbito ulterior de colaboração consiste na solicitude comum pela vida humana, que vai da compaixão pelo sofrimento físico e espiritual até o compromisso com a justiça, a paz e a salvaguarda da criação.134 João Paulo II recorda, como um campo particular de encontro com as pessoas de outras tradições religiosas, a busca e a promoção da dignidade da mulher, com a qual são especialmente chamadas a colaborar as mulheres consagradas.135

43. Considere-se enfim o diálogo com quantos não professam particulares confissões religiosas. As pessoas consagradas, pela própria natureza da sua opção, põem-se com interlocutores privilegiados daquela busca de Deus que agita desde sempre o coração do homem e o leva a múltiplas formas de espiritualidade. A sua sensibilidade aos valores (cfr.Fl 4, 8) e a sua disponibilidade para o encontro testemunham as características de uma autêntica busca de Deus. «Por isso — conclui o documento — as pessoas consagradas têm o dever de oferecer generosamente acolhimento e acompanhamento espiritual a quantos, movidos pela sede de Deus e desejosos de viverem as exigências profundas da sua fé, se lhes dirigem».136

44. Este diálogo abre-se necessariamente ao anúncio de Cristo. Na comunhão existe, com efeito, a reciprocidade do dom. Quando a escuta do outro é autêntica, oferece adequada ocasião de propor a própria experiência espiritual e os conteúdos evangélicos que alimentam a vida consagrada. Testemunha-se assim a esperança que há em nós (cfr. 1 Pd 3, 15). Não devemos temer que o falar sobre a própria fé se constitua em ofensa a outra crença, pelo contrário, é ocasião de um gozoso anúncio do dom que é para todos e a todos se propõe, embora com o maior respeito da liberdade de cada um: o dom da revelação do Deus-Amor que «amou tanto o mundo, que deu o seu Filho unigênito» (Jo 3, 16).

O dever missionário, por outro lado, não nos impede de dialogar estando intimamente disponíveis também a receber, já que, entre os recursos e os limites de cada cultura, os consagrados podem auferir as sementes do Verbo, nas quais encontram preciosos valores para a própria vida e missão. «Não é raro o Espírito de Deus, que “sopra onde quer” (Jo 3, 8), suscitar na experiência humana universal, não obstante as suas múltiplas contradições, sinais da sua presença, que ajudam os próprios discípulos de Cristo a compreenderem mais profundamente a mensagem de que são portadores».137

Os desafios hodiernos

45. Não é possível manter-se à margem em face aos grandes e inquietantes problemas que atormentam a humanidade inteira, na perspectiva de uma ruína ecológica que torna vastas áreas do planeta inóspitas e inimigas do homem. Os países ricos consomem recursos num ritmo insustentável para o equilíbrio do sistema, fazendo com que os países pobres sejam cada vez mais pobres. Nem se podem esquecer os problemas da paz, ameaçada freqüentemente pelo pesadelo de guerras catastróficas.138

A cobiça dos bens, a avidez do prazer e a idolatria do poder, isto é, a tríplice concupiscência que marca a história e se encontra, igualmente, à raiz dos males atuais só poderá ser vencida se se redescobrirem os valores evangélicos da pobreza, da castidade e do serviço.139 Os religiosos devem saber proclamar, com a vida e as palavras, a beleza da pobreza de espírito e da castidade do coração, que libertam o serviço aos irmãos e da obediência, que faz que sejam duradouros os frutos da caridade.

Como seria possível, enfim, permanecer passivos diante do vilipêndio dos direitos humanos fundamentais?140 Deve dar-se especial atenção a alguns aspectos da radicalidade evangélica, amiúde menos compreendidos, mas que nem por isso podem estar ausentes da agenda eclesial da caridade. Primeiro entre todos eles é o respeito à vida de cada ser humano desde a sua concepção até o seu ocaso natural.

Nesta abertura a um mundo a ser ordenado a Cristo, de modo tal que todas as realidades encontrem n'Ele o próprio e autêntico significado, as leigas e os leigos consagrados dos Institutos Seculares ocupam um lugar privilegiado: eles, com efeito, nas condições comuns da vida, participam no dinamismo social e político e, pela força do seu seguimento a Cristo, infundem aí um novo valor, trabalhando assim em forma eficaz pelo Reino de Deus. Precisamente graças à sua consagração vivida sem sinais exteriores, como leigos entre os leigos, eles podem ser sal e luz inclusive naquelas situações nas quais uma visibilidade da sua consagração poderia chegar a constituir um impedimento ou, inclusive, a propiciar uma rejeição.

Olhar para frente e para o alto

46. Também entre os consagrados encontram-se as sentinelas da manhã: os jovens e as jovens.141 Precisamos verdadeiramente de jovens corajosos que, deixando-se configurar pelo Pai, com a força do Espírito, e tornando-se «pessoas cristiformes»,142 ofereçam a todos um límpido e gozoso testemunho do seu «acolhimento específico do mistério de Cristo»143e da peculiar espiritualidade do próprio Instituto.144 Reconheçam-se, portanto, mais decididamente, como os autênticos protagonistas de sua formação.145 Posto que eles, por motivos generacionais, deverão levar adiante a renovação do próprio Instututo, convém que – oportunamente preparados – assumam gradativamente tarefas de orientação e de governo. Fortes, principalmente, pelo seu natural impulso, tornem-se testemunhas valorosas da aspiração à santidade qual medida alta do ser cristão.146 Sobre a imediatez desta sua fé, sobre as atitudes que gozosamente revelaram e sobre quanto quererá dizer-lhes o Espírito, apóia-se, em boa parte, o futuro da vida consagrada e da sua missão.

E olhemos para Maria, Mãe e Mestra para cada um de nós. Ela, a primeira Consagrada, viveu a plenitude da caridade. Fervorosa no espírito, serviu o Senhor; alegre na esperança, forte na tribulação, perseverante na oração e solícita pelas necessidades dos irmãos (cfr. Rm 12, 11-13). Nela se refletem e se renovam todos os aspectos do Evangelho e todos os carismas da vida consagrada. Sustente-nos no empenho diário, de tal modo a fazer dele um esplêndido testemunho de amor, segundo o convite de São Paulo: «Eu vos exorto a caminhardes de acordo com a vocação que recebestes» (Ef 4, 1).

Confirmando estas orientações, desejamos retomar, uma vez mais, as palavras de João Paulo II, a fim de que nelas encontremos o encorajamento e a confiança de que todos necessitamos ao enfrentarmos uma missão que parece superar todas as nossas forças: «Começa um novo século e um novo milênio sob a luz de Cristo. Nem todos, porém, vêem esta luz. A nós cabe a tarefa maravilhosa e exigente de ser o seu reflexo (...). Este é um encargo que nos faz tremer, quando olhamos para a fraqueza que freqüentemente nos torna opacos e cheios de sombras. Mas é uma missão possível, se, expondo-nos à luz de Cristo, nos abrirmos à graça que nos faz homens novos».147 Eis a esperança proclamada na Igreja pelos consagrados e pelas consagradas, enquanto com os irmãos e as irmãs, através dos séculos, caminham ao encontro do Cristo Ressuscitado.



A 16 de Maio de 2002, o Santo Padre aprovou o presente Documento da Congregação para os Institutos de vida consagrada e as Sociedades de vida apostólica.

Roma, 19 de Maio de 2002, Solenidade de Pentecostes.





Eduardo Card. Martínez Somalo
Prefeito

Piergiorgio Silvano Nesti, CP
Secretário






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Notas

1Cfr. João Paulo II, Exortação Apostólica Pós-Sinodal Vita consecrata, Roma, 25 de Março de 1996, n.14.

2João Paulo II, Carta Apostólica Novo millennio ineunte, Roma, 6 de Janeiro de 2001, n.9.

3João Paulo II, Discurso aos Representantes da Cáritas Italiana (24 de noviembre de 2001): L'Osservatore Romano (edição cotidiana), 25 de Novembro de 2001, n.4, p.5.

4João Paulo II, Mensagem à Plenária da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica (21 de Setembro de 2001): L'Osservatore Romano (edição cotidiana), 28 de Setembro de 2001, p.9.

5Ibid.

6Cfr. Ad gentes, 11.

7Cfr. Lumen gentium, 1.

8Vita consecrata, 19.

9Cfr. Novo millennio ineunte, 29.

10Vita consecrata, 4.

11Cfr. Novo millennio ineunte, 29.

12Cfr. Novo millennio ineunte, 30-31.

13Cfr. Novo millennio ineunte, 32-34.35-39.

14Cfr. Novo millennio ineunte, 35-37.

15Cfr. Novo millennio ineunte, 43-44.

16Cfr. Novo millennio ineunte, 49.57.

17Vita consecrata, 111.

18Cfr. Vita consecrata, 16.

19Cfr. Lumen gentium, 44.

20Vita consecrata, 22.

21Cfr. Vita consecrata, 87.

22Cfr. Lumen gentium, 13; João Paulo II, Exortação Apostólica Pos-Sinodal Christifideles laici, Roma, 30 de Dezembro de 1988, n.20; Vita consecrata, 31.

23Cfr. Novo millennio ineunte, 29.

24Cfr. Novo millennio ineunte, 45.

25Cfr. Vita consecrata, 32.

26Vita consecrata, 31.

27Cfr. Vita consecrata, 28.94.

28Vita consecrata, 85.

29Cfr. Novo millennio ineunte, 38.

30Cfr. Novo millennio ineunte, 33.

31Cfr. Vita consecrata, 103.

32Cfr. Vita consecrata, 72.

33Cfr. Novo millennio ineunte, 2.

34Vita consecrata, 58.

35Cfr. Evangelii nuntiandi, 69; Novo millennio ineunte, 7.

36Cfr. Vita consecrata, 99.

37Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, Verbi sponsa, Instrução sobre a vida contemplativa e a clausura das monjas, Cidade do Vaticano, 13 de Maio de 1999, n.7.

38Ibid.; cfr. Perfectae caritatis, 7; cfr. Vita consecrata, 8.59.

39Santo Agostinho, Sermo 331, 2: PL 38, 1460.

40Novo millennio ineunte, 49.

41Cfr. Novo millennio ineunte, 25-26.

42Cfr. Vita consecrata, 110.

43Cfr. Lumen gentium, capítulo V.

44Lumen gentium, 42.

45Vita consecrata, 31; cfr. Novo millennio ineunte, 46.

46Cfr. Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, A vida fraterna em comunidade, «Congregavit nos in unum Christi amor», Roma, 2 de Fevereiro de 1994, n.50.

47Cfr. Vita consecrata, 92.

48Cfr. Novo millennio ineunte, 45.

49Cfr. Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, Orientações sobre a formação nos Institutos Religiosos, «Potissimum institutioni», Roma, 2 de Fevereiro de 1990, n.1.

50Vita consecrata, 65.

51Vita consecrata, 66.

52Cfr. Christifideles laici, 55.

53Cfr. João Paulo II, Homilia na vigília do Encontro em Torvergata (20 de Agosto de 2000): L'Osservatore Romano (edição cotidiana), 21-22 de Agosto de 2000, n.3, p.4.

54Cfr. Vita consecrata, 1.

55Cfr. Vita consecrata, 65.

56Vita consecrata, 37.

57Novo millennio ineunte, 40.

58Cfr. Novo millennio ineunte, 1.

59João Paulo II, Homilia (2 de Fevereiro de 2001): L'Osservatore Romano (edição cotidiana), 4 de Fevereiro de 2001, p.4.

60Cfr. Mutuae relationes, 11; cfr. Vita consecrata, 37.

61Vita consecrata, 93.

62Cfr. Novo millennio ineunte, 31.

63Cfr. Vita consecrata, 20-21.

64Cfr. Novo millennio ineunte, 38.

65Vita consecrata, 22.

66Cfr. Vita consecrata, 16.

67Vita consecrata, 18.

68Vita consecrata, 25.

69Vita consecrata, 40.

70Novo millennio ineunte, 16.

71Vita consecrata, 94.

72Novo millennio ineunte, 39.

73Cfr. Perfectae caritatis, 2.

74João Paulo II, Homilia (2 de Fevereiro de 2001): L'Osservatore Romano (edição cotidiana), 4 de Fevereiro de2001.

75Vita consecrata, 37.

76Novo millennio ineunte, 40.

77João Paulo II, Homilia (2 de Fevereiro de 2001): L'Osservatore Romano (edição cotidiana), 4 de Fevereiro de 2001.

78Novo millennio ineunte, 43.

79João Paulo II, Homilia (2 de Fevereiro de 2001): L'Osservatore Romano (edição cotidiana), 4 de Fevereiro de2001.

80Cfr. Vita consecrata, 95.

81Cfr. Vita consecrata, 18.

82Vita consecrata, 95.

83Cfr. Vita consecrata, 51.

84Cfr. Novo millennio ineunte, 25-27.

85Cfr. Vita consecrata, 23.

86Vita consecrata, 38.

87Novo millennio ineunte, 25.

88Cfr. Novo millennio ineunte, 37.

89Vita consecrata, 93.

90Novo millennio ineunte, 43.

91Vita consecrata, 46.

92Vita consecrata, 51.

93Cfr. Novo millennio ineunte, 43.

94Vita consecrata, 51.

95Novo millennio ineunte, 46.

96Vita consecrata, 62.

97Cfr. Vida fraterna em comunidade, 62; cfr. Vita consecrata, 56.

98Cfr. Novo millennio ineunte, 45.

99Cfr. Vida fraterna em comunidade, 70.

100Cfr. Vita consecrata, 54.

101Cfr. Lumen gentium, 12; cfr. Vita consecrata, 46.

102Vita consecrata, 46.

103Cfr. Vita consecrata, 98.

104João Paulo II, em Os movimentos na Igreja - Atas do II Colóquio Internacional, Milão 1987, pp.24-25; Os movimentos na Igreja, Cidade do Vaticano 1999, p.18.

105Cfr. Novo millennio ineunte, 50.

106Christifideles laici, 31-32.

107Cfr. Vita consecrata, 46.

108Cfr. João Paulo II, Exortação Apostólica Pós-Sinodal Ecclesia in Africa, Iaundé, 14 de Setembro de 1995, n.94.

109Novo millennio ineunte, 40.

110Cfr. Novo millennio ineunte, 15.

111Vita consecrata, 76.

112Novo millennio ineunte, 49.

113Cfr. Vita consecrata, 82.

114Novo millennio ineunte, 49.

115Novo millennio ineunte, 50.

116Cfr. Novo millennio ineunte, 50.

117João Paulo II, Homilia (2 de Fevereiro de 2001): L'Osservatore Romano (edição cotidiana), 4 de Fevereiro de 2001.

118Cfr. Vita consecrata, 84.

119Cfr. Vita consecrata, título do capítulo III.

120Cfr. Novo millennio ineunte, 50.

121Cfr. Novo millennio ineunte, 58.

122Cfr. João Paulo II, Encíclica Redemptoris Missio, Roma, 7 de Dezembro de 1990, n.1.

123Cfr. João Paulo II, Exortação Apostólica Pos-Sinodal Ecclesia in Asia, Nova Délhi, 6de Novembro de 1999, n.22.

124Cfr. Novo millennio ineunte, 40.

125Cfr. Vita consecrata, 83.

126Cfr. Novo millennio ineunte, 51.

127Cfr. Novo millennio ineunte, 23.

128Cfr. Vita consecrata, 96.

129Cfr. Vita consecrata, 98.

130Cfr. Vita consecrata, 99.

131Cfr. Vita consecrata, 100.

132Cfr. Vita consecrata, 101.

133Cfr. Ecclesia in Asia, 31.34.

134Cfr. Ecclesia in Asia, 44.

135Cfr. Vita consecrata, 102.

136Vita consecrata, 103.

137Novo millennio ineunte, 56.

138Cfr. Novo millennio ineunte, 51.

139Cfr. Vita consecrata, 88-91.

140Cfr. Novo millennio ineunte, 51.

141Cfr. Novo millennio ineunte, 9.

142Vita consecrata, 19.

143Vita consecrata, 16.

144Cfr. Vita consecrata, 93.

145Cfr. Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, Potissimum institutioni, Roma, 2 de Fevereiro de 1990, n.29.

146Cfr. Novo millennio ineunte, 31.

147Novo millennio ineunte, 54.55

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Fonte Vaticano

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