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Historiador Defende Que Papa Pio XII Não Foi "Cúmplice" do Nazismo
2002-06-27 23:54:58

O Papa Pio XII não pode ser considerado "como um cúmplice voluntário e activo do nazismo", considera o historiador Bruno Cardoso Reis, que se manifesta contra muitas das afirmações do livro "Hitler's Pope", de John Cornwell. Esta obra, traduzida em português ("O Papa de Hitler", ed. Terramar), está "cheia de erros factuais em aspectos-chave", diz Bruno Reis.

Pelo contrário, o Papa Pacelli ajudou judeus perseguidos, esteve em contacto com a oposição alemã e denunciou várias vezes o nazismo. Uma delas foi perante o representante português na Santa Sé, Vasco Quevedo, a quem afirmou: "A Igreja não pode aplaudir qualquer orientação política que se pareça com o nazismo."

O investigador fez estas afirmações num colóquio realizado sexta-feira passada, promovido pelo Centro de Estudos de História Religiosa, da Universidade Católica. Dedicado ao tema "A Santa Sé e os conflitos mundiais no século XX - Polémica e História", o colóquio partiu da publicação de obras recentes dedicadas a questões que se enquadram naquele tema. Nomeadamente, a obra de Cornwell e, agora, o livro "Pio XII e a Segunda Guerra Mundial - Que Dizem os Arquivos do Vaticano?", de Pierre Blet, que foi apresentado no final do colóquio - e com o qual Bruno Reis se considera mais de acordo.

Bruno Reis admite que a sua afirmação sobre o papel de Pio XII não significa que o Papa Pacelli "não seja alvo de críticas várias e apropriadas". Mas estas não devem referir-se tanto às suas "decisões" - já que o próprio não acreditava que "elas tivessem grande peso na situação", nem sequer à "bondade das suas intenções", mas antes a outros factores: "O seu formalismo, a sua crença no peso da diplomacia como forma de resolver os conflitos internacionais, a sua tendência para uma retórica demasiado rebuscada, a sua personalidade sensível e pouco dada a rupturas."

Tão pouco se deve ignorar que Pio XII e a sua diplomacia desempenharam um papel "inegável a salvar muitas pessoas perseguidas pelo nazismo - há numerosas cartas de agradecimento de organismos judaicos logo após a II Guerra Mundial a Pio XII". O que não significa que Pacelli esteja "acima de críticas". O próprio Papa exprimiu várias vezes dúvidas sobre o acerto das suas decisões. "O que não se pode é deixar de referir também o muito que se fez pelas vítimas do nazismo", afirma Bruno Reis, que recorda que as cartas que chegavam ao Vaticano diziam, muitas vezes, que aquela seria a última oportunidade de apelo, depois de já terem seguido cartas para a Cruz Vermelha, o Presidente Roosevelt e os outros líderes ocidentais.

Muito crítico com as "omissões inaceitáveis", as "análises simplistas e claramente insatisfatórias" e a falta de coerência do livro de Cornwell - "pejado que está de contradições com o autor a subscrever afirmações opostas à distância de algumas páginas" - Bruno Reis recorda factos que, a partir dos documentos, não podem ser ignorados quando se discute este tema: Pio XII teve um papel pessoal "como intermediário entre a oposição alemã ao nazismo e o governo britânico, em 1940"; o Vaticano teve informações de uma ofensiva da oposição alemã contra Hitler, em Maio de 1940, que o Papa Pacelli decidiu fazer chegar às chancelarias aliadas; e o seu secretário particular mantinha relações intensas com a oposição alemã a Hitler.

São exemplos destes que levam Bruno Reis a perguntar como é que "o suposto peão no jogo de xadrez de Hitler" poderia estar "a jogar no sentido de derrubar o seu próprio rei"?

No colóquio, o historiador e bispo Manuel Clemente falou da "neutralidade activa" da Santa Sé e do Papa Bento XV (1914-22) durante a I Guerra Mundial. A Igreja Católica perante o judaísmo e a guerra israelo-árabe foi o outro tema. Sobre ele, Adriano Moreira defendeu que, para o problema de Jerusalém, "a solução lógica e prudente" será dotar a cidade de um estatuto internacional e autónomo. E o historiador António Matos Ferreira acrescentou que as religiões devem entrar na lógica de construir "sociedades pacificadas".

Fonte Público

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