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Proibir Beijos no Menino Jesus "Não Faz Sentido"
2000-12-26 23:18:23

A recomendação do bispo de Leiria para que se acabe com a tradição secular de beijar a imagem do Menino Jesus e a cruz, por motivos de saúde, "não faz sentido". Quem o diz não é um católico fervoroso de hábitos antigos, mas sim o pneumologista e director da Associação Nacional de Tuberculose e Doenças Respiratórias António Romão. "A eficácia dessa proibição é praticamente nula", considera o especialista.



Por ocasião da época de Natal, o bispo de Leiria escreveu uma carta aos diocesanos, "a propósito do recrudescimento da tuberculose no nosso país", sugerindo que o beijo no Menino Jesus e na cruz "fosse revisto ou substituído". De acordo com a missiva de D. Serafim Ferreira e Silva, o alerta surgiu de uma profissional de saúde do distrito e foi corroborado, aquando da visita jubilar, por um grupo de médicos do Hospital de Leiria, que, "por unanimidade, sublinharam esse perigo, e aconselharam a que fossem evitadas e acauteladas todas as ocasiões desse risco de contágio".

Para o pneumologista António Romão, a recomendação não tem fundamento nem é eficaz, uma vez que a tuberculose se transmite por via aérea, através da fala ou da tosse. "Só se a pessoa mandasse uma expectoração é que haveria algum perigo", frisa o director da Associação Nacional de Tuberculose, aduzindo que "as pessoas que vão beijar o Menino Jesus nem sequer pertencem aos grupos de risco", como os emigrantes clandestinos ou os toxicodependentes.

O pedido de D. Serafim Ferreira e Silva parece também não estar a ser levado à letra pelos párocos da diocese de Leiria/Fátima, que remetem para os fiéis a decisão de beijar, ou não, a imagem do Menino Jesus. A avaliar pela indignação gerada em algumas comunidades rurais de Leiria, a tradição parece ser mais forte do que o receio de contágio de doenças.

"Não podemos ser alarmistas. Tem que haver sensatez", recomenda o pároco de Souto da Carpalhosa, em Monte Real. Francisco Pereira afirma que se tem exagerado no medo, até porque muitos dos fiéis nem sequer beijam o Menino. E, nos casos em que isso acontece, garante que a imagem é imediatamente limpa, com um pano embebido em álcool. Não obstante os cuidados, o padre acredita que "a própria saliva não é grande fonte de contágio".

Augusto Pascoal, pároco dos Pousos, afirma, de igual forma, não ter intenção de levantar a questão durante a missa. Às pessoas que optarem por manifestar dessa forma a sua adoração, o padre apenas promete que a imagem estará sempre limpa.

Mais cauteloso, Bernardo Morganiça, o pároco de Calvaria, em Porto de Mós, defende que não se deve fazer "tábua rasa" das recomendações do bispo de Leiria e promete dedicar "umas palavrinhas" à questão durante a missa, para levar os fiéis a "pensar um bocadinho", ainda que também não acredite existir risco de contrair tuberculose.

Essa ideia deixa-o mesmo indignado, pois entende que, ao assumir-se essa possibilidade, está-se a "pôr em cheque a própria Igreja". A prova disso está no facto de já ter sido abordado por alguns fiéis, tristes com a possibilidade de não poderem manifestar a sua adoração dessa forma.

Fonte Público

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