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Para quê o livro religioso?
2002-06-12 23:52:13

Para quê, e, mais do que isso, porquê o livro religioso?
E por livro religioso entendo não só o que acolhe mensagens essenciais de crenças ou religiões ou o que traduz posições doutrinárias de igrejas ou confissões, como também aquele que reflecte sobre a experiência de cada qual com a divindade ou, sobre a aplicação das exigências da fé à vida de todos os dias.


Assim entendido, o livro religioso tal como todo o livro ocupado com os apelos do espírito, vai de encontro a uma necessidade premente deste começo do século, sobretudo em tantos jovens: menos materialismo, menos economicismo, menos consumismo, mais respeito da pessoa como espírito, mais atenção à sua liberdade de consciência e opção religiosa, maior afirmação do peso da relação com o sobrenatural na existência quotidiana.
E porque há cada vez mais mulheres e homens disponíveis para darem testemunho dos seus caminhos para a eternidade, e a riqueza plural desses caminhos aproxima gentes de diversas civilizações, culturas, etnias e linguagens - para já não dizer classes e condições socioeconómicas, - o livro religioso é ainda instrumento de ecumenismo, de convergência e integração social, de combate às intolerâncias, aos dogmatismos, às xenofobias.

O século XXI está, num certo sentido, a arrancar com uma vingança por sinal positiva e não negativa, como o são por uso as vinganças: a vingança do espírito sobre os materialismos capitalista e colectivista de décadas e décadas do século XX.
Não que deixe de ser uma realidade a afronta da fome, da miséria, da pobreza e da injustiça na vida material de incontáveis milhões de mulheres e homens de carne e osso.

Mas que, se não perca de vista que não menor é a afronta da fome, da miséria, da pobreza e da injustiça do espírito, que, as mais das vezes, acompanha ou antecede e se sucede à da matéria.
E das explorações e humilhações do espírito pouco ou nada curaram os materialismos do século XX, crentes como estavam que a felicidade decorria da concretização das suas doutrinas.
Esqueciam-se do essencial, da liberdade e da irrepetibilidade de cada pessoa, da sua vocação para o eterno, da sua relação com os valores não mensuráveis ou contabilizáveis.

É desta outra vertente do ser-se pessoa que fala, de modo especial, o livro religioso. Para gente que vive e sofre as contingências materiais. Mas que tem uma alma que procura incessantemente aquilo que a economia, a política, a própria ciência por si sós lhe não podem dar.

Marcelo Rebelo de Sousa



Fonte Ecclesia

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