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O mercado do livro religioso
2002-06-12 23:51:11

Não é fácil dissertar acerca do tema mesmo que se tenha alguma responsabilidade na área do livro, quer como pequeno editor, quer mesmo como livreiro. Preferia desembaraçar-me do tema na perspectiva de como um cristão olha para o livro em geral e, portanto, para o livro de inspiração cristã.


O livro, a palavra e a vida foram o sustentáculo da militância, cujas balizas, como não poderia deixar de ser, assentavam e assentam na doutrina e nos princípios cristãos, nas múltiplas facetas espirituais, sociais, culturais e políticas em ordem à elevação de todos os homens e do homem-todo, o que pressupõe a exaltação e o compromisso à entreajuda e á solidariedade, à luta pela paz e pela justiça, à doação pelo trabalho para a dignificação de todos e cada um.

Nesta perspectiva, o livro é - deveria ser - para todos os cristãos o meio preferencial para o aprofundamento sobre todas as vertentes da vida num autêntico espírito de liberdade, de verdade e de serviço.

Julgo que as editoras de inspiração cristã, em muitos casos, procuram dedicar-se mais à publicação de obras no campo da espiritualidade muito embora, desde a 2ª Grande Guerra, e muito bem, tenham passado a incluir nos seus programas editoriais uma larga variedade de temas que abrangem o vasto arco de interesses que se colocam aos homens e mulheres de hoje, como alimento do espírito, dignificação do Homem e elevação da humanidade.

E de tal modo os domínios da ética, da moral, do exemplo, das “figuras padrão” atingiram um tão elevado expoente que, praticamente, todas as grandes editoras - fora da área cristã - se sentem na necessidade de publicar obras de referência de grandes valores do cristianismo. Talvez por estas circunstâncias, altas figuras da Igreja Católica convidam grandes editoras para encontros e conferências esquecendo-se de, para tais eventos, convidar outras editoras cristãs.

No caso português - ou de língua portuguesa - nos últimos 50 anos deu-se um “volte-face” em termos de mercado. Nos anos 50 e 60, as editoras cristãs portuguesas exportavam significativamente para o Brasil e desde os anos 70/80 é o Brasil que “invade” o mercado português perante alguma passividade dos editores lusos.
Em 2001, por ocasião da 6ª Festa do Livro Cristão, na Universidade Católica, teve lugar um encontro de editores, livreiros e jornalistas cristãos, através do qual se colocaram hipóteses de desenvolvimento editorial, de parcerias na área de estratégias de distribuição e da publicidade, no campo do grafismo, na divulgação e apresentação das obras por via dos órgãos de informação.

Recordo-me de um participante, no final dos trabalhos, ter resumido assim o que se passou no encontro: o espírito português veio ao de cima; dominou o silêncio, o segredo, o clássico egoísmo. Cada um está convencido do seu próprio triunfo e só gosta de olhar para o seu próprio “umbigo”. Enquanto não houver espírito colectivo, empreendimento multi-disciplinares e em conjunto, e apoio da imprensa cristã na divulgação e apreciação crítica das obras lançadas, o mercado do livro religioso não avança como deveria.

Julgo que a “imprensa de inspiração cristã”, que tem no nosso país uma força e um papel de alto valor, deveria prestar um forte apoio ao livro. Há órgãos de informação regional que raras vezes divulgam livros e, quando o fazem, são quase sempre de natureza local e regional.
Nos domínios das rádios e das televisões, o panorama não é francamente melhor no tocante à divulgação do livro cristão, salvo quando se trata de pessoas mediáticas e que fazem parte dos quadros das próprias organizações. Enfim, é o sistema.

Uma nota final para dizer que nos últimos anos se vem observando uma dinâmica editorial mais conseguida entre as editoras cristãs/católicas e que, medindo e comparando eventos colectivos - como as Festas do Livro Cristão e as Feiras do Livro - o mercado do livro religioso não regride. Por outro lado, no domínio da imagem, as edições têm mais dignidade e editoras há que dão especial relevo ao grafismo.

Em conclusão, estou crente que o livro religioso como aprofundamento da fé e da valorização pessoal para a acção estará no bom caminho.

Manuel Bidarra
Editora Multinova


Fonte Ecclesia

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