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Coxos Deram Baile e Preparam Peregrinação a Fátima
2002-06-10 23:17:47

O salão do Atlético Clube da Sismaria, em Leiria, foi pequeno para acolher o primeiro baile de coxos. Dezenas de pessoas deslocaram-se, no sábado à noite, de vários pontos do país, para dançaram, em par ou sozinhos, os temas que iam sendo tocados ao piano por Manuel Jorge, também ele portador da limitação no andar ostentada pela maioria dos dançarinos.


Se no início da noite a "pista de dança" só enchia com os temas mais conhecidos, depressa se deixou de ver o salão vazio, com alguns pares a darem autênticas lições de dança, esquecendo por momentos as próprias limitações físicas. A animação chegou ao ponto de alguns coxos, mesmo sem par, mostrarem os seus dotes de dança, percorrendo o salão de uma ponta a outra.

Como sublinhou Augusto Francisco, organizador do encontro, "o importante é os coxos poderem conviver entre si e perderem, aos poucos, os complexos que têm".

Apesar de contar com algumas dezenas de coxos, o encontro ficou aquém das expectativas porque "muitos tiverem vergonha e não vieram para não se apresentarem como coxos", lamentou o presidente da futura Associação Nacional dos Coxos, que, todavia, rematou: "Somos poucos mas bons".

A ideia da criação desta associação surgiu por brincadeira, quando Augusto Francisco reuniu em sua casa seis amigos, três dos quais eram coxos. "A certa altura disse que qualquer dia fazia um petisco só para coxos e a coisa pegou", conta. O primeiro encontro-convívio dos coxos aconteceu em Março último e a associação, que pretende congregar "o maior número possível de coxos do país", está em fase de instalação.

A associação pretende "unir os coxos" e conseguir fundos que reverterão para aqueles que têm mais dificuldades económicas. "Uma senhora de Condeixa não pôde vir ao baile porque é coxa, não consegue conduzir e não teve ninguém que a trouxesse. A associação pretende ajudar as pessoas nestas situações". A próxima actividade será uma peregrinação a Fátima, com ponto de partida em Leiria.

Augusto Francisco tem 58 anos e ainda exerce a profissão de pedreiro, apesar de há sete anos ter sofrido um acidente de trabalho que o deixou coxo. As barreiras arquitectónicas que a maioria dos edifícios apresenta leva-o a tomar a cidade de Leiria como exemplo: "Os edifícios das Finanças ou da Segurança Social não têm rampas e para lá ir tenho que subir uma data de escadas e como não há estacionamento próximo tenho de andar pelo menos 200 metros". Por isso, propõe aos responsáveis que "façam uma zona só com este tipo de serviços na zona industrial, com edifícios de rés-do-chão, que tenha uma paragem de autocarros, a pensar nos coxos e nos deficientes". Até porque, conclui, "de hoje para amanhã qualquer pessoa pode ficar coxa".

Apoio psicológico é importante
Rui Santos veio de Coimbra para participar no primeiro no baile dos coxos e garante que será um dos primeiros sócios da futura associação. Em 1985, quando era motorista internacional de pesados, teve um acidente de trabalho que o deixou coxo, dando início ao que diz ter sido uma fase muito difícil da sua vida. Depois do acidente foi sujeito a um internamento hospitalar de dois anos - fase em que a mulher o abandonou. Rui Santos ganhou complexos que o fizeram não querer enfrentar as pessoas, por se sentir "diferente".

"O tempo foi apagando esses complexos, mas ainda sinto alguns", admite. É por isso que diz que estes encontros são positivos, porque no meio de pessoas com os mesmos problemas físicos não se sente diferente. Pela experiência que viveu, Rui Santos pensa que a futura associação dos coxos não se deveria limitar a organizar encontros deste tipo. "Os coxos têm um problema físico mas também ganham problemas de ordem psicológica. Por isso é importante o apoio psicológico para nos ajudar a perder os complexos".

Fonte Público

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