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Dúvidas sobre o autor do terceiro evangelho
2002-06-09 16:29:03

O autor do terceiro evangelho e dos Actos dos Apóstolos afinal não é S. Lucas, tal como afirmam os biblistas há quase vinte séculos, mas sim Timóteo, companheiro de missão de S. Paulo.


Numa altura em que o livro sobre temas religiosos se está a generalizar e, nalguns casos, também revelar-se num bom negócio, este é mais um assunto curioso que acabou de chegar às livrarias. Esta tese contra a exegêse bíblica tradicional é defendida por Moschê Castiel, um israelita judeu residente em Portugal, na obra "O Evangelho de Jesus Cristo e os Actos dos Apóstolos segundo o evangelista Timóteo".

Garante o escritor que, depois desta sua investigação, obrigatoriamente "terão de ser rectificados todos os manuais de teologia, bíblias, enciclopédias, dicionários bíblicos e não bíblicos". E frisa: "queiram ou não terão de o fazer no futuro, se Deus quiser".

Segundo a sua argumentação, é impossível que tivesse sido S. Lucas o autor daqueles dois livros do Novo Testamento por uma razão simples: um gentio ou até um judeu da diáspora (nunca se soube ao certo em qual destes grupos se insere Lucas) não teria nem a sensibilidade nem os conhecimentos para conceber tais escritos. Explicando que ambos os livros reflectem uma mentalidade messiânica, ainda mais apurada do que a de S. Marcos, é sua convicção que só um judeu nascido, criado e intelectualmente amadurecido na Palestina teria estrutura mental para elaborar um género de literatura tão específico. O que não é o caso de Lucas, seguramente, afirma.

Neste sentido, refere Moshê Castiel, o verdadeiro autor só pode ser alguém que, na realidade, tenha sido companheiro de S. Paulo na pregação e na criação de igrejas pela Ásia Menor. E esse é, indubitavelemente, Timóteo, porque surge várias vezes referido nas Cartas do Apóstolo missionário, defende.

Em sua opinião, é de todo improvável que Paulo se fizesse acompanhar por alguém que não fosse judeu, pois isso violaria a lei de Moisés, preceito que sempre quis cumprir e se apresentou como fiel seguidor, acrescentando que em parte alguma surge Lucas como seu companheiro nas referidas pregações. Como tal, adianta, a autoria do terceiro evangelho e dos Actos dos Apóstolos, atribuida a S. Lucas, tal como sempre foi aceite ao longo dos séculos, não é mais do que uma "histórica tramoia"

Basicamente são estes os argumentos do livro agora dado à estampa. Sobre ele os teólogos têm pouco ou nada a dizer. Alguns, contactados pelo DN, admitem já ter ouvido falar de Moshê Castiel e, inclusive, contacto com um ou outro dos seus livros já publicados. Duvidam, no entanto, da cientificidade e dos critérios de investigação utilizado.

Mas o autor não admite, sequer, que se coloque em dúvida a a seriedade das suas conclusões e da sua metodologia, desafiando quem quer que seja a refutá-las. E, dirigindo-se à comunidade científica de um modo muito peculiar, sublinha: "Pretendo emitir aqui um aviso muito sério face a eventuais críticas, pois, além do que já expús, disponho de bastantes mais fundamentos, solidamente apoiados nos textos bíblicos, que mantenho sob reserva, a fim de os usar futuramente em casos de situações pouco claras que eventualmente possam vir a ser publicadas ou denunciadas com outras finalidades de que dispenso aqui sugerir."

Apesar desta particular argúcia dialectica na defesa da sua "dama", a obra de Moshê Castiel tem o mérito de levantar uma questão até ao momento impensável. Não se sabe se, tal como sugere, todos os manuais vão ser alterados. Mas, só facto de ter provocado o debate já é saudável.


Fonte DN

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