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Protestantes de Timor Fazem Contactos em Portugal
2002-06-06 10:04:29

As igrejas protestantes e evangélicas de Timor-Leste estão a estudar a criação de um conselho inter-confessional, disse ao PÚBLICO o responsável da Igreja Protestante em Timor-Leste (IPTL), pastor Francisco Maria de Vasconcelos, que veio a Portugal estabelecer contactos formais com a Igreja Evangélica Presbiteriana de Portugal e estudar formas de apoio que esta comunidade portuguesa pode dar à sua congénere timorense.

Realidade pouco conhecida fora do novo país, os protestantes representam uns três por cento da população, de acordo com os cálculos possíveis. A IPTL, a comunidade mais importante, conta com uns 17 mil membros, enquanto a Assembleia de Deus reúne cerca de 11 mil pessoas e a Igreja Pentecostal e a comunidade Betel contam com mais uns cinco mil crentes.

Francisco Vasconcelos, 37 anos, irmão de Taur Matan Ruak, o actual comandante do novo exército timorense (cujo nome de baptismo é José Maria Vasconcelos), acrescenta que o clima existente entre os protestantes e a Igreja Católica - nomeadamente com os bispos Ximenes Belo e Basílio do Nascimento - é positivo. "Estive com o bispo Belo antes de a casa dele arder [em Setembro de 1999] a ver o que podíamos fazer para ajudar as pessoas a refugiar-se em lugares seguros", conta o pastor Francisco.

Já no processo de transição para a independência, Francisco Vasconcelos e Ximenes Belo assinaram uma carta comum em que pediam que não fosse adoptada nenhuma religião oficial no território. "Não temos experiência de democracia, temos que caminhar com o compromisso de ajudar a construir a democracia e a sociedade civil" no país, acrescenta.

Este pedido concreto não impediu que a nova Constituição de Timor afirme, no seu preâmbulo, que o texto é proclamado "interpretando o profundo sentimento, as aspirações e a fé em Deus do povo de Timor-Leste". "A religião tem uma grande influência na nossa sociedade. Queremos um país moderno e democrático, o que não significa que deitemos fora a nossa fé", diz o pastor protestante timorense.

Francisco Vasconcelos reconhece que, durante a ocupação de Timor-Leste pela Indonésia, a perspectiva que algumas vezes saía para o exterior sobre a liderança protestante era de colagem às posições do ocupante. O facto tem explicação: os responsáveis protestantes eram escolhidos sob pressão dos indonésios e, numa igreja que não tem uma cúpula externa - como acontece com o Papa e o Vaticano, no caso católico -, os seus membros e responsáveis estavam mais sujeitos a pressões. Dito de outro modo, "a Indonésia não podia interferir" com os bispos católicos, enquanto alguns indonésios eram colocados à frente das comunidades protestantes.

Apesar disso, e se "a Igreja Católica desempenhou um papel importante em Timor", também as minorias religiosas fizeram a sua parte, defende Vasconcelos. E cita o caso do actual vice-presidente do Parlamento, o pastor protestante Arlindo Marçal, desde sempre pró-independência.

O futuro passa por manter e desenvolver actividades de carácter social que a Igreja Protestante já tem organizadas. É o caso da Fundação Naroman ("luz"), que apoia actividades de desenvolvimento agrícola, de educação e ensino e de indústrias domésticas. Entre elas, há um curso para formação rural, que abrange neste momento três dezenas de pessoas oriundas das 66 congregações protestantes de Timor. Quatro centros de saúde funcionam em Díli, Becora, Lospalos e Same - em cada um, são atendidas mais de 100 pessoas por dia -, além de uma unidade móvel que todas as sextas-feiras percorre as aldeias mais remotas.

Ido de Portugal para assistir às cerimónias da independência, o pastor José Salvador, 60 anos, observa que a Igreja Protestante em Timor-Leste tem já um trabalho meritório no terreno. José Salvador, que entre 1990 e 97 integrou o comité central do Conselho Mundial de Igrejas, foi membro da "task force" para a questão de Timor. E observa que a IPTL teve "a capacidade de agarrar em estruturas destruídas" para ajudar o povo.

Fonte Público

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