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Quebrar o silencio
2002-05-25 10:07:36

"A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) tem a obrigação de dizer aos fiéis, para os tranquilizar, se conhece, ou não, casos de pedofilia envolvendo padres portugueses. Já o devia ter feito", declara Maria João Sande Lemos, do movimento Nós Somos Igreja, afirmando-se "horrorizada" perante as denúncias de abusos.


Ao DN, acrescentou: "A CEP, que costuma pronunciar-se sobre tantos assuntos, mantém, estranhamente, um grande silêncio" em torno destes escândalos sexuais. No seu entender, "os pais, que continuam a mandar os filhos para a catequese, na certeza de que estão entregues a pessoas de total confiança", têm direito a saber o que se passa no nosso país. Mas, adianta, este "silêncio" só é possível porque "em Portugal continua a prevalecer um temor reverencial pela Igreja", ao contrário do que sucede, por exemplo, nos EUA, cuja opinião pública "é poderosíssima".

Já Emília Nadal, do Movimento Carismático, entende que a pedofilia não é apenas um problema da Igreja, mas sim da sociedade em geral, que "está doente", reconhecendo, porém, que "a Igreja tem uma responsabilidade maior". O que mais a "choca", nesta onda de denúncias, é saber que houve pessoas que, "sabendo, calaram" e, muitas vezes, chegaram mesmo a transferir os padres pedófilo de paróquia em paróquia. Emília Nadal salienta que as múltiplas denúncias são resultado de uma profunda mudança de mentalidades. "Hoje, há maior consciência dos direitos das crianças. Antigamente, as crianças "não" existiam."

Já Teresa Costa Macedo, conselheira pontifícia para as questões da família, confessa que sente "o maior dos desgostos pelo facto de estes casos acontecerem". Defensora de uma "cultura do perdão", a presidente da Confederação Nacional das Associações de Família (CNAF) não esquece, porém, que "o abuso sexual de crianças é uma grande tragédia, a maior ofensa à missão confiada a um padre: ser pastor".

Mariana Costa Duarte, responsável nacional das Equipas de Jovens de Nossa Senhora, a despeito de se sentir "chocada" perante estes casos de pedofilia no seio da Igreja Católica, lembra que "os padres são homens como os outros", estando, contudo, "mais expostos". "Mas", salvaguarda, "choca-me tanto um caso de pedofilia envolvendo um padre, como outros envolvendo um pai de família ou um professor." Sobre o alegado silêncio da hierarquia católica em Portugal, Mariana Costa Duarte sentencia: "Confio na ponderação da CEP. Os bispos portugueses, quando tiverem de falar, falarão. Não tenho nenhuma dúvida em relação a isso."

Entretanto, o Sumo Pontífice aceitou, ontem, o pedido de resignação apresentado pelo arcebispo de Milwaukee (EUA), Rembert G. Weakland, acusado de conduta sexual imprópria por um rapaz que, nos anos 80, procurou a seu conselho sobre a possibilidade de entrar num seminário. Paul Marcoux, de 53 anos, antigo estudante de Teologia, diz que Weakland tentou manter contactos sexuais com ele durante um ano e ter-lhe-á mesmo pago centenas de milhares de dólares para lhe "comprar" o silêncio. O prelado nega as acusações.

Já o padre jesuíta Edward Thomas Burke, de 81 anos, assumiu em tribunal, ontem, que abusou sexualmente, durante bastante tempo, de um homem deficiente mental. Um dia, disse-lhe que, como ele, também tinha paixão por comboios...

Fonte DN

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