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SEMANA DA VIDA: Textos de apoio à reflexão
2002-05-16 21:58:17

Ao encerrar o Sínodo da Europa, em 1991, João Paulo II pediu que, em todos os países do mundo, a Igreja promovesse a celebração de um Dia ou de uma Semana da Vida, todos os anos. Na sua encíclica "Evangelho da Vida", de 1995, o Santo Padre renovou este pedido (cf. n. 85).

Na origem desta insistência de João Paulo II está essencialmente a constatação de que estamos a caminhar, na sociedade actual, para uma cultura que desvaloriza a vida. Desde a facilidade com que se defendem e se promovem o aborto e a eutanásia até à destruição das condições de habitabilidade no nosso planeta, passando pelo modo irresponsável como se conduz nas estradas, o desprezo pela segurança e pela saúde, o recurso às drogas, o sacrifício da vida pessoal e interior aos padrões de vida ditados pelas modas, muitas são as situações que nos levam a reconhecer, com o Santo Padre, estarmos diante, e dentro, de uma "cultura da morte".

Todos somos chamados a «cuidar da vida toda e da vida de todos», isto é «cuidar do outro enquanto pessoa confiada por Deus à nossa responsabilidade» (Evangelium vitae, 87).

Defendemos a vida em todas os seus momentos: os «mais simbólicos da existência como são o nascer e o morrer» (EV, 18), mas também a vida de todos os dias, «através da ajuda prestada ao faminto, ao sedento, ao estrangeiro, ao nu, ao doente, ao encarcerado...» (EV, 87).


O tema deste ano
Constatamos na nossa sociedade portuguesa o desprezo pela vida própria e alheia manifestado de muitas e variadas maneiras: nas estradas, na (in)segurança no trabalho, nos cuidados de saúde, no ambiente. Escolhemos alguns destes problemas para, nos textos contidos nesta brochura, os propor à reflexão, ao diálogo e ao compromisso de quantos escolhem defender a vida, lutando não apenas contra o aborto e a eutanásia, mas trabalhando todos os dias pela vida toda e pela vida de todos.

1. CUIDAR DA VIDA PESSOAL
A vida humana é um dom de Deus que somos chamados a cultivar com a nossa responsabilidade e criatividade, para que, em Cristo, progrida em cada dia até à plenitude.

Cultivar a vida pessoal não é um acto de egoísmo. Quanto mais fizermos crescer em nós a Vida, melhor cuidaremos dos outros.

Cuidar da vida pessoal exige uma grande sabedoria. No seio de uma sociedade que nos impõe ritmos de vida que nos dividem e dispersam interiormente, deixamos de ter vida pessoal e passamos a viver de modelos e padrões que nos despersonalizam. É necessário ser forte para não se deixar arrastar pela vida, mas VIVER a vida!

Cuidar da vida pessoal é cultivar a vida interior, feita de um olhar atento e afectuoso sobre o que se passa à nossa volta, de um olhar límpido e contemplativo sobre Deus e toda a bondade manifestada em pessoas e acontecimentos, de um olhar penetrante e crítico para discernir entre o bem e o mal que nos rodeiam.

Cuidar da vida pessoal é conviver com os outros, fazer-se próximo, em especial dos mais fracos, ser solidário, acolher e ir ao encontro, dar as mãos aos que querem o bem dos outros, com eles mudar o mundo e a vida.

Cuidar da vida pessoal é não se dispersar, mas viver de forma unificada as coisas todas de cada dia; é estar em paz com Deus, consigo mesmo, com os outros e também com a natureza; é retomar em cada dia, apesar da fragilidade e do pecado, a confiança em si mesmo e nos outros, porque o Amor de Deus permanece connosco.

Só crescendo numa família se pode começar a desenvolver o amor à vida e o apreço pela vida pessoal, a valorizar a interioridade, a ensaiar a solidariedade e a responsabilidade pelos outros.

Cabe a cada família, como comunidade de vida e de amor, ajudar cada um dos seus membros – pais e filhos – a descobrir e a viver o sentido da oração e da contemplação, a cultivar uma personalidade forte e aberta aos outros, segundo o modelo de Jesus Cristo.

2. A SAÚDE É ESSENCIAL À VIDA

A vida humana, como dom de Deus, deve ser acolhida pela pessoa humana, em toda a sua plenitude.

Fala-se hoje muito de qualidade de vida e do papel que nela cabe à saúde, à boa saúde. Sem saúde, aspiração profunda de todo o ser humano, a vida torna-se mais penosa e menos alegre.

Por isso, é responsabilidade de todos nós preservar a saúde, fazendo uma vida saudável: alimentação equilibrada e racional; descanso suficiente, reparador e oportuno; exercício físico e mental adequado e estimulante; prática moderada do desporto; vacinações atempadas e preventivas contra as epidemias; consultas e exames médicos regulares e sempre que aconselháveis; seguir à risca as recomendações médicas; vestuário e calçado sem cedências a modas, mas adequados e confortáveis; habitação condigna, espaçosa e arejada; hábitos despoluídos (nada de drogas, tabaco e álcool).

Estas preocupações com a nossa saúde física e mental (mente sã em corpo são) inserem-se na linha da mesma exigência que a todo o cristão é feita pelo próprio Cristo: «Sede perfeitos como é perfeito o vosso Pai celeste» (Mt 5, 48). Com efeito, a perfeição é um apelo a todo o Homem e ao Homem todo. Não só ao espírito, mas também ao corpo.

Por isso, em todos os cuidados que tenhamos com o nosso corpo humano, sem descurar o nosso aperfeiçoamento espiritual, estamos a dar louvor e glória a Deus, nosso Criador e Senhor.

Esta vocação para a perfeição do corpo e para a promoção da saúde, tendo como base uma atitude espiritual a desenvolver e hábitos de vida a implantar, encontra na família o melhor mais estimulante ambiente, a complementar pela escola, em ligação com os aspectos científicos e comportamentais.

3. A DEFESA DO AMBIENTE

O desenvolvimento da vida (principalmente da vida com qualidade) só é possível num ambiente saudável.

Se é certo que a política ambiental, no seu aspecto global, é definida pelos governos das nações, não é menos verdade que cada cidadão é responsável pela preservação e melhoria do ambiente dos locais que frequenta. Deverá também ter em conta que, ao desperdiçar bens comuns, está a prejudicar o seu semelhante, como acontece com os gastos excessivos de electricidade, água, alimentos, etc. – bens essenciais para toda a população.

Se o urbanismo desenfreado e nalguns casos verdadeiramente desumano não é, na maioria dos casos, da responsabilidade do cidadão comum, há factos de degradação da qualidade de vida que são da nossa responsabilidade directa, como seja, o estado deplorável em que ficam os nossos locais de lazer, matas, praias, jardins, etc., após sua utilização. Esta forma de proceder é resultado do vandalismo e falta de educação cívica quer de adultos, quer de jovens e crianças. É nas famílias, e desde muito cedo, que as crianças devem ser educadas para a protecção do ambiente e economia dos recursos naturais. Desde o "papel do rebuçado que não deve ser deitado para o chão" até às "flores do jardim que devem ser respeitadas", são muitos os actos que devem fazer parte da educação ambiental e devem ser iniciados em família e não impostos pelo governo.

No nosso quotidiano há muito pouca atenção à poupança de bens essenciais ao desenvolvimento, tal como a água ou os recursos energéticos. Se a política da eliminação dos resíduos é decisão do governo, a separação dos lixos domésticos, que permite uma reciclagem efectiva e economicamente viável, com a consequente poupança de energia, é de todos nós.

Será que quando cada um de nós desperdiça papel tem noção de que está a contribuir para a destruição inútil das florestas; e que esta destruição implica a diminuição de chuvas com a consequente desertificação, provocando a falta de água, um bem essencial e que se está a tomar escasso?

Será que quando compramos artigos em spray, certamente de utilização mais cómoda, estamos conscientes que vamos contribuir para o desequilíbrio climatérico?

É nos gestos de cada dia que se constrói a vida com qualidade. O futuro do planeta depende de cada um de nós e da educação que transmitirmos às novas gerações. É preciso abdicar do que é supérfluo, vencer o imobilismo e o comodismo para usufruir de um ambiente saudável e preservar o futuro dos nossos netos.

Deus, no final da criação, observou o que tinha feito e achou que era tudo muito bom, em especial o Homem feito à Sua imagem e semelhança, mas em breve verificou que este ser especial foi o que Lhe começou a dar mais desgostos, sendo um deles a destruição do próprio planeta em que vive.

Se cada um de nós contribuir para que o que nos rodeia seja melhor, poderemos estar certos de que estamos a contribuir para uma melhoria significativa da qualidade de vida, deixando um novo legado aqueles que vierem posteriormente.

4. A SEGURANÇA NO TRABALHO

Viver a vida com responsabilidade, em cada dia, não significa apenas ir ao médico quando algo acontece, mas significa também prevenir certos acidentes, nomeadamente os que se relacionam com o mundo do trabalho e o cumprimento das normas de segurança.

O elevado número de acidentes de trabalho em Portugal é revelador do baixo sentido de responsabilidade e respeito em relação à vida. São muitas as situações de risco que derivam das condições precárias de trabalho em que muitos operários e outros trabalhadores se encontram, o que exige o activar de uma série de procedimentos que promovam condições de trabalho saudáveis e dignas, que invistam na segurança e desenvolvam estratégias de gestão de riscos, tais como:

Formar e informar adequadamente sobre os riscos que se correm quando não se cumprem as precauções; exigir o uso de equipamento de protecção dos trabalhadores; fazer respeitar as normas de segurança; reduzir os movimentos violentos, repetitivos e as cargas excessivas; exigir sistemas de despoluição do ar nos locais de trabalho; informar sobre os procedimentos de segurança em caso de emergência; exigir regulamentação sobre o local de trabalho; aquecimento e ventilação adequadas, o uso de máscaras ou capacetes, em casos especiais; instalações sanitárias dignas; ter o equipamento electrónico necessário; vigiar para que o piso não seja escorregadio; operação de elevação de cargas; protecção dos trabalhadores contra substâncias tóxicas; a redução da poluição sonora; a redução dos níveis de stress, etc.

A responsabilidade e o respeito pela vida requerem uma maior atenção às normas de segurança e às condições em que o trabalho se realiza. A redução dos acidentes de trabalho para um nível aceitável, ou mesmo para a sua eliminação, requer a mobilização e o empenho de todos: empregados, empregadores e Estado.

Uma particular atenção deve ser dada ao clima relacional que se respira entre os trabalhadores. As tensões e os conflitos, se não são estrategicamente geridos, prejudicam a rentabilidade, abalam o sistema nervoso das pessoas, reduzem a qualidade de vida e a própria segurança no trabalho.

Educar desde o berço a viver com responsabilidade e qualidade o dom da vida, através do respeito e cumprimento das normas de segurança, do cuidado com a saúde e a precaução perante tudo o que a possa agredir, é tarefa fundamental da família.

Saber respeitar as normas de segurança e humanizar cada vez mais os espaços de trabalho é fomentar a cultura da vida, em cada acto concreto e erradicar a cultura da morte.

5. A SEGURANÇA NAS ESTRADAS

Como é do conhecimento de todos nós, vivemos no país uma realidade particularmente preocupante quanto às perdas e deficiências de vidas, resultantes de uma elevada sinistralidade rodoviária.

Os utentes das estradas somos todos nós. Por isso mesmo, cabe-nos, como cidadãos, a responsabilidade de minimizar tão grande flagelo que afecta a qualidade de vida na Comunidade Portuguesa. Quer isto dizer que temos de ser nós próprios a consciência da segurança rodoviária, com os nossos comportamentos e não delegá-la para quem tem a incumbência específica de a promover e garantir – o poder e as polícias.

Trata-se então, antes de mais, de uma questão de educação e de cidadania.

A Segurança Rodoviária e a Sinistralidade Rodoviária são hoje realidades sociais preocupantes e perturbadoras só possíveis de controlar com o empenhamento e responsabilidade de todos.

Porque estão intimamente ligadas à nossa educação, torna-se necessário haver coragem para reflectir sobre elas, levando o condutor enquanto cidadão a empenhar-se no serviço à comunidade. Perante esta, deverá assumir de modo constante e permanente um compromisso de responsabilidade social, na defesa da sua vida e na dos outros que com ele partilham o uso do automóvel, na estrada.

Também neste campo, a família é a primeira comunidade educativa em que cada um aprende a respeitar os outros, a conduzir-se a si mesmo, e a conduzir os seus actos, com responsabilidade.


Fonte Ecclesia

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