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“FÁTIMA É UMA ESCOLA PARA TODAS AS RELIGIÕES”
2002-05-13 15:30:19

O carácter universal do fenómeno de Fátima torna a diocese de Leiria-Fátima única no País. O bispo que a lidera acarinha todos os peregrinos, que mesmo vindo aos milhares, conseguem rezar sozinhos no 'altar do mundo'.

Nesta entrevista, em tempo de peregrinação , o bispo fala do Papa, da crise da Igreja Católica, dos recentes escândalos com padres e de si próprio. - Correio da Manhã - Como caracteriza a diocese de Leiria-Fátima? - D. Serafim Ferreira e Silva - É uma diocese jovem, rica, progressiva, com um suporte financeiro que dá uma certa estabilidade e tem as infra-estruturas básicas de boa saúde. Tem um clero bem formado e em formação permanente, um laicado progressivo, com boa harmonia de base. Por isso, considero que é uma diocese pequena em espaço e rica nas suas gentes. É uma diocese jovem, de boa saúde e com perspectivas de futuro, que acabou um sínodo de sete anos, que ainda está a produzir os seus frutos. - Quais são os efeitos do sínodo? - Um sínodo é uma assembleia, é uma caminhada em comum. Um dos efeitos visíveis é o centro de cultura e formação, que está activo, tem criatividade e é um belíssimo sinal de esperança. Foi também criada a comissão Justiça e Paz que espero que seja uma consciência mais sensível na sociedade onde estamos. - A assembleia sinodal criticou aspectos relacionados com Fátima... - Fátima não é um corpo estranho, é uma bênção. Faz parte do conjunto desta porção da Igreja que é a diocese, mas tem a sua autonomia, um estatuto orgânico próprio, uma dimensão supra diocesana e supra nacional. É património da sociedade. O sínodo interpelou se a chamada religiosidade popular, quase intuitiva ou instintiva de pessoas que não evoluiram tanto nesta caminhada democrático-cultural ou até pós-conciliar. Ora, o que é verdade é que é uma escola, os responsáveis do Santuário de Fátima estão atentos, numa pedagogia, num respeito, numa pluralidade, mas também numa progressividade. - Fátima é uma escola? - Sim. O Santuário de Fátima também ensina, pode ser através do Correio da Manhã ou directamente, através de um peregrino anónimo que viu e ouviu, porque Fátima é para ver e sobretudo para viver, o ouvir também ajuda. As pessoas que vão a Fátima podem ver, ouvir e contestar. - Essa abertura, mesmo para os crentes de outras religiões, é uma influência do bispo? - Eu tenho essa tendência ecuménica e este espírito muito aberto, de respeito pelas convicções dos outros. A fé é uma coisa tão preciosa que não se compra na farmácia nem no supermercado. A expressão da fé é a manifestação mais rica duma liberdade interior. Desde que vim para esta diocese apercebi-me que Fátima tem um fascínio muito grande, mesmo fora do País, noutras religiões. Além disso, tive recomendações expressas do Papa para desenvolver o mais possível o relacionamento ecuménico e inter-religioso. Quem for a Fátima não precisa de ser baptizado, de rezar o terço todos os dias, de ir à missa todos os domingos. - O Papa João Paulo II deve prosseguir o seu mandato? - É uma questão complexa e difícil. O Papa poderia convocar um Conclave - uma reunião extraordinária dos cardeais que são os eleitores -, anunciar que se elegesse o seu sucessor e cessar funções. O Papa João Paulo II teve um pontificado muito rico, tem ainda a vontade de viajar, de comunicar e desejava muito ir à Rússia, levando o celebérrimo ícone de Kazan. Mas o relógio da vida não pára. Estou em crer e querer que, mais cedo ou mais tarde, virá dizer que cumpriu o seu mandato e agora quer tempo para repousar. Quando chegaremos a isso não sei. - A sua debilidade física não estará a condicionar as suas decisões? - O Papa João Paulo II ainda não está a ser instrumentalizado, mas como não pode fazer tudo, aparecem os assessores e então ele fica ali assim… - O próximo Papa será africano? - Pode ser africano, latino-americano, asiático, europeu, marciano provavelmente não (risos). A Igreja não tem fronteiras e há surpresas. Eu penso que a universalidade da Igreja deve romper os espartilhos da Itália e da Europa para que seja cada vez mais uma Igreja universal, pluri-étnica. - Considera que há uma crise na Igreja Católica? - Crise é bom que haja, porque etimologicamente a palavra significa discernimento, sentido de observação e de mudança. Não se trata de uma crise dramática, são crises interpelativas de mudança. A Igreja já não é a instituição que preenche quase cem por cento da sociedade. Quando, há 40 ou 60 anos, tocava o sino da aldeia toda a gente ia à missa. Hoje há muitos 'sinos' a tocar, há muitos sinais, muitos ruídos. - Que papel tem hoje a Igreja Católica na sociedade? - Acho que a Igreja Católica deve ser a alma. A Igreja aparece neste mundo muito materializado e apressado como uma voz a dizer calma. É bom ter um carro, casa, saúde, acesso à educação, tudo isso é óptimo, mas não é só o estômago cheio que dá felicidade. É também a alma, a parte ética, a solidariedade com os outros, o voluntariado. A Igreja não pode divorciar-se, deve ser fermento na sociedade. - O que pensa da criação de uma nova província eclesiástica? - As províncias eclesiásticas estão no Código do Direito Canónico, ou seja, no papel, mas pouco mais. Sou a favor da revisão das províncias eclesiásticas para que haja unidades pastorais. Temos, neste momento, três, a do Norte, com sede em Braga, a do Centro, com sede em Lisboa, que inclui as ilhas e na qual está integrada a diocese de Leiria-Fátima, e a do Sul, com sede em Évora. - A ideia seria criar outra província no Centro? Já há alguma decisão? - Havia alguma vantagem que este conjunto mais harmonioso das dioceses do Centro pudesse constituir uma província eclesiástica, mas nada está decidido. Eu sou a favor, mas a criar-se nunca se tomava uma decisão sem ouvir o povo e o clero. A comissão do processo, à qual eu pertencia, apresentou o relatório mas, depois, foi extinta. A conclusão defendia uma melhor distribuição das dioceses e um melhor agrupamento. Eu próprio tenho dúvidas, mas como o bom senso não manda mudar por mudar, neste momento o processo está suspenso.

Fonte CM

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