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SORRISOS NO CAMINHO DA FÉ
2002-05-12 09:42:16

Carlos Gil tem 37 anos e uma empresa de informática em Cascais. Com esta sucinta apresentação nada faria prever que Carlos fosse um peregrino “à moda antiga”. Tal como ele, milhares de pessoas se associam às cerimónias de Fátima cuja mensagem - Não usarás em vão o nome do teu Deus - pretendem ser uma imensa oração pela paz.

Carlos faz o trajecto para Fátima por meio dos campos e em completa solidão. “Há 50 anos era assim que as pessoas faziam a sua peregrinação”, diz, acrescentado o objectivo da caminhada: “Não vou pagar favores, antes agradeço tudo de bom que a peregrinação me dá.” Busca, acima de tudo, a paz espiritual. Não faz planos para os dias que vai passar a andar nos trilhos estreitos do Caminho do Tejo, reabilitado pelo Centro Nacional de Cultura. Pode dormir no meio do campo ou em casa de alguém que lhe dê abrigo. Está aberto a todas as experiência que farão dele um homem mais rico.

A segurança não o preocupa e a provar isso uma parte do seu trajecto é feito à noite. Vai “armado” com o espírito aberto, umas botas de montanha, uma mochila (com um saco cama, um mapa e uma garrafa de água) e na mão leva um bordão com que afasta os cães assustados e onde se ampara quando se sente mais cansado. “O bordão foi comprado pelo meu pai em Vieira do Minho. É uma maneira dele me acompanhar, já que não pode vir”, diz.

Anda em média cerca de 40 quilómetros por dia, embalado pelo som das cigarras e dos pássaros. Pela primeira vez leva o telemóvel, que, porém, serve só para receber mensagens escritas. “A peregrinação é um chamamento.

Há alguma coisa que me põe a andar. Agora materializar isso não sei...”, confessa com um sorriso. Só gostava de ver mais apoio no caminho que escolheu. “Isto está muito bom, mas era importante que as pessoas dos lugares por onde passamos se envolvessem mais e nos dessem mais apoio. Para elas também era bom pois, por muito pouco que gaste, o peregrino é também um consumidor”. O mesmo pensa um grupo da paróquia lisboeta de Santa Catarina. São oito pessoas com as mais diferentes profissões - de empregados de balcão a engenheiros -, que seguem pela beira da estrada.

O barulho e o pó dos automóveis incomodam mas, dizem, por este caminho vão encontrar mais apoio e andar menos. É um grupo divertido de católicos não praticantes. Alguns receberam o baptismo já em adultos. É o caso de Alexandre Rato que foi à pia baptismal no mesmo dia dos filhos, já lá vão quatro anos.

Jorge Matos faz a peregrinação pela quarta vez, mas segundo os mandamentos da Igreja Católica pode ser considerado um “católico atípico”. Tem fé mas vive-a de maneira muito própria. “Se calhar, a Igreja tem, por vezes, exigências que as pessoas não compreendem e por isso se afastam”, explica este homem sorridente, que se apresenta como uma pessoa divertida: “Pelo menos é o que diz o meu Bilhete de Identidade. No estado civil está ‘Div’, presumo que seja a abreviatura de divertido”.

No grupo segue um peregrino muito especial: Carlos Maia, brasileiro de S. Paulo, que conheceu o grupo pela Internet. “Sabe, peregrino vira sempre uma comunidade. Já tinha feito os 800 Km do Caminho Real Francês até Santiago de Compostela; agora vou a Fátima e de lá sigo para Santiago de novo.” Esta peregrinação fica cara, mas não é caso único.

Também Gilberto, empregado de mesa na Madeira, não esconde os sacrifícios que tem de fazer para vir, pela segunda vez, a Fátima a pé. Na primeira fez a viagem para cumprir uma promessa, mas este ano foi acima de tudo pelo convívio do grupo. Ao preço da peregrinação (que conta com um carro de apoio, hotéis e restaurante, num total de 350 euros), há a somar o preço da viagem de avião. Há, no entanto, peregrinações mais baratas: Carlos Gil vai gastar 100 euros e um grupo do Estoril ainda menos, já que dorme em casas de amigos que lhe dão também refeições. As instalações dos bombeiros ao longo do percurso servem igualmente de alojamento. O retrato do peregrino deixou há muito de ser uniforme e todas as classes se fazem ao caminho com mais ou menos espírito de sacrifício.

Apesar das bolhas nos pés e das dores nas costas, são unânimes: a purificação da alma e a alegria sentida ao chegar ao recinto do Santuário é uma experiência única.

Fonte CM

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