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Desafios da Internet à Pastoral da Igreja
2002-05-12 00:11:19

Em Outubro de 1998 escrevi um texto sobre este tema que, com algumas alterações, se mantém actual e serve de base ao que é seguidamente apresentado.

O que de mais relevante neste campo se passou desde essa altura foi a banalização dos acessos à Internet e a definitiva introdução de novos hábitos de comunicação electrónica na sociedade.
As tecnologias que temos ao dispor permitem-nos criar com custos muito baixos rotinas de comunicação entre as pessoas e entre as organizações. Contudo, não vemos surgirem dinâmicas significativas na Igreja como resultado deste facto.
Para que serve a Internet?
· Para recolher informação;
· para divulgar informação;
· para criar “comunidades virtuais” - grupos de pessoas ou de organizações entre os quais se estabelece a transmissão regular de conhecimento (e não apenas de informação).
Para que serve a Internet no caso da Igreja? - Exactamente para a mesma coisa, e não mais! A fé não deve ser “publicitada” nem deve haver um esforço para “conversão dos infiéis”, desta vez através dos computadores. A atitude mais correcta e mais eficaz será também a mais humilde: a de tentar tornar a sociedade mais justa e com mais conhecimento usando as ferramentas que agora possuímos. Evangelizar é dar o exemplo, agindo bem.
Através da Internet a Igreja vai tomar contacto com um mundo novo: não a tecnologia (é apenas mais uma ferramenta), mas sim as faixas da sociedade que vivem completamente à margem da Igreja, com as quais o relacionamento não é bom nem mau, é inexistente. Este facto vai obrigar a uma abertura de espírito e a uma auto-educação por parte da Igreja para que se torne possível um crescimento da qualidade da sociedade através do confronto civilizado de ideias e de estilos de vida.
Mas faltam projectos, faltam equipas que os iniciem e mantenham, falta quem avalie objectivamente os resultados produzidos. Ao contrário do que é habitual, neste caso o bem mais escasso não é o dinheiro… O ponto mais crítico é saber o que fazer e como o fazer de forma eficiente: as ferramentas são novas, os métodos de trabalho diferentes. E as hierarquias velhas de espírito...
Muito há a aprender, mas tenho a forte convicção de que seriam alcançados resultados bem visíveis com o desenrolar de um conjunto de pequenos projectos de que aqui dou exemplos.
1. Solidariedade social de âmbito local - “bolsa” de problemas concretos para resolução a nível paroquial, via Internet (basta um “site” WWW e correio electrónico).
2. Horário das missas e comentários às leituras dominicais na Internet.
3. Fórum público de âmbito nacional estruturado por uma equipa qualificada de moderadores e coordenado com outros meios como a rádio ou a imprensa escrita.
4. “Intranets” diocesanas - criação de rotinas de comunicação entre o Paço Episcopal, as paróquias e outras entidades pertencentes a uma diocese para fins pastorais e administrativos.
5. Catequese via Internet - cursos de formação e apoio na rede a catequistas (Bíblia comentada em português na Internet, também?).
Os projectos anteriores não são centrados nas redes de computadores - limitam-se a considerá-las como ferramentas a que recorre uma comunidade virtual. O desafio mais complexo está habitualmente na gestão do “trânsito de conhecimento” dentro dessa comunidade e não no domínio da tecnologia. É fundamental definir claramente os seguintes pontos antes de avançar para a concretização:
· quais os objectivos a atingir e respectiva calendarização;
· qual o orçamento e quem são os financiadores;
· qual a equipa e qual a sua organização interna;
· quem vai avaliar os resultados e que métodos utilizará para esse efeito.
Como princípio geral aconselho o recurso a trabalho profissional (por oposição a voluntário) para a execução das tarefas fundamentais de cada projecto. O trabalho voluntário pode e deve ser aproveitado desde que a solidez de uma equipa não seja posta em causa pelos imponderáveis que frequentemente surgem nestes casos. A um profissional pago pode exigir-se assiduidade, dedicação e competência; a um voluntário apenas se agradece a colaboração, tantas vezes insubstituível.
Tenho esperança de que a Igreja portuguesa aproveite as condições que agora tem para transformar em obra as ideias que vão surgindo. Ultrapassem-se os receios sobre os supostos “excessos de democracia” que a Internet proporciona. Distinga-se a boa-vontade utópica (e até irresponsável!) do profissionalismo voluntarista. Exija-se qualidade mas dê-se liberdade. Esqueçam-se as rivalidades Porto/Lisboa ou Litoral/Interior – Portugal é demasiado pequeno para se perder tempo com bairrismos estéreis e devemos até aliar-nos a outros países lusófonos. E, finalmente, perceba-se que a Internet só por si não resolve nada, mas ajuda a promover aquilo que por outros meios seria muito mais lento de conseguir.

De que aproveitará, irmãos, a alguém dizer que tem fé se não tiver obras ? (...)
Assim como o corpo sem alma é morto,
assim também a fé sem obras é morta.
Tgo 2, 14+26

Tiago Azevedo Fernandes
taf@etc.pt


Fonte Ecclesia

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