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SENHORA DA SAÚDE SAI À RUA
2002-05-04 10:04:59

Lisboa volta a honrar a Senhora da Saúde. A imagem da santa sai hoje à noite à rua para a tradicional procissão das velas, mas é amanhã à tarde, na Mouraria, que tem lugar o momento mais alto deste culto, com um cortejo onde marcam presença milhares de pessoas, numa manifestação de fé e devoção que tem origem no século XVI.

Pela manhã (11h00) tem lugar uma missa campal no Largo do Martim Moniz. Nesta procissão, que tem o seu início na Capela de Nossa Senhora da Saúde e de S. Sebastião, no Martim Moniz, participam várias entidades religiosas, autarcas, militares de todos os ramos das Forças Armadas e elementos das forças de segurança, parte dos quais a cavalo, bandas militares, policiais e dos bombeiros e escuteiros. Profissionais da Saúde, nomeadamente enfermeiras, também marcam presença naquela que muitos consideram a mais antiga e concorrida procissão de Lisboa.

Manto e coroa

Manda a tradição que a imagem da santa seja adornada com um manto (a Senhora tem mais de vinte mantos, qual deles o mais valioso). Este ano, a Senhora da Saúde sai à rua com um manto de cetim e seda, debruado a ouro e pérolas, dádiva de uma fiel. Manda também a tradição que a Senhora seja coroada, missão que, antigamente, estava a cargo das rainhas, e agora é da responsabilidade da primeira-dama, neste caso Maria José Ritta, que costuma participar na procissão. Noutros tempos, a investidura da imagem, que culminava com a imposição da coroa, era uma cerimónia íntima, reservada apenas a mulheres (da Real Irmandade de Nossa Senhora da Saúde e de S. Sebastião). Hoje, a cerimónia de colocar o manto na Senhora ainda é efectuada à porta fechada, mas a imposição da coroa já pode ser presenciada. Alvo de grande devoção, a Senhora da Saúde tem recebido, por parte dos fiéis, inúmeras ofertas, nomeadamente mantos avaliados em milhares de contos. O mais rico (gorgorão cor de cereja, bordado a ouro), foi, ao que se supõe, usado (e posteriormente doado) pela rainha D. Mariana de Áustria no dia do seu casamento com D. João V (1708). A veneração a Nossa Senhora da Saúde tem origem no século XVI, quando a peste assolou, várias vezes, Portugal. Numa dessas epidemias, logo no princípio do século, a classe militar foi particularmente atingida, pelo que os artilheiros invocaram o auxílio de S. Sebastião, tido como, protector contra a peste, fome e a guerra. À data, os artilheiros da Corte, instalados no Castelo de S. Jorge, em Lisboa, agradeceram ao seu santo protector por os ter poupado e constituíram a Irmandade de S. Sebastião, tendo também edificado, segundo alguns cronistas, a actual ermida, junto do postigo da Mouraria.

Peste mortífera

Mais tarde, em 1569, a peste grande provocou uma enorme mortandade em Lisboa: morreram 50 a 60 mil pessoas, numa população de 120 mil almas. Segundo os cronistas, registavam-se por dia mais de 600 funerais. A epidemia era de tal ordem que, como havia falta de gente para enterrar os mortos, foi necessário libertar os presos para esta missão. El-Rei D. Sebastião e parte da corte refugiaram-se em Sintra e a Rainha D. Catarina, sua avó, foi para Alenquer. Em pânico, o povo e a nobreza de Lisboa invocaram em seu auxílio a Mãe do Céu. E como foram atendidos nas suas preces mandaram, em prova de gratidão, fazer uma imagem da Virgem, que foi benzida com o nome de Nossa Senhora da Saúde. A imagem ficou então exposta à veneração pública na ermida do Colégio de Jesus dos Meninos Órfãos, onde se conservou e saiu sempre em procissão, com a respectica irmandade, até ao ano de 1662, recolhendo nessa data, por acordo com os artilheiros, à sua capela actual. As duas irmandades reuniram-se então numa única, com o título de Real Irmandade de Nossa Senhora da Saúde e de S. Sebastião.

Primeiro cortejo

Foi em 20 de Abril de 1570 que teve lugar a primeira procissão em honra de Nossa Senhora da Saúde. O cortejo começou por se dirigir à Sé, onde se cantou o "Te Deum Laudamus", seguindo depois pelas principais ruas da cidade até à Igreja de S. Domingos, onde se celebrou missa. A procissão da Senhora da Saúde decorreu, sem interrupções, durante 341 anos - desde 1570 até 1910, sempre com grande pompa religiosa e militar e com um carácter eminentemente popular. Com a implantação da República seguiu-se um interregno que perdurou até 21 de Abril de 1940, quando se reatou esta antiga manifestação de fé e de religiosidade dos lisboetas. A procissão de velas volta hoje à rua e vai seguir o seguinte trajecto: Igreja, R. Senhora da Saúde, R. Fernandes da Fonseca, R. dos Cavaleiros, R. Marquês de Ponte do Lima, Lg. da Rosa, R. das Farinhas, Rua de S. Cristóvão, R. do Regedor, Lg. Adelino Amaro da Costa, R. da Madalena, Poço do Borratém, R. do Arco do Marquês do Alegrete, Lg. Martim Moniz e Igreja. O cortejo de amanhã inicia-se no Lg. Martim Moniz e segue pela R. Fernandes da Fonseca, R. do Bemformoso, Lg. do Intendente Pina Manique, Travessa do Cidadão Gonçalves, Av. Almirante Reis, R. da Palma, Lg. Martim Moniz, Praça da Figueira (lado Oriental), R. Condes de Monsanto, Poço do Borratém, R. do Arco do Marquês do Alegrete, Lg. Martim Moniz e Igreja.

Fonte CM

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