paroquias.org
 

Notícias






Uma proposta pastoral a partir da prática dominical
2002-04-03 22:02:36

Partindo da consciência teológica e pastoral da centralidade da Eucaristia no viver da Igreja, ninguém estranha que se faça da prática dominical um dos critérios da solidez e lucidez da Fé e da firmeza e coerência do testemunho cristão dos católicos.


Assim, em Portugal, é esta já a terceira vez que se realiza um recenseamento da prática dominical (1977 – 1991 – 2001), permitindo-nos obter alguns indicadores da assiduidade dos católicos das nossas dioceses à Eucaristia dominical e à Comunhão, compreender comparativamente as alterações e as diferenças sentidas nestas três épocas e aferir mais objectivamente outros dados, como sejam a idade dos participantes ou a diversidade da prática dominical por Dioceses, Paróquias, Zonas ou Regiões do País.
A Diocese de Lamego insere-se na globalidade das Dioceses do Norte de Portugal que vêem diminuir a percentagem de presença na Eucaristia e aumentar a percentagem de Comunhões em relação às presenças na Eucaristia.
Enquanto em 1977 tínhamos 44,6 % de participantes na Eucaristia, em 1991 só 41,2 % e em 2001 apenas 37,1 % da população diocesana participaram na Eucaristia dominical.
Em sentido contrário vemos aumentar a percentagem de Comunhões em relação às presenças na Eucaristia que era de 19,1 % em 1977, de 43,8 % em 1991 e de 46,6 % em 2001, sendo de relevar a duplicação sentida entre os dois primeiros recenseamentos que não deixa de ser um indicador a exigir aprofundada análise da mudança social e da vida eclesial e acção pastoral diocesana nestes últimos vinte e cinco anos.
Próxima de todos as Dioceses do interior do País, sem litoral e sem grandes indústrias e em paralelo com todas as zonas rurais a braços com o permanente fluxo migratório, a Diocese de Lamego viu nestas três décadas a sua população reduzir em número e envelhecer em idade.
Não se sentiram, porém, grandes diferenças entre o todo diocesano e o que aconteceu nos diversos arciprestados e nas diferentes paróquias. Atendendo a que, sociologicamente, não há uma grande diferenciação na textura social diocesana, que é eminentemente rural, dado que apenas existem na Diocese duas cidades de pequena dimensão, sente-se uma certa homogeneidade diocesana, apenas alterada por algumas raras diferenças de índole muito circunstancial.
Refira-se, ainda, que nem sempre tem sido fácil o estabelecer da percentagem da participação na Eucaristia em relação com a população local na medida em que apenas em 1991 e em 2001 houve coincidência com os Censos da População a nível nacional, o que não acontecera em 1977. Por outro lado, a população da Diocese de Lamego manifesta uma nítida variabilidade ao ritmo das diferentes épocas do ano, mercê dos circuitos constantes da emigração temporária e sazonal que faz deslocar, em permanência muitos dos habituais residentes na área diocesana para o estrangeiro ou para diferentes zonas do nosso país. Acresce ainda a dificuldade quando os Arciprestados não coincidem com os Concelhos como acontece em Castro Daire, Cinfães, Vila Nova de Foz Côa e Vila Nova de Paiva.
Mais do que pretextos de alguma pretensa justificação dos números, estes por si só explicam-nos que somos uma Diocese que deve compreender as mudanças sociais, culturais e religiosas que aqui se operam e entender as exigências e implicações pastorais que daqui advêm. Não se pode aceitar a diminuição da prática dominical como um fatalismo ou uma tendência de irreversibilidade como se de uma constante sociológica se tratasse. Sabemos que a fronteira entre o rural e o urbano se esbateu e com isso já chegou às nossas aldeias o confronto imperativo entre a vivência do Domingo como Dia do Senhor e a ocupação densa e o aproveitamento lúdico do Domingo como tempo de lazer, de desporto e de passeio ou como romagem insaciável e obrigatória aos grandes Centros de Consumo.
Mas sabemos, também, que a nova evangelização passa necessariamente pela valorização do Domingo como Dia do Senhor e para o Senhor, porque só assim será Dia do Homem e para o Homem, Dia da Família e para a Família, Dia da Comunidade e para a Comunidade. Urge por isso semear no coração crente dos cristãos o sentido do Domingo e a centralidade da Eucaristia.
Mais do que fazer da participação na Eucaristia do Domingo uma prática religiosa ou uma instituição social importa que seja uma convicção pessoal, consciente de que o testemunho de uns é incentivo ao crer de outros. E assim se constrói Igreja reunida à volta do Altar para celebrar e viver a Eucaristia, centro e vértice da Liturgia.
Conhecidos que sejam os dados oficiais dos Censos da População de 2001, a Diocese de Lamego propõe-se fazer um estudo aprofundado e comparativo do Recenseamento da Prática Dominical e a sua variabilidade a nível de sexo e idade dos participantes sem nunca esquecer um outro elemento que se refere ao número de Celebrações e aos lugares de culto. Algumas das nossas Eucaristias dominicais não têm 50 participantes, sendo a média de participação por Eucaristia celebrada pouco superior a 100 pessoas. Também aqui é forçoso repensar a nossa acção e a nossa missão, o Domingo dos Sacerdotes e o seu ministério de serviço no meio do Povo de Deus disperso por pequenas e desertificadas aldeias do Douro e da Serra.
Iniciativas várias, também neste campo, revelam-nos para lá do sentido que o Espírito de Deus e Alma da Igreja dá ao Seu Povo e àqueles que o servem, uma imensa criatividade pastoral por parte de sacerdotes e leigos que querem fazer do Domingo verdadeira Escola da Páscoa onde se aprende, vive, celebra, professa e testemunha a nossa alegria de sermos discípulos de Jesus Cristo à maneira dos Apóstolos.

Mons. António Francisco
Diocese de Lamego


Fonte Ecclesia

voltar

Enviar a um amigo

Imprimir notícia