paroquias.org
 

Notícias






Paróquia expõe memória
2002-03-31 19:59:17

Os bens culturais de carácter religioso excedem em muito a esfera do estrito confessionalismo, possuindo também uma marcada dimensão colectiva. Por isso a paróquia de Carcavelos vai mostrar o seu espólio de arte sacra, contando histórias de fé e de cultura vividas numa comunidade cristã ao longo de séculos.


A exposição abre hoje, dia de Páscoa, festa cristã da ressurreição, mantendo-se durante treze dias aberta ao público na igreja paroquial. Ali vão "ressuscitar" peças de ouriversaria e de paramentaria desde há muito remetidas ao sepulcro do pó. São alfaias litúrgicas, entre custódias, cálices, vestes, etc., que assistiram ao nascer da paróquia, no séc. XVII, e que acompanharam o crescimento da população envolvente.

Dois princípios presidem à inicitiva. Por um lado, a convicção de que o património da Igreja é aquele que a comunidade eclesial ou a colectividade civil cristã quis colocar ao serviço de funções eclesiásticas. Por outro lado, a certeza de que a valência catequética que o fez surgir mantem-se tão actual quanto o seu valor artístico.

Neste sentido, pretende-se uma exposição com carácter não só cultural, contemplando-se a idiossincrasia, mas também didáctico, como explicou ao DN Sandra Costa, a responsável pela montagem do certame. Assim, todas as peças estarão devidamente legendadas, referindo o nome e a especificidade do seu uso litúrgico. Pretende-se também mostrar à comunidade que o seu património está a ser preservado. Faz parte da história, mas não está escondido. E tal como foi a Igreja a criá-lo, tem de ser ela a protegê-lo e a mantê-lo no seio da população que o motivou.

Sandra Costa é uma jovem licenciada em Artes Decorativas e está a frequentar um mestrado em História da Arte. Fazendo uso dos seus conhecimentos académicos, é a responsável pela inventariação de todo o património móvel da paróquia. Fá-lo em regime de voluntariado e convicta de que a inventariação é a melhor forma de defender a memória da comunidade. O seu trabalho é realizado de acordo com os critérios científicos normais, catalogando cada peça com todos os pormenores que a carateriza. Depois da actual exposição seguir-se-á outra com um carácter mais histórico-cultural, devendo todos os materiais estar acompanhados da respectiva ficha técnica, informou.

Inventariar é também a melhor forma de se evitar as tentações dos "amigos do alheio". Segundo Sandra Costa, uma peça devidamente catalogada dificilmente têm êxito no "mercado negro". E, neste aspecto, a paróquia de Carcavelos é um exemplo para outras comunidades cristãs do país. De facto, se a Igreja não tomar precauções há o perigo de, a curto prazo, existirem museus eclesiásticos carregados de réplicas, porque, entretanto, os originais foram roubados. Naquela paróquia, a inventariação é feita por pessoas especializadas, embora voluntárias, o que também significa que já começa a desaparecer o amadorismo com que o património histórico-religioso geralmente é tratado.

Assim, mais do que uma exposição, a iniciativa da comunidade de Carcavelos ilustra, sobretudo, uma feliz mudança de mentalidade no seio da Igreja Católica.

Fonte DN

voltar

Enviar a um amigo

Imprimir notícia