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À PROCURA DA PALAVRA:
2002-03-28 22:37:11

“Não sabeis que um pouco de fermento leveda toda a massa?.”
1 Cor 5, 6b

A pequenina luz

É Jorge de Sena que tem um poema sobre uma “pequenina luz” que, teimosamente, brilha! Apesar dos ventos, da brisa do mar e dos “sopros azedos”, brilha! E, nestes dias de primavera, em que o céu azul assiste ao “namoro” do sol com a lua (a mesma lua que iluminou a passagem do mar pelos israelitas e também ainda beijava a madrugada em que Madalena vai ao sepulcro), creio mais fortemente na luz das nossas frágeis velas da vigília pascal.


Porque elas representam as nossas vidas de procura, de dúvida, de esperança, de caminhos perdidos e reencontrados, de quem não desiste de se deixar iluminar e de arder no fogo de Cristo!
De tanto olharmos para o que está mal, de tanto reconhecermos a imperfeição humana e os telejornais “abrirem” a contar as desgraças, temo que o nosso olhar se torne azedo. Na contabilidade da história humana, o saldo não nos favorece muito. O peso do mal que se esconde nos nossos corações parece ganhar, quando contamos os sofrimentos que poderíamos evitar. Até parecem insignificantes os gestos luminosos. Como as velas acesas da noite de Páscoa parecem minúsculas na grandeza das trevas! Mas brilham! Aqui, ao pé de nós! Porque a morte até parece vencer, mas está a ser progressivamente vencida. E são as pequeninas luzes o suficiente para ver o caminho. A luz forte demais, também cega!
Habitados por este dinamismo de morte e mais vida, de trevas e “mais luz” (como dizia Goethe ao morrer), de perda e maior encontro, não nos podemos instalar como cristãos e como Igreja. O fogo, a palavra, a água, o pão e vinho da noite pascal comunicam-nos a vida sempre nova de Cristo. Conhecê-lO, escutá-lO, amá-lO, partilhá-lO é tarefa sempre incompleta. Habitamos a margem intranquila de um rio que não seca. Foi-nos dado um fogo que não se apaga e tem ânsia de comunicar-se aos corações gelados pelo medo e pela culpa. Escutamos uma palavra que tem a força das sementes quando caiem na terra. Conhecemos um pão e um vinho que matam a fome a sede de amar em verdade.
O que a Páscoa de Jesus faz em nós e no mundo, não o podemos medir em estatísticas ou contabilidades. É a força da primavera que vence o gelo do inverno, a ousadia da “pequenina luz” que não se intimida com a profunda escuridão. Somos daqueles que a trazemos acesa nos olhos, nos lábios e nas mãos? “Não na distância. Aqui / no meio de nós. / Brilha.”

Pe. Vitor Gonçalves


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