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IGREJA QUER MENOS FUTEBOL AO DOMINGO
2002-03-16 21:34:35

O presidente da Comissão Episcopal da Família, D. António Monteiro, bispo de Viseu, considera que a marcação de jogos de futebol ao domingo deveria ser "doseada" por forma a que esse dia seja de "encontro familiar, diálogo e lazer e não de stress e desgostos".

O prelado sugere que poderia haver domingos sem futebol e até dá uma sugestão: "Era bom que os jogos pudessem ser ao sábado. Este domingo, por exemplo, há eleições e não se realizam jogos". Confrontado com esta posição do presidente da Comissão Episcopal da Família, o director-executivo da Liga de Futebol, Guilherme Aguiar, diz que "já se realizam muitos jogos noutros dias que não ao domingo. O futebol é perfeitamente compatível com o espírito da família. É um espectáculo e motivo de diversão para toda a família. Não vejo necessidade de se alterar o actual quadro". Segundo este dirigente desportivo, a realização de jogos ao domingo não interfere nas cerimónias religiosas nem é responsável por um menor número de fiéis nas missas. "As missas são de manhã, e os jogos desenrolam-se à tarde. Quanto muito, pode interferir com as missas das 19h00. Mas enquanto um jogo se realiza apenas uma única vez, as missas têm lugar durante todo o dia. Os fiéis podem conciliar a ida à missa e ao estádio", afirma. Ao propor que a jornada futebolística deixe de vez em quando os domingos livres, D. António Monteiro entende que "o futebol não devia absorver todos os domingos a atenção dos homens e mulheres, pois muitas vezes a família faz planos para esse dia tendo como base e acontecimento a não perder o jogo".

Descanso e reflexão

D. António Monteiro, que se confessa adepto "moderado e não fanático" do desporto-rei (modalidade que praticou enquanto jovem), diz ainda que o domingo é, por si só, um dia especial, de recolhimento, descanso e reflexão. Mas o que se vê, sublinha, "são pessoas a gritar num campo de futebol, um local onde ficam com stress e sofrem muitas desilusões". Depois, e se o seu clube perde, continua o prelado, "chegam a casa chateados e não olham a outras coisas importantes. A família, nesses casos, passa para segundo plano". Em primeiro plano, infelizmente, e segundo o prelado, continua a linguagem utilizada pelos intervenientes do espectáculo, jogadores e espectadores. "O desporto serve para descontrair e não para perder a cabeça. Conheço um árbitro que anda a coleccionar os nomes que lhe chamam...deve ser o homem mais apelidado do mundo!", conta D. António Monteiro. D. Gilberto dos Reis, bispo de Setúbal, também entende que, se fosse possível, seria bom que os jogos se realizassem noutros dias que não ao domingo, pois assim haveria mais tempo livre para a família. Mas não é o futebol aos domingos que divide as famílias, remata o prelado: "Há famílias que vão ao futebol e conseguem encontrar-se; e outras que, sem o futebol, não se encontram". E na recarga, surge outro comentário: "Há famílias que têm o espírito da comunhão, tudo serve para se encontrarem, até o futebol. Mas não é pelo facto das pessoas estarem juntas que se desenvolve o espírito de família... Hoje, há um individualismo muito grande". Da mesma forma, o vigário-geral da Diocese de Leiria-Fátima, padre Jorge Guarda, considera que tem de haver um "equilíbrio" entre a prática desportiva ao domingo e a forma como este dia é vivido pelos católicos. "Tudo depende da maneira como as pessoas orientam a sua vida e como vivem o domingo", disse ao CM o vigário-geral da Diocese de Leiria- -Fátima, manifestando, contudo, a sua discordância com uma eventual proibição de realização de jogos ao domingo. Na perspectiva do prelado, será pior estarem abertos centros comerciais e outros estabelecimentos que apelam mais ao consumismo e a valores menos elevados.

Ideia contestada

O desejo manifestado pelo presidente da Comissão Episcopal da Família não é, contudo, consensual. "O futebol é compatível com os domingos. Mas o mais importante é que se criassem melhores condições nos estádios - mais segurança e bilhetes mais baratos" - para que as famílias pudessem ir ao futebol", diz o padre David Barreirinhas, que tem a particularidade de prestar apoio espiritual à equipa da União de Leiria. E nas suas deslocações com a equipa da União de Leiria, o padre Barreirinhas tem visto (e ouvido) muita coisa do mundo do futebol. "Fico chocado com a linguagem, é algo de indescritível. E convenhamos que se a cultura do insulto se mantiver é muito difíicl uma família ir ao futebol", adianta.

Mulher fica na cozinha

Quem também diz de sua justiça sobre esta matéria é o padre José Maia, presidente da União das Instituições Particulares de Solidariedade Social. "Antigamente dizia-se que não havia sábado sem sol, domingo sem missa e segunda-feira sem preguiça. Agora, pode dizer-se que não há domingo sem futebol... E não é pelo facto de não se realizarem jogos ao domingo que haveria mais tempo para a família. O futebol serve para descarregar energias, funciona como um escape", relatou o padre Maia ao Correio da Manhã. "Preocupa-me mais ver o homem em casa, a ver televisão, e a mulher na cozinha", sublinha. Para o bispo de Vila Real, D. Joaquim Gonçalves, "os jogos de futebol que se realizam ao domingo não perturbam excessivamente a vida da família nem a prática religiosa porque os fiéis têm sempre liberdade de optar".

Fonte CM

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