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Católicos divididos favorecem o "Sim"
2002-03-04 17:55:11

A pouco mais de 48 horas da abertura das urnas, os partidários do "Não" sentiram um novo fôlego na campanha. E a ajuda veio de onde menos se esperava, a Igreja Católica, que apoia implicitamente o voto no "Sim".


A dúbia declaração de voto de Dana Rosemary Scallon, uma importante voz dos políticos conservadores, está a criar uma brecha na aliança que suporta a orientação de voto defendida pelo Governo. Esta divisão foi duramente criticada pelo cardeal Cahal Daly, por colocar em causa a hipótese da vitória do "Sim".

A disputa entre Daly e Scallon adquire mais importância por o "Sim" estar a descolar nas sondagens. Além disso, é hora de mostrar que a aliança está unida, dispensando-se as vozes que confirmam a falta de consenso nos católicos. A aprovação do projecto-lei proposto pelo Executivo de Bertie Ahern corre agora mais risco de não passar na quarta-feira e, por isso, o cardeal Daly resolveu pressionar Dana Scallon para que esclareça em definitivo a sua posição, o que esta recusa fazer.

Numa carta, ontem parcialmente revelada, o cardeal afirmava que os termos do referendo eram "imperfeitos", mas solicitava que a referida política tomasse em conta o comunicado dos bispos irlandeses que apoiavam a 25ª; Emenda à Constituição.

Apesar de ontem ter sido lida uma carta pastoral a apoiar o "Sim" nas igrejas irlandesas, a hierarquia da Igreja Católica não se opõe publicamente a que os fiéis optem pelo "Não". Esta situação foi clarificada durante a semana pelo enviado do Papa à Irlanda, o arcebispo Guiseppe Lazzarotto, mas tal "liberdade" de voto desagradou ao cardeal Desmond Connell que veio a público criticar os "desencaminhados".

Entretanto, numa das mais movimentadas ruas de Dublin, a Grafton Street, o apelo ao voto mantinha-se. Elementos das duas facções ocupavam espaços na avenida e esclareciam os irlandeses.

Foi um domingo sem descanso para os partidários de ambos os lados na tentativa de "seduzir" o eleitorado confuso. Logo ali ao lado, no Temple Bar - o bairro onde a diversão é que mais manda - um grupo de "celebridades" televisivas, do teatro, literatura, música e outras artes, reunia-se para declarar o apoio pessoal ao "Não". Durante duas horas, as "estrelas" e a élite cultural conviveram - sob o olhar das câmaras de TV que à noite mostraram os discursos apaixonados - e defenderam uma oposição consciente à proposta a referendar.

Mary Coughlan fez a síntese do evento ao referir que "quem manda no meu corpo sou eu", enquanto o escritor Frank McGuinness arrancou os maiores aplausos ao recusar-se a discursar mais do que duas palavras: "Estou insano". Uma resposta a acusações feitas aos que desejam a legalização do aborto na Irlanda.

Mas o anfitrião do evento "Artistas dizem "Não", realizado no Centro Irlandês de Cinema, foi o poeta Theo Dorgan. Um apaixonado de Portugal, que conhece bem Lisboa e Nazaré. Dorgan confessou ao DN que sempre que nos visita senta-se horas na Brasileira do Chiado, após ter saudado o poeta Fernando Pessoa.

O irlandês diz que Pessoa o fascina, por explicar bem a forma de ser dos seus conterrâneos: "Gostamos de ter várias personalidades". Para Dorgan Portugal e a Irlanda não são muito diferentes e lamenta que "não tenhamos aprendido alguma coisa com a revolução do 25 de Abril". Compara a colonização portuguesa com a britânica e francesa e acusa as duas últimas de terem martirizado os países que dominaram.

"A maioria dos políticos ainda não ultrapassou a realidade dos anos 50. Por isso promovem referendos absurdos como este", diz. Acrescentando: "O "Sim" ou "Não" é colocar os irlandeses na mesma situação em que ficaria um português se lhe perguntassem quem preferia que ganhasse um jogo de futebol entre o Borússia de Dortmund ou o Manchester United? É assunto que não vos preocupa, porque para aos portugueses o que interessa é o Benfica!"

Fonte DN

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